Ministro da Educação por oito anos (1995 -2002) no governo de Fernando Henrique Cardoso, Paulo Renato Souza é o segundo que por mais tempo ocupou a pasta na história do país. Em junho de 2021, o seu falecimento em decorrência de um infarto completou 10 anos e para homenagear os feitos de sua atuação no MEC aconteceu na última quarta-feira, 20, na capital paulista, a pré-estreia do documentário Paulo Renato Souza, o legado à educação brasileira.

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Irmão mais novo do ex-ministro, Beto Souza assina a direção, roteiro, produção e é comontador. Já o filho Renato Souza Neto atuou na produção junto ao tio. O documentário pode ser assistido gratuitamente pela plataforma do Itaú Cultural por meio de cadastro (https://www.itauculturalplay.com.br/).

O longa tem 52 minutos e o foco não é o contraditório, apresentar dois lados, e sim uma homenagem. No caso, não toca em pontos como os desencontros com a educação superior pública durante sua gestão no MEC ou as greves do sindicato dos professores contrários a algumas de suas medidas como secretário de Educação do Estado de São Paulo (2009-2010).

Políticas públicas de verdade

A estrutura audiovisual se dá a partir do depoimento de 22 fontes, como o sucessor de Paulo Renato na pasta, Cristovam Buarque, ex-ministro da Educação (2003-2004), o também ex-MEC Fernando Haddad (2005-2012), Maria Helena Guimarães de Castro, presidente do Inep (1995-2002) em seus primeiros anos como ministro, além de alguns familiares.

O documentário destaca, sobretudo, cinco pontos relacionados à gestão de Paulo Renato no MEC: a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996, tida por especialistas como um marco e sendo um dos pilares da educação brasileira ainda nos tempos atuais; a criação do Provão, “primeira versão” do Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) e viabilizado pelo Inep da época; Enem, criado em 1998 sob a sua gestão e tendo como principal idealizadora e implementadora Maria Inês Fini, que aparece no longa; Fundef, instituído em 1996, também sob sua atuação e sendo hoje o atual Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação); e Todos na Escola, ação que buscou universalizar a educação básica brasileira.

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Consistência

“Esses cinco pontos que foram feitos em seu período no Ministério perduraram no pós-morte e é isso que queremos destacar, a continuidade. Entrevistei dois ministros da Educação, Cristovam e Haddad, e ambos falaram exatamente da necessidade de ter continuidade, não houve grandes contradições [entre suas gestões e a do Paulo, mesmo um sendo do PSDB e os outros dois do PT]”, coloca o diretor Beto Souza.

Beto, que já dirigiu mais de cinco longas e nos últimos anos tem focado na linguagem documental, salienta: “fazer documentário 10 anos depois revela que sua atuação foi consistente e seus seguidores não destruíram, pelo contrário, aperfeiçoaram. Hoje a dicotomia no país se deslocou e o PSDB não é mais tido como a direita brasileira, embora nunca tenha sido, mas claro que no jogo político era atribuído, principalmente pelo PT. E não ter a desconstrução de um partido oposto é louvável e algo a ser seguido no Brasil”.

Passado e presente

O atual diretor-presidente da Somos Educação e com uma longa trajetória no setor educacional, Mario Ghio também é um dos entrevistados e destaca, por exemplo, como a regulamentação da educação a distância já na LDB de 1996 foi fundamental para o exercício da educação durante a pandemia.

Trechos de um Roda Viva da TV Cultura em que Paulo Renato participou aparecem no documentário. “Naquela época ele já falava de um sistema de permanente aprendizado que no futuro via como sistema aberto que pudesse receber alunos que saíram, voltaram, foram pra experiências executivas e voltaram para reaprender novas coisas. Educação no futuro para ele seria um sistema mais aberto de ir e voltar para ter essa aprendizagem permanente que hoje o mundo fala cada vez mais”, destaca Beto.

Curiosidade

Dos seis filhos, Beto Souza era o mais novo e tinha 16 anos de diferença com Paulo Renato. Em meados dos anos 70, quando Paulo foi morar no Chile, inicialmente com uma bolsa e, posteriormente, atuou na Organização Internacional do Trabalho (OIT) como diretor-associado do Programa Regional do Emprego para a América Latina e o Caribe, Beto tinha entre sete e oito anos. Durante a ditadura chilena, a casa de Paulo Renato escondia colegas que estavam em busca de asilo político, e chegou a receber de uma vez quase 20 pessoas. O político José Serra foi um dos escondidos em sua casa e aparece brevemente no documentário.

Atuação

Antes de exercer cargos públicos, Paulo Renato foi gerente de operações do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), nos EUA, e depois secretário da Educação do Estado de São Paulo (1984–1986), reitor da Unicamp (1987–1991). É um dos fundadores do PSDB. Após pilotar a educação nacional brasileira, foi deputado estadual pelo PSDB paulista, em 2006, e mais uma vez secretário da Educação do Estado de São Paulo (2009-2010).

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