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Articulação curricular para fortalecer a educação profissional

Quando o tema é a educação profissional e técnica de nível médio (EPT), o ponto de vista da superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue sempre é uma referência a ser considerada. Nesta entrevista, que complementa a matéria de capa da edição 283 (clique […]

Publicado em 01/04/2022

por Paulo de Camargo

Quando o tema é a educação profissional e técnica de nível médio (EPT), o ponto de vista da superintendente do Itaú Educação e Trabalho, Ana Inoue sempre é uma referência a ser considerada. Nesta entrevista, que complementa a matéria de capa da edição 283 (clique aqui), Ana defende a articulação curricular e o diálogo entre todas as instâncias da união, bem como institutos, universidades e outras organizações como um caminho para a EPT.

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Leia: Itinerários formativos e o desafio da lei de chegar para todos

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Por que ainda há barreiras a vencer para fazer a educação profissional técnica de nível médio avançar?

Nós temos uma história que colocou a educação profissional como segunda categoria. Foi para os pobres, desvalidos, crianças de orfanato… a educação técnica surgiu por essas pessoas. Essa é uma marca desde o início: a EPT surgiu como um caminho que não carregava nobreza, era quase uma esmola. Com o nascimento do sistema S, isso muda um pouco de lugar, mas continua sendo para quem não vai avançar. É para o trabalhador manual, braçal, toyotista, fordista… Não é algo que ofereça uma carreira, apenas para dar ocupação e emprego, até certo nível. É esse o lugar que ela ocupa.

Já o ensino superior…

Ao mesmo tempo, o ensino superior é o lugar da nobreza. Todos querem fazer universidade porque, no Brasil, é o caminho da profissionalização e de ascensão social. As pessoas pensam: se quiser ser alguém na vida, tem de fazer curso superior. Se não fizer, dizem, as chances de fracasso são maiores. Isso ninguém quer. A EPT se tornou o patinho feio porque o tratamento dado a essa modalidade é uma via sem saída. Se for considerado como estava organizado o mundo do trabalho no século passado, esse era mesmo o lugar, uma perspectiva bem limitada. Se o aluno escolheu ser torneiro mecânico, seria torneiro mecânico e nada mais que isso. Neste cenário, fazia todo sentido não querer educação profissional.

A polarização que sempre marcou a história da EPT continua sendo uma barreira?

A polarização nasce de uma visão antiga. Sinto pena de não ver as coisas avançarem. O que estamos tentando fazer é trazer a educação profissional do fim da linha educacional e profissional para o seu começo. A EPT tem de fazer parte da etapa inicial do desenvolvimento de uma pessoa, e de qualquer pessoa. Para os jovens, será ótimo, poderão viver outras experiências profissionais, oportunidade que todos deveríamos ter na vida, pois não são para sempre. Todos deveríamos saber fazer coisas manuais e trabalhos braçais – reconhecer que são ocupações importantes, mas não para a vida inteira. O que não dá é para não ter um caminho – temos 20% dos jovens matriculados nas universidades; 80% fora. A universidade continua a ser vista como a grande avenida de profissionalização – e só pensamos no que fazer depois da graduação.

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Leia: Coluna Alexandre Sayad – Mitos, dilemas e desafios da educação profissional

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Ou seja, não há caminho para os que não fazem universidade.

Em nossa visão, o mais grave é que não temos uma política pós-médio para os jovens se engajarem, existem apenas programas esparsos. O que nós vamos fazer para colocar os jovens em um processo de desenvolvimento profissional? Por isso, a ideia de sair de uma ideia de “fim” para a visão de “começo” da vida profissional. Quais são as saídas a serem oferecidas?

É urgente termos uma política de desenvolvimento profissional para a juventude e para todos. O que não dá é não fazermos nada.

Há outros aspectos da polarização que devemos superar?

Sim. Outro aspecto da polarização é a mentalidade de que estudo e trabalho são dimensões separadas. É preciso se entender a prática profissional como formativa. O espírito crítico não é uma prerrogativa da parte acadêmica, mas se desenvolve na relação entre o saber e o fazer. Por isso, defendemos a educação técnica emancipatória, que coloque o jovem em contato com seu próprio desenvolvimento profissional. É ruim pensar que é uma coisa ou outra.

É preciso buscar a articulação curricular, tratando o trabalho como princípio educativo, considerando o conhecimento acadêmico. Quem se opõe é porque pensa com a cabeça no século passado – e estamos falando do 21. Precisamos integrar o currículo. Dá trabalho, mas é preciso fazer. Se colocarmos o que é mais interessante para o jovem no centro do debate, os próprios alunos vão dizer que é melhor que as duas dimensões conversem. Fizemos uma conversa com coletivos no complexo da Maré, no Rio de Janeiro, e as meninas diziam: esse é direito nosso! Os jovens querem, sim, formação profissional, e não querem que seja a última opção da vida deles.

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Leia: Jovens não querem ser professores

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Há boas experiências no Brasil, apesar de tudo. Elas são escaláveis?

No Brasil, nós temos excelentes experiências de pequena escala em tudo o que se pode imaginar. Em qualquer área.

O problema é escalar para o Brasil inteiro. Acredito que uma das principais questões é repensar o currículo da escola, levando em conta o futuro do trabalho.

Não temos uma visão clara do que será o futuro. Podemos imaginar, mas não sabemos. Por isso precisamos pensar em termos de competências. Mas quem é que está sintonizado com esse novo mundo do trabalho? Daqui a pouco, esses jovens cuidarão do país. O que precisamos proporcionar a eles agora para que possam cuidar bem do Brasil? Que experiências eles precisam ter?

Como você vê a EPT como quinto itinerário no novo ensino médio?

O fato de ter o itinerário de EPT é positivo. Não há cidadania sem trabalho. A reforma abre possibilidade de trazer o mundo do trabalho para dentro do ensino médio. Agora, como tudo na vida, depende de como será feita a implementação, precisamos ter políticas e orientação – e isso não ocorreu. O MEC tem responsabilidade, os estados, as universidades precisam participar. É um diálogo que precisa acontecer dentro do regime de colaboração.

Escute nosso podcast:

Autor

Paulo de Camargo


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