ARTIGO
Publicado em 08/09/2021
Por Inês Kisil Miskalo*: Li certa vez a seguinte frase: “ler é caminhar no pensamento do outro”. Uma forma simples para expressar o quanto a leitura pode influenciar e promover pensamentos e atitudes. Como contraponto, proponho: escrever é conduzir o pensamento de outros, responsabilidade do escritor, que não sabe exatamente quem será seu leitor e nem o que ele fará a partir da leitura, mas certamente definirá o seu próprio caminhar a partir dela.
Dominar o Sistema de Escrita Alfabética e os conceitos básicos da matemática, ainda nos primeiros anos escolares, são verdadeiros passaportes para o universo da cidadania defendido pela Constituição de 1988, e enfatizado na Lei de Diretrizes e Bases (1996) e na Base Nacional Comum Curricular (2017).
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Embora tais habilidades sejam muito importantes para a sociedade e para o indivíduo, por que esse tema é tão recorrente no Brasil, mesmo tendo sido objeto de governo em praticamente todas as esferas da federação?
Penso que a resposta esteja nos próprios planejamentos das propostas que pecam. Primeiro, por entenderem que há um caminho único a ser trilhado; segundo, por carecerem de monitoramento sistemático ao longo de seu processo; e terceiro, por muitas vezes não durarem mais do que um mandato e serem pouco avaliadas.
Territórios, comunidades e alunos são diferentes, portanto, não dá para apostar numa única alternativa; daí a importância de agregar à formação dos professores os avanços, por exemplo, da neurociência, o conhecimento de métodos, no plural, e a perspectiva da integralidade do aluno e das áreas do conhecimento.
Sendo assim, o monitoramento, com a explicitação dos indicadores de sucesso e respectivas metas, permite a rápida identificação das dificuldades e elaboração do plano de trabalho para sua superação.
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Ou seja, alfabetização é um processo libertador que concede autonomia ao sujeito para situar-se na vida cotidiana, onde a compreensão de todas as áreas do conhecimento se articulam e se complementam.
Trata-se de uma alfabetização 360 graus, ou seja, onde o aluno é entendido como um ser integral composto pelas dimensões afetiva, acadêmica, relacional e produtiva, num trabalho pedagógico que se vale de outras áreas do conhecimento, com destaque para o pensamento científico, artístico e digital.
Alfabetizar é, portanto, oportunizar relacionamentos e respeito com os diferentes; é expandir a curiosidade e a criticidade; é transmitir valores; é desenvolver pessoas que saibam gerir suas emoções e traçar seus próprios caminhos; é oportunidade para se criar ambientes saudáveis e acolhedores.
*Inês Kisil Miskalo é gerente executiva de educação do Instituto Ayrton Senna
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