Livro de jornalista inglês conta a história da arte moderna lançando mão de recursos literários
Publicado em 06/09/2013
“A noite estrelada”, de Vincent van Gogh (1889)
Para o famoso historiador da arte Ernst Gombrich, a Arte com A maiúsculo não existe; o que existe é o artista, o sujeito por trás de uma intenção artística. É mais ou menos por essa noção que caminha o editor de artes da BBC, Will Gompertz, em seu livro Isso é arte? 150 anos de arte moderna do impressionismo até hoje, para tentar esclarecer questões que volta e meia surgem no pensamento do público de museus e galerias mundo afora. Como, por exemplo, o motivo de uma folha colorida a guache por uma criança ser diferente de um quadro do pintor norte-americano Paul Jackson Pollock, ícone do expressionismo abstrato. Tanto para Gompertz como para Gombrich, o artista e a ideia estão no cerne dessa resposta.
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O plano de Gompertz, de se livrar das notas de rodapé e dar sabor às histórias imaginando os detalhes de encontros e conversas entre os artistas, rompe em estilo com as obras de referência acadêmica, como a História da Arte de Gombrich, mas mantém o rigor informativo desses volumes. No livro do jornalista inglês, o momento em que Duchamp enxerga a possibilidade de arte – e enfrentamento da concepção de arte daquela época – em um mictório (“Fonte”, 1917) é apresentado quase como um esquete, mas não deixa de informar que fim levou a peça de louça que virou escultura.
Gompertz relata o sucesso de uma retrospectiva da carreira da performer Marina Abramovic no Museu se Arte Moderna de Nova York (MoMA) em 2010, quando se previa desconforto do público não iniciado na arte performática. Também tenta esclarecer por que o grande público se sente tão à vontade diante de uma pintura impressionista e lembra que nem sempre esses artistas foram tão admirados quanto hoje. Nesse ponto, a reflexão deve aparecer quase instantaneamente ao leitor brasileiro, que, caso tenha visitado a exposição Impressionismo: Paris e a modernidade, provavelmente
deu incontáveis voltas em torno de um prédio no centro de São Paulo.
Além de percorrer todos os “ismos” desde o pré-impressionismo, Gompertz acaba levando o leitor a refletir sobre a relação do público atual de artes plásticas com esses diversos movimentos. Afinal, ao visitar um espaço, esse público tanto pode ser cativado por um artista porque ele está “na moda” como pode ser surpreendido por uma ideia na qual nunca tinha se permitido pensar.
Outras leituras
Livros imaginativos
Com grafite sobre papel branco, a premiada artista belga Gabrielle Vincent (1928-2000) constrói a história de Um dia de cão – dia no qual os fatos começam mal em uma estrada. Nesse livro “imaginativo”, para usar a expressão da crítica de literatura infantil francesa Sophie Van der Linden em Para ler o livro ilustrado (Cosac Naify, 2011), a sequência lógica de representações gráficas não é acompanhada de texto, ou seja, as inferências e a aquisição de linguagem se dão apenas por meio do reconhecimento das imagens.
Se falta afetividade na história de Um dia de cão, ela aparece colorida em Melhor amigo, do casal paulistano Gabi Mariano e Flávio Castellan, que dedicam o livro a seu filho. A sequência dos desenhos é mais objetiva, o que pede menos inferências do leitor na fruição da narrativa. As imagens do convívio entre uma criança e seu cachorro também preponderam sobre o texto, que surge raramente em forma de onomatopeias.
Já Trocoscópio, trabalho do português Bernardo Carvalho, vale-se de formas geométricas de diversas cores que, combinadas de diferentes maneiras página a página, transportam o leitor da representação de um ambiente urbano e agitado para a de um espaço rural e organizado.