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Professor na educação básica, Tião Carvalho é referência quando o assunto é uma metodologia informal na arte do magistério. Ao longo de sua carreira, o docente e artista tem se dividido em diversos papéis, entre eles o de músico, dançarino, educador e mestre em cultura […]
Professor na educação básica, Tião Carvalho é referência quando o assunto é uma metodologia informal na arte do magistério. Ao longo de sua carreira, o docente e artista tem se dividido em diversos papéis, entre eles o de músico, dançarino, educador e mestre em cultura popular. Maranhense, vive e atua no Morro do Querosene, localizado em São Paulo. Ele será o homenageado do dia 18 de agosto, no Grande Encontro da Educação.
Na visão de Tião, por se tratar de uma cidade grande, São Paulo tende a conversar com diferentes pessoas e públicos. “São Paulo recebe muita coisa, muita gente, muitas etnias e, dependendo de como essa cultura chega na cidade, há certa facilidade de propagar”, explica. “A chamada Sampa que, de certa forma, tem que falar várias línguas, é obrigada a ser poliglota”, acrescenta.
Tanto a implementação da cultura maranhense quanto a de outras culturas na metrópole é algo natural, que ocorre nas trocas sociais, acredita o professor. “A cultura, o Bumba-meu-boi, ela vem e se esconde, se camufla. Aqui na região oeste de São Paulo e, em especial no Morro do Querosene, há uma cultura local, das pessoas do Morro com a USP, os estudantes ali do lado, que também não deixa de ter uma linguagem. Isso então vai formando uma massa e aí ela sobrevive”, afirma.
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Tião também é membro do Grupo Cupuaçu, um grupo de dança e de pesquisa, situado no Morro do Querosene. Sua participação no grupo faz com que outros maranhenses, pela familiaridade ali encontrada, se aproximem. É nessa aproximação que o grupo encontra brecha para incluir ainda mais da cultura regional em seu repertório. “Nós trazemos algumas manifestações de lá, como o Bumba-meu-boi, o tambor de crioula, as danças do baralho, do pela e do cacuriá, um festejo de São Benedito, festejos de São João”, lista. De acordo com o artista, que chegou ao local na virada de 1979 para 1980, a cultura maranhense vem se manifestando no Morro nos últimos 40 anos
“Esses 40 anos aqui no Morro vão aproximando essa questão da cultura, desse comportamento, do social, tudo isso. Essas formas de se comportar vão indo para esse lado também, da não violência, onde as pessoas dialogam mais e de certa forma se protegem. Porque essa é uma forma de você se proteger, manifestando a brincadeira, a união. E não deixa de ser uma fonte de inspiração também”, acredita Tião Carvalho.
Na Te-Arte, escola de educação infantil em que atua, a mestra da pedagogia Therezita Pagani é tida como fonte de inspiração para sua carreira docente e ao caminho seguido por Tião: a educação informal. O professor relata que vem se inspirando em mestres e mestras da cultura popular para seguir, por meio de brincadeiras, jogos, diálogos, artes cênicas, música e dança, a sua metodologia informal.
Além dos mestres, é em dona Floriana Carvalho, sua mãe, em quem Tião encontra alguns de seus maiores aprendizados. Floriana, também conhecida como “florzinha”, completou 100 anos de vida no início de agosto. “[Ela me ensinou a] Saber chegar onde passar pelo mundo, ter essa leitura, esse olhar clínico. Saber chegar nos lugares por onde ando, saber chegar nas pessoas, um respeito, a reverência, saber chegar em uma criança, nos mais velhos e nas pessoas como um todo”, compartilha.
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Segundo Tião, o trabalho informal pode ser algo impalpável, pois “não é um trabalho em que vou necessariamente me sentar na frente das pessoas (embora às vezes aconteça isso). É no decorrer do tempo, por meio do nosso trabalho, que isso vai educando as pessoas, mesmo não estando ali. Influenciará determinada cultura local e esses comportamentos virão ao longo do tempo”. O artista informa que, quando chegou ao Morro do Querosene, a região era tida como uma das mais violentas da cidade.
“Ela tinha esse perfil e, com o tempo, essa cara foi mudando. Quando falo de não ser tão palpável é porque você vai fazendo e a coisa vai acontecendo. Chamar esses jovens próximos a você para escutar e para estar junto é um trabalho. Chamar não é ‘tal dia haverá tal coisa’, é quando você está ali, tocando ou cantando e, de uma certa forma, eles, nós, todos, todas e todes nos aproximamos. Nisso estamos fazendo um trabalho de inclusão, que é importante também na pedagogia.”
Ao desenvolver a educação informal, o membro do Grupo Cupuaçu usa a brincadeira como um dos principais artifícios para isso. No entanto, Tião alerta para os tipos de brincadeira existentes. “Temos que tomar muito cuidado com as brincadeiras de mau gosto, que também são brincadeiras. Penso na questão lúdica, que é importante para o ser humano”, diz. Para ilustrar sua fala, o professor aborda um acontecimento visto durante a guerra na Croácia. “Vi uma cena em que o tanque de guerra passa por cima de um automóvel. Do que será que um senhor desse brincou? Ele [que dirigia o tanque] deve ter brincado também, mas do que?”, indaga.
“Brincar é importante para nós, para a nossa educação. Quero deixar essa mensagem da importância do brincar e esse paralelo para refletirmos nesse sentido. Há tipos de brincadeiras. O brincar, o tocar, o dançar… Essas formas de felicidade, sim, de saúde, e para além da infância são formas diferentes e eu aposto nessa questão do lúdico e da simplicidade”, complementa.
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Tião Carvalho será homenageado no dia 18 de agosto pelo Grande Encontro da Educação. Promovido pela Plataforma Educação e Plataforma Ensino Superior, o evento ocorre de 16 a 19 de agosto, de forma híbrida e conta com certificado de participação.
O encontro será híbrido nos dias 16 e 17 de agosto e somente online nos dias 18 e 19. Mais de 50 palestrantes estão confirmados. Inscreva-se gratuitamente no GEE: https://grandeencontrodaeducacao.com.br
Onde: Inteli (Instituto de Tecnologia e Liderança), localizado no campus Cidade Universitária da USP.
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