NOTÍCIA
Antes dados como extintos, indígenas do Estado do Amazonas reconstruíram a própria identidade
Identidade. São os significados dessa palavra que o povo baré tem buscado nas últimas décadas, busca expressa nas páginas de Baré: povo do rio. Organizado por Mariana Herrero e Ulysses Fernandes, o livro olha passado, presente e futuro de um povo que já foi dado como extinto, mas que hoje é a décima população indígena do Brasil.
Atualmente, a maioria dos baré vive próxima aos municípios de Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira, no noroeste do Estado do Amazonas. Após séculos de exploração, perderam não só parte do território, mas sua cultura, crenças e sua língua. Hoje, o nheengatu desempenha o papel de língua étnica. Símbolo da colonização pelos jesuítas, essa língua foi subvertida e agora faz parte da resistência para preservar crenças, costumes e tradições.
Baré: povo do rio, organizado por Mariana Herrero e Ulysses Fernandes (Edições Sesc São Paulo, 340 págs., R$ 70) |
Além da participação de antropólogos, escritores e etnólogos, o livro traz depoimentos de Braz França e Marivelton Barroso, lideranças indígenas dos baré. Eles narram a história de seu povo, mostrando a reconstrução da identidade perdida e resgatada a cada dia. O registro fotográfico é rico e transporta o leitor para o cotidiano da região do alto rio Negro.
O antropólogo Paulo Maia Figueiredo descreve em um dos capítulos mais interessantes sua estadia entre o povo baré, com o qual viveu alguns anos. Em seu depoimento, narra o culto do Jurupari, um dos mais importantes rituais dos baré, uma celebração religiosa que dura vários dias e tem papel iniciático na comunidade. Dele, somente os homens podem participar. Mulheres e crianças não podem nem mesmo ver os instrumentos musicais que ressoam durante o ritual.
No Brasil, a lei federal 11.645, de 2008, institui o ensino das temáticas afro-brasileiras e indígenas no âmbito de todo o currículo escolar. O livro é uma oportunidade não só para que se conheça um pouco mais da cultura baré, e também mostra que a temática indígena não se restringe às aldeias e comunidades mais afastadas, mas que faz parte do nosso dia a dia.
Também foi realizado um documentário homônimo que registra e divulga a cultura do povo baré. Antes de finalizado, foi exibido aos baré, para que pudessem ajudar a construir sua própria representação, num processo que tem caracterizado a etnografia visual contemporânea.
OUTRAS LEITURAS
Menina japinim, de Ana Miranda
(Companhia das Letrinhas, 64 págs., R$ 34,90)
Inspirada em seus estudos das línguas dos povos kaxinauá e ashanika, do Acre, a autora narra como uma menina virou um passarinho. Depois de desobedecer a mãe ao subir numa árvore e visitar o regatão, ela descobre que não é mais menina, e sim japinim.
A esperança é uma menina que vende frutas, de Amrita Das
(Companhia das Letras, 32 págs., R$ 29,90)
A partir de suas próprias experiências, Amrita conta uma história sobre as dificuldades de como é ser mulher em uma sociedade patriarcal. O destaque do livro são as vibrantes ilustrações da própria autora, que utiliza um estilo de pintura folclórica indiana chamado mithila.
Awani, de Carolina Cunha
(Edições SM, 64 págs., R$ 38)
A obra traz um pouco das lendas e mitos dos povos iorubá e fon, que deixaram suas marcas no Brasil, principalmente na Bahia. No livro, conhecemos um dos personagens mais recorrentes dessas tradições, Awani, que foi nomeado guardião dos segredos e mensageiro de orixás e mortais.