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Políticas Públicas

Mozart Ramos assume cátedra da USP para pesquisar educação básica

O especialista defende que o Brasil precisa investir fortemente na formação de professores e gestores escolares com foco na aprendizagem dos estudantes

Publicado em 04/09/2020

por Redação revista Educação

Mozart Neves Ramos volta a atuar na academia, de onde saiu para se tornar um militante pela qualidade na educação. Foi convidado pelo Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (IEA) e aceitou assumir em 2020 a Cátedra Sérgio Henrique Ferreira, homenagem a esse pesquisador reconhecido internacionalmente por sua contribuição ao desenvolvimento de novos medicamentos no combate à hipertensão e na elucidação do mecanismo de ação de substâncias analgésicas anti-inflamatórias, do tipo aspirina.

Leia: Rede municipal ensina melhor nas cidades médias

Mozart Ramos

Melhorar a qualidade das políticas públicas de educação básica é uma das missões da cátedra assumida por Mozart (foto: divulgação)

Mozart Ramos foi, há 20 anos, pesquisador na área de química na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tendo sido convidado para ocupar a reitoria acadêmica, para logo em seguida ser eleito duas vezes à reitoria. “O trabalho desenvolvido sempre teve o apoio da comunidade”, diz ele. A partir daí, desvia-se da academia. Foi secretário de Educação de Pernambuco, convidado pelo então governador reeleito, Jarbas Vasconcellos. Após deixar o governo, no final do mandato, Mozart Ramos assumiu a presidência da organização Todos pela Educação. Passou os últimos seis anos no Instituto Ayrton Senna, do qual é agora conselheiro.

Na cátedra da USP, a temática será a qualidade da educação em municípios de médio porte, numa comparação entre as redes municipal e estadual nos anos finais do fundamental II. “O que se verifica é que a educação municipalizada é mais eficaz. O secretário está na cidade, é o olhar do gestor no dia a dia”, fala Mozart Ramos. A rede estadual em São Paulo é responsável por 57 dos 76 municípios de médio porte. Essa cátedra agora vai examinar a qualidade da educação nas duas redes.

A partir de agosto, haverá um acompanhamento desse estudo em nossa plataforma (com destaque para a revista), conforme relata Mozart Ramos Neves, que ainda continua como membro do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Assista: O exemplo de Sobral na relação diretor, coordenador e professor

Qual é a missão da cátedra?

A cátedra tem como objetivo contribuir para melhorar efetivamente a qualidade das políticas públicas em cidades de médio porte. Nos dois primeiros anos de atuação, o foco será na educação básica – da educação infantil ao ensino médio.

Como será esse trabalho?

Com base nos dados censitários demográficos, de 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil tem cerca de 250 cidades na condição de médio porte, ou seja, com uma população na faixa de 100 mil a 500 mil habitantes. Apesar de estar fora dessa faixa, o epicentro de nossos estudos será a cidade de Ribeirão Preto. Mas a ideia é de constituir uma rede de cidades de médio porte com espírito colaborativo para trocar experiências exitosas na perspectiva de fazer avançar os indicadores da educação básica. Nesse sentido, a cátedra deverá, por sua vez, constituir uma rede de parceiros pela educação, dos setores público e privado, e que estejam comprometidos com um Brasil mais justo e solidário, no qual a educação ocupe lugar de relevância.

Qual é a situação hoje da qualidade da educação nas escolas públicas?

Os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) 2018, recentemente divulgados, mostraram um Brasil estagnado no campo da educação, e num patamar muito baixo de aprendizagem escolar, quando comparado aos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o que revela a decisão acertada do Instituto de Estudos Avançados de priorizar a educação básica para os dois primeiros anos de atuação da cátedra.. Mas será preciso muito esforço para tirar o país dessa situação, porém é possível, e para isso basta o Brasil querer aprender com o próprio Brasil, como vem mostrando, a título de exemplo, o estado do Ceará no campo da alfabetização de crianças aos sete anos de idade, e o estado de Pernambuco no ensino médio com as escolas de tempo integral com educação integral.

Leia: O que o país tem a aprender com a educação de Pernambuco

Tem como recuperar esse atraso na educação?

Para fazer a coisa certa na educação, o ponto de partida é ter coragem e vontade política para mudar. Isso significa trabalhar com base em evidências, usar de forma correta e adequada o dinheiro público, e investir fortemente na formação de professores e gestores escolares com foco na aprendizagem dos estudantes.

Além disso, é preciso mobilizar a sociedade em prol da causa, como faz o movimento Todos pela Educação, sempre na direção daquilo que é relevante e tem mérito. Em Singapura, país com alta performance educacional no Pisa, só importa aquilo que tem relevância e mérito.

Como se dá a escolha para dirigir a cátedra?

Para escolher o titular da cátedra, o IEA constituiu um comitê de busca e tive o privilégio de ser o escolhido, algo que muito me honrou, tanto pelo nome que carrega, pois sempre tive, desde jovem, quando atuava no campo da química molecular, uma profunda admiração pelo professor Sérgio Henrique Ferreira, como pelo desafio que se coloca de modelar estudos e pesquisas que possibilitem melhorar a qualidade do ensino público para cidades de médio porte, mediante um forte trabalho de mobilização social.

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Redação revista Educação


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