NOTÍCIA
A interação do aluno com toda comunidade escolar está presente no olhar de Deigles Amaro, do Instituto Rodrigo Mendes, e Luciana Winck Correa, vice-diretora de um colégio em Brasília. Confira a experiência das duas
Publicado em 23/04/2024
Joana* foi contratada como auxiliar de apoio à inclusão escolar e recebeu como instrução da diretora que deveria cuidar do Mateus. Por alguns meses, andaram Mateus e Joana, Joana e Mateus por toda a escola. O menino sempre bem cuidado. Mas sempre só os dois.
Parece familiar esse caso? Pois, infelizmente, é uma situação bastante comum e pode ter acontecido em quase qualquer escola do Brasil. Porém, não precisa ser assim. No caso do Mateus, foi a Joana quem passou a se questionar: seu cargo tinha expresso apoio à inclusão, mas que inclusão escolar era aquela tão isolada? Joana estudou, conversou, negociou e, hoje, andam juntos Mateus, Joana e todo mundo da escola.
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Deigles Amaro e Luciana Winck estarão ao lado de Liliane Garcez, coordenadora do Sistema de Educação Inclusiva do MEC, no congresso da Bett Bett deste ano, no painel Educação inclusiva: desafios, direitos e deveres. A discussão será hoje, 23, das 11h às 12h, no Fórum de Gestores.
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O caso foi relatado por Deigles Amaro, que deu formação à Joana. Deigles é especialista em gestão educacional do Instituto Rodrigo Mendes e, desde 1995, trabalha com inclusão. Segundo ela, o isolamento do estudante com deficiência deve-se em grande parte a barreiras das atitudes das pessoas, e não à deficiência em si.
“É primordial que o aluno com deficiência se relacione com todos. Quando há um auxiliar, deve ser para favorecer a interação, levar ao desenvolvimento da autonomia. Ele não substitui a ação do professor”, esclarece Deigles, do Instituto Rodrigo Mendes.
O papel da escola, por meio de seus professores, auxiliares, gestores e diretores, é eliminar — ou ao menos minimizar — as barreiras que afastam estudantes do seu direito a uma educação de qualidade. Educação inclusiva é oferecer condições de acesso e permanência a todos, enfatiza Deigles.
Para isso, é preciso ter coragem de olhar para a realidade, reconhecer os empecilhos e achar meios para tirá-los do caminho. Pode ser algo como uma escada que impede o acesso de um cadeirante a laboratórios, ou uma cultura de isolamento de quem é diferente.
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O país tem percorrido um longo trajeto na construção de escolas mais inclusivas e já há base legal para promover uma educação inclusiva. “Em termos de políticas, o país tem um arcabouço legal bem robusto. Mas algumas políticas não foram compreendidas; ainda falta uma apropriação do que é o sistema inclusivo, faltar destinar tempo, espaço e recursos. Precisa de investimento financeiro e em formação,” destaca.
Um dos grandes desafios que se apresenta à escola é a absoluta falta de receitas para fazer bem a inclusão. Cada caso precisa ser avaliado na sua particularidade. “A gente precisa rediscutir a própria estrutura da escola, as formas de organização. Num sistema muito padronizado, que restringe as diferenças, quem foge do padrão fica de fora”, afirma a especialista do Instituto Rodrigo Mendes.
Estratégias diversas não dizem respeito apenas a quem precisa de adaptações, mas a todos os estudantes, que são um grupo de pessoas diverso. “Se tem uma aula que só se pauta em recursos visuais, pessoas que não enxergam têm um desafio. Mas a homogeneidade é ruim para os demais também. Todos nós ganhamos mais possibilidades de construir conhecimentos se houver diversidade de formas e estratégias dos professores”, afirma Deigles.
Para Luciana Winck Correa, vice-diretora educacional do Colégio Marista João Paulo II, em Brasília, outro problema da escola atual é sua extrema fragmentação, com cada um desenvolvendo a parte que lhes compete do trabalho, sem uma visão global. “Na minha visão de gestora, a educação para todos tem a ver com a relação de todos na escola, com um olhar de coletividade aprofundado.”
Na sua experiência, os professores acabam se assustando com a necessidade de manejo de comportamentos e com o ‘fantasma’ da adaptação curricular. Mas é importante mostrar que o professor não está sozinho: todos são responsáveis.
A escola, diz ela, é mais complexa que uma engrenagem, em que cada pecinha pode se restringir a fazer bem uma função específica. “Mas do jeito que se apresenta hoje, a escola não tem possibilitado a inclusão — e quando digo inclusão, me refiro a toda e qualquer diversidade”, explica.
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Segundo Luciana, a Rede Marista tem trabalhado de forma sistemática para melhorar as práticas inclusivas. “Ainda estamos longe de um mundo ideal, mas nossa rede vem escrevendo, produzindo e pensando sobre o tema”, conta a vice-diretora. Nas escolas do grupo, de 15% a 20% dos estudantes precisam de alguma adaptação, seja de material, tempos ou manejo comportamental.
“Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as demais pessoas.”
Artigo 1 da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (2006). Ratificada com valor de emenda constitucional pelo decreto Nº 6.949, de 25 de agosto de 2009.
*A história é real, apenas os nomes Joana e Mateus foram alterados.
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Bett Brasil
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