Na maioria dos estados, as escolas das redes estaduais de tempo integral tiveram melhor desempenho que as regulares
Ao separar as escolas da rede estadual em período parcial e integral, é possível verificar que o desempenho das escolas integrais na maioria dos estados é melhor do que o das escolas parciais. O Ideb 2019, divulgado nesta terça, 15, mostra que as instituições escolares parciais atingiram 4 pontos, já as integrais 4,7 pontos. O resultado do ensino médio em tempo integral, inclusive, atinge a meta prevista para a etapa (4,6). A diferença comparativa se reproduz em dois componentes específicos: nota padronizada (desempenho no SAEB) e percentual de aprovação. As informações são de um levantamento do Instituto Sonho Grande e Instituto Natura divulgados esta semana, logo após o Inep apresentar os resultados do Ideb.
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O levantamento também identificou que as escolas que eram parciais em 2017 e migraram para o modelo integral em 2019 tiveram uma melhora de 17,3% no Ideb. Já as que permaneceram no modelo regular cresceram apenas 9,7% no índice em 2019.
Apesar da situação delicada das regiões Norte e Nordeste no ensino médio, as escolas de tempo integral desta etapa obtiveram resultados expressivos no Norte (4,2) e Nordeste (4,5) do país. No Ideb geral do ensino médio, o Norte alcançou 3,4 pontos e, o nordeste, 3,6 pontos.
Estados com grande número de escolas de tempo integral e de matrículas neste modelo têm crescimento no Ideb em 2019 acima da média. Pernambuco, por exemplo, subiu 10%. A Paraíba, cresceu 16,1%. E o Ceará, 10,5%.
Pernambuco é uma prova que as escolas de ensino médio em tempo integral contribuem para melhora da qualidade da educação. A partir de 2008, quando o modelo integral foi adotado como política pública, o rendimento no Ideb cresceu e acompanhou a expansão anual do número de escolas e matrículas. Em 2019, a rede estadual pernambucana ocupa o 3º lugar no ranking nacional. Em 2007, estava em 22º lugar. O estado possui a maior rede de ensino integral do Brasil no ensino médio: 438 escolas ofertam esta modalidade, totalizando 62% das matrículas de estudantes que acessaram o ensino médio (dados de 2020).
Vale destacar que Pernambuco figura entre os piores PIBs per capita do Brasil, assim como o Ceará e a Paraíba. Esses são estados que estão apostando na política do ensino médio Integral em tempo integral e avançando na expansão desse modelo para um alto percentual de escolas, revertendo assim o histórico de baixos índices de aprendizagem e evasão.
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Entre 2017 e 2019, Ceará e Paraíba ampliaram significativamente o número de escolas e matrículas. Na edição de 2019, o Ceará ocupa a 6ª posição no Ideb. Já a Paraíba, embora em 18º lugar no ranking geral, registrou o quinto melhor crescimento (16%).
Segundo o Sonho Grande e Natura:
✔ Um ano no ensino médio em tempo integral é equivalente à proficiência em língua portuguesa e matemática de três anos letivos em escolas de tempo parcial;
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✔ Os resultados acadêmicos positivos dos estudantes estão relacionados a duas frentes: ensino do currículo (tempo de aula bem utilizado e baixa quantidade de aulas dispensadas/ substituídas) e elementos diversificados da matriz curricular (estudo dirigido supervisionado por professores, orientação para projeto de vida, práticas de protagonismo, formação da equipe escolar e nivelamento);
✔ Entre os principais motivos que agradam aos professores que atuam nas escolas integrais, mais da metade destaca o acolhimento dos alunos, 38% o projeto de vida, 35% os clubes de protagonismo, 25% o acolhimento da família e 24% as tutorias;
✔ O custo adicional em uma escola integral se deve, principalmente, a dois pontos: merenda e remuneração dos professores (40 horas semanais). Por outro lado, devido à menor evasão e repetência, o custo por aluno formado das escolas integrais é apenas 33% maior do que as de tempo regular;
✔ Escolas de ensino médio em tempo integral em Pernambuco apresentam bons resultados de proficiência (língua portuguesa e matemática) e fluxo mesmo nas regiões mais vulneráveis;
✔ Pesquisa com egressos de Pernambuco (2009 a 2014) mostra que a probabilidade de entrar no ensino superior é de 63% entre os ex-alunos de escolas integrais contra 46% daqueles formados em escolas regulares – diferença significativa de 17 pontos percentuais;
✔ Em relação à renda, os resultados em Pernambuco mostram que, desde o início da carreira, os egressos das escolas integrais apresentam maior probabilidade de estarem em faixas de renda superiores – em média, o ensino integral adiciona R$ 265 à renda individual, o que corresponde a 18% do salário mensal médio;
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✔ O resultado mais impactante é em relação à equidade racial. Nas escolas regulares de Pernambuco, quando se analisa a diferença salarial entre egressos brancos e negros, o segundo grupo apresenta ganhos aproximadamente 10% inferiores em relação ao primeiro. Quando considerado o ensino integral, essa diferença não mais existe, ou seja, o integral se mostra capaz de fechar o gap da diferença salarial racial;
✔ Professores do ensino médio em tempo integral de Pernambuco estão mais satisfeitos com a carreira e com o trabalho, se sentem mais valorizados profissionalmente e têm uma melhor opinião sobre suas condições de trabalho, em comparação com os professores da rede regular. Os resultados também são positivos quando analisado o relacionamento entre professores e estudantes.
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