NOTÍCIA
Vinte anos depois de lançado, conceito de cidades educadoras ainda sofre resistências
Publicado em 10/09/2011
Em 1989, há 20 anos, Barcelona lançava o conceito de cidade educadora. Nessa esteira, criava uma rede internacional de municípios determinados a fazer da educação o centro de suas propostas políticas.
Segundo esse conceito, cada artéria, instituição, administração ou empresa teria por responsabilidade, coletiva e solidariamente, a formação dos cidadãos. É um sonho um pouco louco dos 400 vereadores das municipalidades que aderiram à Associação Internacional das Cidades Educadoras (Aive), uma rede que pretende, em escala local e além, reforçar a democracia participativa.
A idéia foi gestada no início dos anos 1990, quando Pasqual Maragall, o prefeito da capital catalã, criou, com vistas aos Jogos Olímpicos de 1992, canteiros de renovação em todas as áreas: urbanismo, cultura, transporte. A cidade de Gaudi tomava pé de uma vez da modernidade, ficando entre as grandes metrópoles do século 21. "Quando nos candidatamos para acolher os Jogos Olímpicos", lembra-se Pilar Figueras, secretária-geral da associação, "Pasqual Maragall achava que devíamos refletir sobre uma ligação cidade-educação. Nós éramos poucos, entre os quais a pedagoga Marta Mafa, figura histórica do movimento catalão de renovação pedagógica, a organizar um congresso e a reunir políticos que compartilhavam daquela idéia de que a cidade é um agente educador". Foi estabelecida uma carta que definia em 20 pontos o que devia ser uma cidade educadora, pois se todas as cidades são educativas, poucas são também educadoras. A idéia central era que uma cidade, por sua estrutura, por sua organização espacial e social, envia mensagens positivas ou negativas, cujos prolongamentos educativos são evidentes.
Desabrochar, agora
Porém, essa concepção enfrenta, como assume a própria Pilar Figueras, resistências no corpo das administrações. "As pessoas que não se sentem reconhecidas como agentes educativos se julgam, em princípio, pouco implicadas: os responsáveis pelo meio ambiente, pelas finanças, pela pavimentação, pela habitação, saúde, sem falar do setor privado. No entanto, todos esses agentes desenvolvem tarefas que têm uma incidência educativa. Convidamos as cidades a participar dessa descoberta ajudando-as a desenvolver essa nem sempre nítida noção de educação." Para fazer isso, o comitê executivo, com sede em Barcelona, trabalha na elaboração de um programa piloto de formação.
Desde abril de 2008, um grupo de especialistas enviados para sete cidades da rede (Rosário, Quito, Medelín, Santa Cruz de la Sierra, Córdoba, Budapeste e Rennes) trabalha na elaboração das propostas em termos de conteúdo e de metodologia que possam sugerir vias, caminhos, métodos, enfim, um percurso.
Esse esforço de formalização vai se juntar às iniciativas já arquivadas no banco de dados da associação, onde cada um pode buscar inspiração e contatar diretamente a pessoa responsável pelas experiências descritas. "As autoridades locais multiplicam as relações internacionais para conhecer soluções adotadas alhures, resolver tal ou qual dificuldade ou colocar em prática a construção de uma ludoteca, a realização de um livreto dedicado às famílias e aos professores, a instauração de um conselho municipal de crianças, o lançamento de uma semana de aprendizagem ou ainda a abertura de uma casa intergeradora." Do local ao global e reciprocamente.
(Tradução: Mônica Cristina Corrêa)