NOTÍCIA
Ex-secretária do MEC, Katia Smole ressalta aspectos como Fundeb permanente e Base Nacional Comum Curricular; como desafio, um olhar para a matemática. Já Luiz Fernando Costa, diretor de escola municipal em São Paulo, coloca melhores condições de trabalho entre os desafios
Ao se falar em educação, muitos desafios vêm à mente. Da formação e valorização docente à gestão, da saúde mental de professores e estudantes ao combate ao bullying. O setor exige olhar e luta constantes. Contudo, nos últimos anos, houve também avanços. Neste Dia Internacional da Educação, a revista Educação ouviu especialistas sobre quais conquistas podem ser celebradas e quais os desafios à frente.
Para Katia Smole, ex-secretária de Educação Básica do MEC (Ministério da Educação) e diretora-executiva do Instituto Reúna, a educação no Brasil vem avançando desde os anos 1990; e, na última década, há conquistas como a lei que tornou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) permanente e a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
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“Nesses últimos 10 anos, a aprovação de um documento [BNCC] que traz os direitos de aprendizagem de todos os estudantes brasileiros, aqueles que ninguém deveria sair da escola sem saber, direciona outras políticas que são muito relevantes, como a Política Nacional do Livro Didático, a formação dos professores e a própria avaliação da educação básica”, afirma a especialista.
Segundo Katia, a BNCC é uma conquista importante, ainda que possam haver sugestões de melhoria. “Certamente, daqui a um tempo vamos ter a revisão da Base, mas é de se celebrar que o país tenha tornado públicas quais são as suas intenções de aprendizagem para todos os estudantes, independentemente do endereço da escola na qual eles estejam”, avalia.
Katia Stocco Smole, diretora-executiva do Instituto Reúna (Foto: Instituto Reúna)
Outro avanço destacado pela diretora é o compromisso de alfabetização na idade certa (até o final do 2º ano). “O Brasil ainda é um país de poucos leitores, a gente ainda tem desafios de alfabetizar as crianças até os oito anos de idade. Então, eu destacaria que uma política nacional, institucionalizada, com incentivos é um elemento para se celebrar.”
Já Luiz Fernando Costa de Lourdes, diretor de escola pública municipal da cidade de São Paulo, destaca que os avanços da última década ficaram aquém do que o Plano Nacional de Educação (PNE) havia estabelecido.
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Para o futuro, Luiz ressalta alguns dos pontos que merecem atenção. “Os maiores desafios para o futuro são a retomada das matrículas (universalização) e permanência na escola das crianças de seis a 14 anos, retomada das matrículas do ensino de jovens e adultos (EJA), correção dos problemas de alfabetização dos educandos, mitigação do analfabetismo funcional e, por fim, a melhoria das condições de trabalho dos profissionais da educação, corpo técnico-administrativo e docentes.”
Luiz Fernando Costa de Lourdes, diretor de escola pública municipal da cidade de São Paulo (Foto: arquivo pessoal)
Já Katia destaca a importância de se discutir um Sistema Nacional de Educação e de implementação da política para o ensino médio. “Nós tivemos uma grande discussão em torno desse tema, mas os jovens ainda estão saindo do ensino médio antes do tempo. Modernizar esse ensino médio, dar incentivos para os estados para que, de fato, haja implementação da nova política, é algo bastante desafiador. Não vejo que seja tão simples de fazer, embora seja possível.”
Ela lembra também da necessidade de foco nos anos finais do ensino fundamental, a rediscussão do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) e do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), além de um olhar para a matemática. “Nossos dados de matemática são muito ruins há anos, e nós não temos nenhuma política organizada, institucionalizada, como já temos, por exemplo, para a alfabetização. Eu vejo que é impossível um avanço na ciência e na tecnologia com resultados tão ruins.”
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