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Transformação humano digital da educação é inevitável

Como desenvolver pessoas para criar um mundo novo e não simplesmente reproduzir o passado com novas expressões e palavras?, indaga professor da PUCPR e diretor executivo da Província Marista Brasil Centro-Sul

Publicado em 18/06/2021

por Redação revista Educação

Por June Cruz *: A atual circunstância sanitária oriunda da pandemia da covid-19 provocou uma série de adaptações no processo educacional de quase todo o mundo, com grandes impactos no processo de ensino e aprendizagem. Salas de aula, até então, físicas e domiciliadas em escolas e universidades, foram transferidas de forma intensa, para ambientes virtuais de aprendizagem, provocando instituições, gestores, educadores e famílias, a interagirem de uma forma ainda mais intensa na busca do complexo equilíbrio entre a segurança sanitária, o equilíbrio econômico e os reflexos na aprendizagem e relacionamento dos estudantes.

Leia: Tecnologia digital não é ferramenta, mas linguagem

Nesse contexto, tem-se que registrar o aumento expressivo do uso de Tecnologias da Informação e Comunicação, as TIC´s, nos processos educacionais de todos os níveis, que nos levam a uma série de mistérios e provocações acerca da denominada transformação humano digital.

Não tem como fugir

Em recente painel publicado pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), no âmbito da educação formal, cerca de 87% dos usuários de internet, acima de 16 anos, regularmente matriculados, fizeram uso da educação por meios digitais ofertados pelas instituições de ensino. Grande parte dessa experiência ocorreu por meio do celular, sobretudo nas classes D e E (54%). Dentre as principais dificuldades percebidas na pesquisa, além da baixa qualidade da conexão, está justamente um dos principais elementos do processo educativo: a relação humana de processo e aprendizagem.

Rotinas que possibilitavam experiências vivenciais de compaixão, relacionamento, amizade, dor, raiva, solidariedade, vaidade, entre outros, tornam-se difíceis, diante do distanciamento necessário. Nos levando ao claro desafio de provocar a transformação digital, pautada em experiências humanas, que reconheçam o aluno como ator central da prática educativa, envolvendo de forma ativa, todas as partes interessadas ao seu pleno desenvolvimento.

Longe de reproduções

Nesse sentido, algumas questões inerentes à temática, devem provocar um intenso movimento de discernimento e inovações acerca da adoção permanente da transformação humano digital na educação, tais como:

  • Como garantir uma transformação humano digital na educação que seja pautada em níveis de qualidade e que garantam um ensino e aprendizagem integral e adequado às nossas crianças e jovens?
  • Como expandir o acesso à educação em um país com relevantes índices de exclusão digital?
  • Como promover uma experiência feliz de descoberta do novo, integrando a racionalidade e o sentimento humano de forma contributiva para uma existência?
transformação humano digital da educação

June Cruz é professor de mestrado e doutorado em administração e de Gestão cooperativa da PUCPR

Devemos nos questionar, ainda, sobre como, neste cenário, é possível promover a interação humana autêntica e assim inspirar o desejo de aprendizado durante toda a vida, também conhecido como life long learning. Como desenvolver pessoas para criar um mundo novo e não simplesmente reproduzir o passado com novas expressões e palavras?

E ainda, sob esta nova realidade, quanto ao direito de sonhar das nossas crianças e jovens, é importante avaliar as possibilidades na busca por promover experiências emocionais para que elas desenvolvam projetos de vida e não apenas profissões.

Leia: O que é inovar na educação?

Instituições de ensino precisam apoiar esse processo

Passando para um lado mais técnico, questionamentos importantes estão ligados à estruturação de soluções integradas de sistemas e a possibilidade de desenvolvimento de modelos preditivos de novas formas de oferta educativa, que respeitem a particularidade de cada estudante e o reconhecimento adequado dos profissionais da educação.

Também precisamos refletir sobre como animar as instituições de ensino superior, para que provoquem os futuros educadores e gestores a encarar o futuro inevitável e como formar professores capazes de substituir o instrucionismo pela educação baseada no questionamento e na elaboração própria.

Por fim, e não menos importante, é necessário refletir sobre como podemos assegurar, de forma inequívoca, que os dados das pessoas estejam seguros e preservados. Assim como é necessário atuar para que as decisões acerca desse tipo de tecnologia sejam pensadas a partir de boas práticas de governança, que considerem princípios ambientais e sociais.

Essas são apenas algumas das muitas questões a serem discernidas e refletidas a partir da integração da tecnologia com a educação humana, que devem ser fortemente provocadas, por meio da prática da ciência e da aplicação criativa da capacidade humana de se adaptar ao denominado novo normal e a suas implicações ainda não conhecidas.

O mundo que queremos

Afinal, nossas experiências recentes nos levam a crer de forma mais intensa no ambiente BANI, que em português significa Fragilidade, Ansiedade, Não linearidade e Incompreensibilidade. Em suma, o que aprendemos com o conceito é que nada é certo ou para sempre. O importante é passar pela tempestade.

Portanto, uma alternativa é promover a prática da inovação focada em necessidades humanas, que visem responder não apenas os anseios atuais de nossa sociedade, mas que visem prever e responder a nossos desejos futuros, respondendo uma questão central: como devem ser as nossas escolas e universidades? Afinal, será por meio delas que animaremos a existência de nossos futuros poetas, médicos, cientistas, enfermeiros, pedreiros, educadores, administradores, advogados, engenheiros, entre outros.

Dito de outra forma, o que as tecnologias, a ciência, a sociedade e o mercado estão sinalizando como futuros prováveis? Dentre eles, o que preferimos? E o que é realmente possível? Por fim, a inevitável e derradeira questão da transformação humano digital seria: o que desejamos para nós, para nossos filhos e netos?

*June Cruz é professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e diretor executivo da Província Marista Brasil Centro-Sul (PMBCS).

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