NOTÍCIA
Equivalência de diploma e ensino de língua inglesa desde a educação infantil são apostas para atrair famílias que desejam enviar seus filhos para estudar no exterior
Publicado em 10/03/2017
O Institute of International Education (IIE), organização norte-americana sem fins lucrativos que promove a pesquisa e o ensino superior, afirma em seu relatório Open Doors (2016) que o Brasil já está entre os países que mais enviam estudantes para universidades americanas. Na América Latina, entre 2015 e 2016, somente Brasil, Venezuela e México enviaram mais de 8 mil alunos para o vizinho do norte. Os campeões de envio de estudantes para aquele país são China (328 mil), Índia (165 mil), Arábia Saudita e Coreia do Sul (61 mil), no mesmo período analisado. O relatório indica que estudantes estrangeiros contribuíram com US$ 35 bilhões para a economia americana em 2015. O documento também aponta que a presença de brasileiros nas universidades americanas cresceu apesar da redução do programa Ciência sem Fronteiras e da alta do dólar. Entre as razões mais citadas pela busca das universidades americanas está o aumento da classe média em países como Índia e China e a dificuldade de ingresso em universidades top nos países de origem dos alunos. Por exemplo, há um número significativo de brasileiros que viajam ao exterior para estudar medicina.
Mas o que leva tantos jovens a buscar uma formação fora do Brasil? A resposta passa por mudanças estruturais na economia global, que apontam para a formação de uma comunidade internacional altamente móvel e integrada. Essa comunidade, no entanto, não está aberta para todos. Dos alunos estrangeiros nos Estados Unidos, 46,1% estão nas áreas de Stem (ciências, tecnologia, engenharia e matemática) e 19,2% em negócios.
Quem deseja ingressar em uma universidade nos Estados Unidos precisa obter boas pontuações no Toefl ( Test of English as a Foreign Language – teste de língua inglesa para não nativos) e no SAT (Scholastic Assessment Test, espécie de Enem americano). Essa pontuação qualifica às diferentes universidades. Além disso, muitas universidades norte-americanas incluem em seu processo de seleção uma análise mais global do percurso do aluno, valorizando atividades como participação em fóruns, feiras de ciência e engajamento geral junto à comunidade.
No colégio paulistano Alef, em São Paulo, o foco é uma formação global visando não apenas o ingresso em universidades, mas a vida em geral. Antonieta Megale, coordenadora pedagógica de língua inglesa, explica que a proposta da escola para o ensino médio inclui disciplinas obrigatórias e optativas. Os alunos são habituados, desde o 6o ano do fundamental, ao Toefl, além de poderem cursar um preparatório para o SAT. Em quase todas as turmas há candidatos a estudar nos Estados Unidos ou em Israel (onde também é possível ingressar em uma universidade prestando provas em língua inglesa).
No Alef, há aulas de matemática em língua inglesa e grande investimento na participação dos alunos em feiras de ciência e debates em outros países. “Nem todo aluno que pensa em estudar fora no primeiro ano do ensino médio acaba optando por fazê-lo de fato. Mas a escola faz um grande investimento para que os jovens tenham escolhas – não somente no que se refere a deixar o Brasil. E o inglês dá acesso ao mundo”, diz Antonieta.
Um dos investimentos que mais se popularizou entre escolas particulares nos últimos anos é a oferta de high school integrada ao currículo tradicional. Além do currículo brasileiro pela manhã, os alunos cursam disciplinas extras – como história e governo americano, estudos multiculturais, matemática aplicada, ciência aplicada, escrita criativa, variando de acordo com a instituição parceira de outro país. Além disso, é feita a equivalência entre disciplinas como matemática, física e biologia.
Para Juliana Faria Brito, diretora do Colégio Faria Brito, do Rio de Janeiro, o Enem é mais difícil que o SAT. “É mais exaustivo, há muito mais texto”, afirma. Antes de sua escola firmar parceria com a Universidade de Cambridge, para avaliações, e USD/United States Diplomas, para equivalência de diploma, já oferecia educação bilíngue. A oferta de high school começou em 2016. As disciplinas extras são oferecidas duas vezes por semana e o custo fica em torno de R$ 1,5 mil mensais.
No Colégio Magister, em São Paulo, o high school é cursado ao longo de 4 anos, a partir do 9o ano do fundamental. Há um professor nativo e outro que valida o trabalho no exterior. Mais do que oferecer um diploma que promete abrir as portas para fazer graduação em uma universidade estrangeira, a escola está interessada num padrão pedagógico internacional. “Há um conjunto de competências que é um diferencial para o trabalho e a vida acadêmica”, afirma Katia Martinho Rabelo, diretora da instituição. “Um exemplo é o design thinking, proposta para que o aluno faça uma imersão em determinado problema e crie novas soluções. O aluno passa a buscar respostas de forma ativa”, resume.
Outras escolas oferecem a seus alunos oportunidade de entrar em contato com instituições de ensino superior estrangeiras. Wilton Ormundo, diretor de ensino médio da escola Móbile, diz que o colégio tem oferecido palestras, encontros e feiras com representantes de universidades norte-americanas e europeias a seus estudantes. “Em 2016, nossos alunos tiveram contato diretamente com responsáveis pela admissão de alunos estrangeiros de instituições universitárias de excelência como a Universidade de Chicago, Yale, Princeton e Columbia.” O interesse das famílias é crescente, mesmo com a crise.
“Formamos cerca de 140 alunos nos últimos quatro anos. Em 2013, três alunos participaram do processo de ingresso em universidades norte-americanas. Em 2014, foram seis alunos; em 2015, doze alunos”, relata. Um atrativo adicional é o modelo americano, mais aberto, em que o aluno pode cursar o core curriculum antes de optar pela área de especialização, o que permite amadurecer melhor a escolha