NOTÍCIA
Dificuldade financeira e não adaptação com o modelo remoto estão entre as causas. Pesquisa ouviu mais de 68 mil pessoas de 15 a 29 anos de todo o Brasil
Publicado em 16/06/2021
A evasão escolar já foi cogitada por quatro em cada 10 jovens do ensino básico e superior desde que suas rotinas foram alteradas pelo coronavírus. A informação consta na segunda edição da pesquisa Juventudes e a pandemia do coronavírus (covid-19), divulgada este mês. Na primeira edição, apresentada em junho de 2020, esse número era de 28%.
A pesquisa, promovida pelo Conselho Nacional da Juventude (Conjuve), em parceria com Em Movimento, Fundação Roberto Marinho, Mapa Educação, Porvir, Rede Conhecimento Social, Unesco e Visão Mundial, ouviu 68 mil pessoas de 15 a 29 anos de todo o país, entre 22 de março e 16 de abril de 2021 e aponta também que 6% dos jovens trancaram a matrícula.
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Os principais motivos que levam esses estudantes a interromperem os estudos, segundo a pesquisa, são financeiros (21%) e dificuldades com ensino remoto (14%). Para voltar, gostariam de ter estabilidade sanitária e melhores condições econômicas. Quase metade dos jovens que interromperam os estudos (47%), disseram que retornariam às aulas se toda a população fosse vacinada, e 36% querem garantia de renda básica ou auxílio emergencial.
“Todo este contexto tem forte influência no processo de desenvolvimento da população jovem no Brasil. A situação é grave. Precisamos urgentemente de ações concretas, com real capacidade de promover mudanças, atendendo as demandas emergenciais e apresentando perspectivas de futuro. Uma série de direitos têm sido violados ou negligenciados e para o enfrentamento da complexidade desses desafios será fundamental a construção de soluções que sejam baseadas em evidências”, afirma Marcus Barão, presidente do Conselho Nacional da Juventude.
Os desafios dos jovens durante a pandemia não se limitam à sua relação com educação e a possível evasão escolar, mas estão interligados em todas as áreas pesquisadas. A preocupação financeira é confirmada quando eles são consultados sobre renda, por exemplo. Com a extinção do auxílio emergencial, aumentou para 38% a proporção de meninos e meninas que buscaram complementar sua renda por necessidade em 2021, ante 23% em 2020. Entre os jovens pretos esse índice é maior: 47%.
Quem conseguiu ter esse complemento recorreu à informalidade. Entre os quatro a cada 10 que tiveram uma renda, dois fizeram trabalhos pontuais sem carteira assinada e um trabalhou por conta própria ou abriu um negócio. Para lidar com os efeitos da pandemia no trabalho, no entanto, eles querem apoios para o mercado formal. 25% acreditam que a ação prioritária para instituições públicas e privadas ajudarem jovens é estimular o surgimento de novos trabalhos, 20% querem políticas de renda emergencial para famílias vulneráveis e 20% desejam ampliação dos empregos formais.
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Outro apoio importante que os entrevistados desejam é para lidar com a sua saúde mental. Seis a cada 10 dos jovens consultados relataram ter sentido ansiedade e feito uso exagerado de redes sociais durante a pandemia, enquanto cinco em cada 10 disseram que sentiram exaustão ou cansaço; e quatro a cada 10 tiveram insônia ou distúrbios de peso. Já um em cada 10 admitiram que chegaram a ter pensamentos suicidas ou de automutilação. Diante desses sentimentos, metade dos jovens considera prioritário garantir atendimento psicológico na saúde pública e 37% acham que esse atendimento deveria acontecer nas escolas.
Entre as medidas de autocuidado mais adotadas pelas juventudes durante a pandemia estão as atividades físicas (51%) e consultas médicas de rotina (31%). Mesmo assim, muitos não conseguiram adotar esses cuidados: cinco a cada 10 que não têm se exercitado, sete a cada 10 não foram a médicos ou odontologistas e nove a cada 10 informaram não ter iniciado psicoterapia. “Não consigo pagar ou custear, mas preciso de um atendimento psicológico”, essa é a afirmação de uma jovem que participou da oficina de Perguntação, metodologia de construção coletiva que foi usada para realizar o levantamento.
Aliás, para se prevenir do coronavírus, 82% querem tomar a vacina. A possibilidade de imunizar a maior parte da população, inclusive, é vista por 92% dos jovens que participaram da pesquisa como uma maneira de trazer otimismo para as juventudes brasileiras, enquanto 87% acreditam que é preciso implantar políticas para conter sobrecarga no sistema de saúde e 84% defendem que um protocolo para lidar com futuras crises sanitárias é um caminho de garantir boas perspectivas. O mesmo percentual acha necessário a criação de políticas para amenizar efeitos da pandemia na educação.
“A pesquisa reforça a necessidade de defender políticas públicas desenhadas e implementadas de forma intersetorial. Os fatores associados à possibilidade de abandono escolar, por exemplo, são múltiplos: necessidade de ganhar dinheiro, dificuldades para se organizar, acompanhar e aprender no contexto do ensino remoto, necessidade de cuidar de filhos e outros parentes, problemas de saúde, incluindo depressão. A evasão escolar gera consequências severas para jovens, que vivem menos, com menos saúde, com menos renda ao longo da vida. Essa violação do direito à educação gera uma perda de R﹩ 220 bilhões por ano, 3,3% do PIB. Em tempos de crise sanitária e econômica, observamos que a agenda educacional é prioritária, é urgente”, completa Rosalina Soares, gerente de pesquisa e avaliação da Fundação Roberto Marinho.
Confira o relatório completo: www.juventudeseapandemia.com.
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