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João Jonas Veiga Sobral

É professor de Língua Portuguesa e orientador educacional

Publicado em 05/12/2024

Lideranças educacionais como bússola para boas práticas

Escola deve estar em sintonia com as demandas da comunidade escolar e da contemporaneidade

As lideranças educacionais vivem nos últimos meses do ano letivo seu momento de maior turbulência, porque nesse período convivem simultaneamente com as preocupações do presente e do futuro — as do ano que termina com suas questões peculiares e as do que se aproxima com suas projeções e ajustes necessários.

E são várias as urgências de final de ano que passam por setores diversos desde o administrativo ao pedagógico, passando por equalização no número de matrículas, por conta de alunos que terminam seu ciclo na escola e dos que se matriculam (e se espera que se matriculem) ; por ajustes no número de salas de aula e no quadro de colaboradores entre demissões e contratações; por fechamento de ano que engloba Conselhos de Classe, retenções e aprovações, reuniões com famílias e festas de formaturas; culminando, entre outras questões, no equilíbrio das contas e da saúde financeira da instituição.

Concomitantemente a isso tudo, é necessário pensar e planejar o ano letivo que entra e organizar a escola para que esteja em sintonia com as demandas da comunidade escolar e da contemporaneidade. O que exige desses líderes uma atenção dividida minuciosa ou, como se diz no jargão popular, esses gestores devem estar ‘com um olho no peixe e o outro no gato’.

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Em uma sociedade em constante transformação, as lideranças educacionais são fundamentais para o sucesso da instituição, para aprendizagem dos alunos e para a estabilidade da comunidade escolar, porque são os timoneiros, os mentores e os guias a conduzir os processos administrativos, pedagógicos e culturais em que se fundam as características da escola e a sua atuação na sociedade.

A gestão da escola passa por momentos de inquietações e de desafios que atravessam o tempo, a tradição e a modernidade. As mudanças e os desafios gerados pelas demandas da globalização, pelos avanços da tecnologia e pelas efervescências socioculturais impõem aos dirigentes escolares (diretores, coordenadores e orientadores) necessidade constante de adaptação e de aprimoramento aos novos tempos sem que a essência e os alicerces basilares das instituições percam a identidade que sustenta os projetos político-pedagógicos dos centros de estudos.

Com base nesses pressupostos (processos de mudanças e alterações de paradigmas e nos princípios que norteiam as escolas), deparar-se com as exigências da contemporaneidade estabelece a inevitabilidade de formações consistentes e alinhadas a essas transformações.

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Não há dúvida de que conhecimentos práticos e teóricos sobre liderança e gestão de equipe e de planejamento estratégico são capitais em qualquer instituição que agrupe pessoas e propósitos. Se são temas comuns na formação de diretores de escola, não o são para boa parte dos profissionais de educação que não raro nutrem certo ranço ou desconforto com essas abordagens administrativas. Mas está mais do que provado que equipes bem lideradas e motivadas tendem a render mais e melhor. Repensar a função desses maestros, sob a batuta de técnicas estratégicas e de liderança, talvez seja um itinerário seguro para o ano que se avizinha.

A contemporaneidade não pode permanecer apenas do lado de fora da escola. É preciso que haja porosidade das instituições e de seus líderes para que as questões que caracterizam esses novos rumos sejam contempladas não apenas nas aulas, mas na forma de a escola funcionar na comunidade e no mundo.

Uma escola não pode negar as emergências climáticas e tem de funcionar de forma sustentável em todas as suas instâncias. A comunidade escolar precisa observar, no dia a dia escolar, políticas claras nesse sentido. O discurso pedagógico não surtirá efeito desejado se contrariado no convívio diário. No entanto, não há como não inserir no planejamento escolar práticas e reflexões que tornem toda a comunidade escolar uma zeladora insistente do meio ambiente. Caberá aos líderes a gestão desses processos com sabedoria e altruísmo.

Políticas afirmativas que contemplem projetos étnico-racial e étnico-social devem atravessar toda a escola, da contratação de colaboradores a matrículas de alunos, de projeto político-pedagógico a formas de entender o mundo com suas questões de tolerância e de convivência social sadia e igualitária. As provas do Enem e dos principais vestibulares já vêm apontando a direção para onde os olhos das escolas devem se voltar.

 

lideranças educacionais

Lideranças educacionais são fundamentais para o sucesso da instituição, para aprendizagem dos alunos e para a estabilidade da comunidade escolar (Foto: Shutterstock)

As inclusões são assuntos complexos e extremamente delicados que devem estar nas preocupações para os próximos anos. É verdade que há diagnósticos duvidosos ou inconclusivos ou açodados, mas é fato também que há muitos extremamente embasados, corretos e justos. E todos eles exigirão da escola projetos adequados às atipicidades que lhe serão apresentados e propostas consistentes de acolhimento e de inclusão. Não é tarefa fácil para a liderança, porque solicita ajustes na infraestrutura dos edifícios das instituições e treinamento de pessoal (inspetores, recepcionistas, estagiários, educadores etc.) para que alunos diagnosticados aceitos e refutados (e são muitos os transtornos e as dificuldades de aprendizagem e de convívio) possam ter uma vida escolar plena, justa e progressiva.

O letramento digital e a educação midiática deverão, na nova escola, andar lado a lado com as questões de bullying, com o avanço dos recursos da inteligência artificial, com a correta interpretação de imagens, textos e fake news e com a compreensão das relações políticas e sociais desses tempos digitalizados em que redes sociais exercem papel crucial na vida pública. O que atinge, de alguma forma, outra ponta complicada e complexa nos centros de estudos que é a relação da família com a escola.

Essa precisa ser reajustada com limites de atuação e com parceria razoável que pressuponha menos terceirização da educação de crianças e adolescentes e menos pressão por uma escola à la carte e ao gosto da família. As gestões administrativa, pedagógica e educacional não podem mais estabelecer uma relação clientelista com as famílias. Não há formação sólida, na escola, com tanta ingerência de pais helicópteros e muitas vezes barulhentos.

Como se vê, são tempos de ebulição e de transformação na forma de liderar e gerir instituições e pessoas. Nestes tempos, as lideranças serão a bússola que nortearão bons caminhos. Como dizia Matraga em sua A hora e vez: “E tudo foi bem assim, porque tinha de ser, já que assim foi”. Que assim seja com líderes bem formados, esclarecidos, destemidos e ponderados.

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