NOTÍCIA
Diretor da ONG Educando – no Brasil e México – fala sobre os benefícios trazidos para as escolas que adotam a cultura mão na massa
A ONG Educando, criada em 2004 em Nova York, atua no Brasil há dez anos na implantação de laboratórios de faça-você-mesmo e espaços de criação estudantil em escolas públicas do fundamental e médio. Os projetos envolvem a prática dos alunos em ciência, tecnologia, engenharia e matemática, sempre aliada às demandas e ensinamentos dos currículos formais e das exigências do MEC. É o STEM, sigla em inglês para a união desses quatro pilares do conhecimento.
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O STEM é uma linha “mão na massa” que abriu caminho nas escolas e hoje está diretamente associada à cultura e ao movimento maker. Os bons resultados no Brasil abriram as portas, no ano passado, para ação da ONG também no México. Educação conversou sobre ação da Educando com o diretor nos dois países, o brasileiro Marcos Paim. “Investimos mais de 30 milhões de dólares nos projetos no Brasil e capacitamos mais de 9,2 mil educadores brasileiros e mexicanos e mais de 5,3 milhões de estudantes”, contabiliza ele.
Em outubro de 1957, em plena Guerra Fria com os Estados Unidos, a então União Soviética deu um salto à frente na corrida espacial lançando o primeiro satélite artificial da Terra, o Sputnik 1. Isso gerou todo um movimento nos Estados Unidos, liderado pelo governo americano, para que as escolas e as pessoas tivessem mais acesso à ciência e, assim, contribuísse para que o país não ficasse atrás no grande rival. Isso reforçou a questão do faça-você-mesmo, que sempre foi forte nos Estados Unidos e na Europa, e essas duas vertentes depois se encontraram com as popularizações geradas pela internet e o barateamento de impressoras, aparelhos a laser, hardwares, softwares e outros equipamentos de geração de protótipos e produção em série.
Hoje a gente acaba misturando um pouco de tudo isso ao levar para a escola. No nosso caso, com o STEM, a gente combina a educação formal, ou seja, os conteúdos e currículos formais das escolas fundamentais e médias exigidos pelo MEC e as leis educacionais do país, com a filosofia do faça-você-mesmo e da sua derivação mais contemporânea, o Movimento Maker. Isso porque a educação formal pública brasileira sozinha, com os problemas que enfrenta, não dá mais conta da formação das novas gerações diante dos desafios atuais, não é suficiente para o que essas novas gerações e a sociedade necessitam e apresenta limitações para formar profissionais nos moldes exigidos pelo mercado contemporâneo.
A grande utilidade e beleza de levar STEM e cultura maker para alunos, sobretudo os de escola pública, é vê-los desenvolver os seus próprios projetos e, com eles, compreender muito melhor temas e conteúdos que muitas vezes não despertaram qualquer interesse nesses jovens pelo mero fato de eles não fazerem ideia de como aplicar aquilo. Mas, ao realizar atividades com as mãos, criando por si, manipulando uma cortadora a laser ou uma simples serra dessas encontradas em lojas de material de construção, aplicando conceitos de medida, área, perímetro, estrutura, relevo e outros pontos, o aluno redescobre o valor e a dimensão da matemática, física, química, geografia, relevo, artes, design e outras áreas.
E isso não acontece de forma alguma. Fazemos uma combinação de teoria passada pelo professor na sala com prática em laboratório e espaços de criação. Essa união aumenta consideravelmente a capacidade do aluno de desenvolver grande parte das chamadas habilidades socioemocionais do século 21, entre elas trabalho em equipe, resolução de problemas, empatia e criatividade. Isso porque esses elementos estão entre as exigências do processo de desenvolvimento de um produto em um laboratório ou estúdio de criação. E os exemplos que apresento mostram que, ao contrário do que muitos pensam, não é necessário o aluno escolher um caminho acadêmico e profissional exclusivamente digital ou eletrônico para se beneficiar do STEM e muito menos do Movimento Maker. As melhorias ocorrem – e são mensuradas – em praticamente todas as cadeiras de conhecimento.
Sim. E também o professor, que recebe formação densa e continuada nas escolas públicas parceiras dos programas da Educando, mesmo porque as universidades brasileiras, e as da maior parte do mundo, com raras exceções, ainda não os preparam para aliar seus programas didático-pedagógicos ao trabalho prático da cultura fazedora no dia a dia. É o “tempero maker” incrementando o ensino e fortalecendo o desenvolvimento de habilidades exigidas hoje, inclusive, em exames importantes como o Enem, o Pisa internacional, e outras avaliações.
A ONG existe há 15 anos. Começou nos Estados Unidos com o nome de WorldFund. No ano passado, mudou para Educando. Estamos atualmente no Brasil e no México. O programa brasileiro foi iniciado em 2009, em Pernambuco e hoje atende 600 mil alunos e forma continuamente cinco mil professores em mais de 700 escolas de 17 estados do país, todas elas públicas, dos níveis médio e fundamental II. Vamos lançar neste ano o Fundamental I no Brasil.
Oferecemos a eles formação exclusiva, com metodologia própria, que enfatiza a mão na massa para dar vida ao currículo. Nossas técnicas de ensino são baseadas em atividades práticas, nas quais professores são preparados a fazer estudantes colaborarem em projetos e resolverem problemas juntos. Nossa preparação envolve quatro áreas: física, química, biologia e matemática. Incorporamos a todas elas as habilidades do século 21: resolução de problemas, trabalho em equipe e pensamento crítico. Os formadores são treinados para dar assistência individualizada aos professores e ajudá-los a abraçar nossa metodologia com confiança, aumentando o número de atividades práticas realizadas na sala de aula e os resultados de aprendizagem.
Sim, e positivas. Um exemplo: de acordo com a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, 84% das escolas participantes do STEM Brasil tiveram aumento de 20% nas notas de matemática dos alunos. E 88% das escolas brasileiras envolvidas mantêm o programa após a primeira fase, que tem duração de dois anos.
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