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Educação no Mundo

Como é a educação na Finlândia?

Em intercâmbio no Brasil, professor e estudantes finlandeses do ensino médio comentam diferenças entre os sistemas educacionais dos dois países

Publicado em 08/06/2017

por Juliana Fontoura

finlandeses intercâmbio Grupo de estudantes e professores da Finlândia passou 10 dias em intercâmbio no Brasil (Crédito: Divulgação/Colégio Liceu Jardim)

Grupo de estudantes e professores da Finlândia passou 10 dias em intercâmbio no Brasil (Crédito: Divulgação/Colégio Liceu Jardim)

Grupo de estudantes e professores da Finlândia passou 10 dias em intercâmbio no Brasil (Crédito: Divulgação/Colégio Liceu Jardim)

Quando o assunto é educação, a Finlândia é uma das maiores referências mundiais. O país nórdico está constantemente investindo na evolução de seu sistema educacional e figura sempre nas primeiras posições do Pisa, avaliação internacional que mede o nível educacional de jovens de 15 anos nos países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Na edição 2015, por exemplo, a Finlândia apareceu em 5º lugar em ciências, 4º em leitura e 12º em matemática.
Mas qual o motivo para o modelo finlandês dar tão certo, ou ser tão bem visto? Para Helmi Halme, estudante finlandesa de 17 anos, o sucesso tem a ver com o incentivo: “A educação é muito valorizada, e isso motiva os estudantes”, avalia.
Helmi veio ao Brasil junto a outras 11 estudantes finlandesas do ensino médio e dois professores para um intercâmbio de 10 dias no Colégio Liceu Jardim, localizado em Santo André, na região metropolitana de São Paulo. A escola brasileira firmou uma parceria com a escola Tikkurilan Lukio, que fica em Vantaa, cidade próxima a Helsinque, capital finlandesa, para a realização de intercâmbio de alunos do ensino médio. Este já é o segundo ano em que a iniciativa ocorre.
Em entrevista à Educação, Helmi Halme, a também estudante Ronja Haikarainen (18) e o professor de psicologia Atte Tahvanainen (35) contaram um pouco de como é a educação na Finlândia e de suas diferenças com relação ao modelo brasileiro.
Estudantes da Finlândia fazem intercâmbio no Brasil e comentam diferenças entre sistemas de ensino

Da esquerda para a direita: Atte Tahvanainen (professor de psicologia) e as estudantes Helmi Halme e Ronja Haikarainen. (Crédito: Maisa Doris)

Diferenças e semelhanças
Durante a experiência no Brasil, os finlandeses puderam conhecer um pouco da cultura do país e de como funciona seu sistema educacional. Uma das primeiras diferenças a serem notadas pelas intercambistas, além do fato de muitos estudantes serem levados à escola de carro pelos pais – enquanto na Finlândia eles vão de ônibus ou trem – foi o fato de o Brasil ter colégios particulares. “Na Finlândia, praticamente não temos escolas privadas, não precisamos pagar mensalidade”, observa Helmi.
Outro ponto destacado é o horário das aulas. “Na Finlândia, o dia não começa tão cedo”, afirma Ronja Haikarainen. “Em geral, as aulas começam às 8h30 e vão até às 15h ou 16h”, explica Helmi. Além de irem para a escola um pouco mais tarde, os alunos finlandeses também contam com mais intervalos que os brasileiros. Após cada aula, eles têm uma pausa que dura cerca de 15 minutos.
Já com relação ao sistema de ensino, Atte Tahvanainen, professor de psicologia que veio acompanhar as alunas durante o intercâmbio, afirma não ter encontrado grandes diferenças em como as coisas são feitas em sala de aula. Mas ele ressalta que, na Finlândia, há mais ênfase no ‘trabalho independente’, em que os alunos fazem pesquisas e exploram assuntos antes da aula. Na escola, aproveitam para trabalhar o tema e tirar dúvidas com o professor. “Em psicologia, por exemplo, damos a eles um problema ou caso. Nos exames finais, eles têm de ser capazes de avaliar, analisar, resumir, discutir”, explica o professor. “Mas eu não diria que isso não está acontecendo no Brasil. É uma questão de ênfase.”
Já ao fim do ensino médio, assim como os brasileiros, os estudantes finlandeses também precisam passar por exames de admissão para entrar na universidade – que podem incluir provas específicas em alguns cursos como arquitetura, por exemplo. E os ‘vestibulares’ exigem bastante dos alunos. “Há livros que eles têm de ler, os exames são bem precisos. Muitas pessoas querem entrar. Os alunos têm bastante trabalho”, explica o professor Atte. Algumas universidades aceitam as notas das provas finais do ensino médio para fazer a seleção, mas, na maioria dos casos, há a aplicação de testes.
Educação bilíngue
O sistema educacional finlandês também valoriza muito o aprendizado de línguas estrangeiras, especialmente o inglês. Na escola, os estudantes podem escolher um idioma para estudar além do finlandês e do sueco (línguas oficiais do país). De acordo com o Statistics Finland, instituição pública que fornece estatísticas sobre o país, em 2016, o inglês foi a língua estrangeira mais estudada por alunos do 1º ao 6º ano, seja como matéria obrigatória, seja como opcional.
No ensino médio, porém, também é possível ir mais além: algumas escolas finlandesas oferecem o bacharelado internacional (em inglês, International Baccalaureate ou IB program), um programa de educação bilíngue que tem como proposta facilitar a entrada dos estudantes em universidades no exterior.
No bacharelado internacional, todas as disciplinas – exceto a língua materna – são ministradas em outro idioma – em muitos casos, o inglês. A modalidade é oferecida em diversos países do mundo, incluindo o Brasil. Aqui, ela pode ser encontrada em 22 escolas – todas particulares. Já na Finlândia, 20 instituições oferecem o IB, sendo 18 delas públicas. Uma delas é a Tikkurilan Lukio.
Helmi e Ronja fazem parte do programa. Para serem aceitas, as estudantes tiveram de passar por um exame de admissão bastante concorrido. “É bem difícil entrar no bacharelado internacional. Muitos querem entrar, mas apenas 30 alunos por ano são admitidos”, explica Atte. A prova inclui testes múltipla-escolha, realização de entrevista e a elaboração de duas redações – uma na língua materna e outra em inglês.
Moldando a própria grade
Além da educação bilíngue, o programa também oferece aos estudantes a oportunidade de se aprofundar mais nas matérias com as quais se identificam. Na Finlândia, mesmo no ensino médio regular, isso já é possível. Se o aluno se interessa por ciências sociais, por exemplo, pode focar seus estudos em matérias que se relacionam com esta área – como história e filosofia. Mas, no IB, é possível focar ainda mais. Os estudantes escolhem seis disciplinas e são avaliados, nas provas finais, apenas nas matérias que decidiram cursar.
No Brasil, a possibilidade de traçar um percurso de acordo com os próprios interesses no ensino médio é uma das mudanças instituídas pela reforma da etapa, sancionada em fevereiro deste ano. Se, por aqui, há a preocupação com a possibilidade do aluno não saber escolher – ou, no caso do estudante de escola pública, não ter poder real de escolha e ficar sujeito ao que for oferecido pela rede em que está matriculado -, na Finlândia isso é resolvido com o apoio de conselheiros. Esses profissionais acompanham cada aluno durante sua trajetória, ajudando na escolha das disciplinas e no processo de descoberta de qual carreira seguir.
No caso de Helmi, nunca houve dúvida: ela está certa de que quer ser médica. “Minha grade não tem nenhum estudo relativo a humanidades. Para mim, que adoro ciências, é ótimo”, ela conta. “Basicamente, escolho matérias que me façam sentir que não estou estudando, apenas aprendendo sobre algo que estou muito interessada.” Além disso, também participa de programas que possam complementar sua formação. Um deles, de tecnologia, só foi possível devido a uma parceria da escola em que estuda com um centro de ciências localizado na região. Nele, Helmi assiste a web seminários, participa de discussões e, ao final, participará da elaboração de um projeto.
Já Ronja Haikarainen ainda não sabe qual carreira quer seguir no futuro. Mas isso está longe de ser um motivo para angústia. “Eu ainda não sei o que quero ser, então escolho as disciplinas de acordo com aquilo que gosto mais de estudar”, explica. “Ainda posso fazer mudanças, há uma série de possibilidades. Não preciso me preocupar.”
A escola onde Helmi e Ronja estudam, a Tikkurilan Lukio, tem cerca de 1.200 alunos – todos do ensino médio. Os estudantes podem focar em grupos de matérias específicas, como linguagem, humanidades, ciências naturais, matemática, arte, educação física e comunicação – sendo esta última uma das especialidades da instituição. Os estudos que integram a parte não-obrigatória do currículo podem ser modificados com o devido acompanhamento do conselheiro.
A carga horária de cada disciplina também pode variar de acordo com o interesse do estudante – é possível fazer apenas a parte obrigatória ou se matricular em estudos aprofundados. “Em física, por exemplo, os estudantes finlandeses só precisam fazer, obrigatoriamente, uma matéria. Mas eles também podem fazer 20. Se eles quiserem, podem aprender muitas coisas de física no ensino médio. Aqui, todos os estudantes aprendem a mesma coisa”, explica Sami Jomaa, diretor internacional do Colégio Liceu Jardim, que foi à Finlândia acompanhar os alunos brasileiros no intercâmbio do ano passado.
Inspiração
Júlia Moniz e Bruno Alessi, estudantes do 2º e 3º ano do ensino médio, respectivamente, fizeram o intercâmbio para a Finlândia em 2016. Eles passaram 10 dias na escola de Helmi e Ronja. Para eles, o maior número de intervalos é um dos fatores que poderiam servir como inspiração e fazer a diferença no contexto brasileiro. “Você entra a cada aula com muito mais disposição para aprender”, avalia Bruno.
O estilo de aula também chamou a atenção. “As carteiras são em formato de trapézio, e permitem que os alunos se juntem, formem ilhas. O professor é mais um meio de consulta”, explica o estudante. “Lá, a autonomia é incentivada. E, com autonomia, você aprende mais – e do seu jeito.”
Para Júlia, muito dessa autonomia vem do estilo de lição de casa, que prioriza pesquisas e não a resolução de exercícios. “Vários alunos levam computador para a aula. E os professores também orientam a fazer pesquisas e levar para discutir em sala. Há uma conexão maior com a realidade do que aqui. Essa foi a grande diferença.”

Autor

Juliana Fontoura


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