NOTÍCIA
Descobertas de Einstein sobre o espaço-tempo modificaram a percepção que o homem tem sobre o Universo
Publicado em 01/12/2015
Não é exagero afirmar que depois da Teoria da Relatividade Geral, publicada por Albert Einstein em 1915, o Universo nunca mais foi o mesmo. Ou, ao menos, o que o homem entendia por Universo até então. Mais do que isso: a própria ciência do Homem alterou-se radicalmente ao ver sacudidos conceitos básicos, como a noção de tempo e espaço. A fagulha acesa pelo físico alemão foi tão intensa e radical que na época tornou-se comum definir que poucos entenderam o que aquele jovem cientista estava querendo dizer com massa que deforma o espaço e tempos relativos.
Para compreender a genialidade da Teoria da Relatividade Geral é preciso, todavia, entender como as estruturas da física já haviam sido fortemente abaladas dez anos antes, quando Einstein publicou, em 1905, a Teoria da Relatividade Restrita (ou Especial), afirmando que espaço e tempo não eram absolutos e nem independentes, como vinha sendo sustentado desde o século 17 pelas ideias de Galileu e Isaac Newton. Rompendo com tudo o que se conhecia, Einstein criou o revolucionário conceito de espaço-tempo.
O artigo da relatividade restrita foi publicado sob o título “Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento”. Até 1905, imperava na física o conceito de Galileu, de 1632, no qual todas as leis da física eram as mesmas desde que a velocidade do corpo não mudasse. O exemplo clássico é a pedra lançada do mastro do navio, navegando em velocidade constante: a cena, vista do convés, mostra a pedra caindo em linha reta, da mesma forma que cairia com o navio parado. Esse princípio de Galileu foi depois corroborado por Newton para todas as leis da mecânica propostas por ele.
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Até o final do século 19, a mecânica é o paradigma de teoria na física, e o espaço e o tempo eram considerados absolutos e independentes um do outro: o tempo, que quantificamos com o relógio, era universal, sempre igual para todos; e o espaço, onde medimos as distâncias, constituía um Universo infinito, tal como uma estrada onde tudo acontecia.
Então Einstein chegou e disse que não. Afirmou que as medidas de espaço e tempo dependem do movimento dos observadores; o tempo não é um valor universal, mas relativo para cada um, além de ser conectado ao espaço. E mais: para alguém em movimento, o tempo passa mais devagar, se comparado a outra pessoa em repouso. Por exemplo: para alguém parado num ponto de ônibus, o valor do espaço fica zerado, enquanto o do tempo corre na velocidade máxima, a velocidade da luz, a 300 mil quilômetros por segundo (ou a 1,08 bilhão de quilômetros por hora). Entretanto, se a pessoa se desloca no espaço, correndo para pegar o ônibus, o tempo para ela vai passar um pouquinho mais devagar, pois vai “emprestar” um pouco da sua velocidade para a metade do espaço.
Na prática, em nosso cotidiano de baixas velocidades, a diferença é imperceptível. Entretanto, como experiências comprovaram depois, relógios atômicos de alta precisão levados ao espaço e viajando em grandes velocidades, ao regressarem à Terra, estavam atrasados em comparação a outro relógio anteriormente ajustado do mesmo modo.
Tudo é relativo
Em 1915, a Teoria da Relatividade Geral dá um passo além. Ou um salto. Einstein busca a explicação para os corpos que mudam de velocidade e direção, considerando os efeitos da aceleração – e, no caso, a aceleração natural da gravidade. Para Newton, a gravidade era uma força atuando instantaneamente a longas distâncias. Einstein, porém, teorizou-a como uma propriedade intrínseca do espaço-tempo. O físico alemão não concebia a gravidade como uma força quase mágica entre as massas. Ele então propõe que a Terra gira ao redor do Sol devido à geometria do Universo, que é “deformada” pelo astro-rei. Para Einstein, todos os corpos com grande massa criam curvaturas significativas na “malha” do espaço-tempo, exigindo a atração dos corpos menores.
Paschoal Pimenta, professor de física dos cursos Anglo, sugere um experimento simples e caseiro com bolas e um colchonete para entender a Teoria da Relatividade Geral. Se colocarmos bolas de gude sobre um colchão fino e liso, que representa o espaço-tempo, elas ficarão paradas no mesmo lugar. Mas quando colocamos uma bola de boliche sobre o centro do colchão, as pequenas bolas de gude rolam em direção ao objeto mais pesado, já que a “malha” do colchão – o espaço-tempo – foi “deformada”, permitindo esse movimento.
“O impacto da teoria foi enorme, mas havia um ceticismo muito grande na comunidade científica. Não foi fácil de entender a teoria de Einstein. Por isso, ela demorou a ser aceita. Foi um processo difícil na época”, explica o professor.
A principal comprovação experimental da Teoria da Relatividade Geral aconteceu poucos anos após a publicação do artigo. No dia 29 de maio de 1919, na cidade de Sobral, no Ceará, uma missão científica internacional confirmou que o campo gravitacional do Sol provoca um desvio na trajetória dos raios de luz estelar que passam por ele durante um eclipse. O desvio é causado pela deformação do espaço-tempo ao redor do Sol, resultado do peso da sua massa na malha do Universo.
“Nunca entendi por que a teoria da relatividade, com seus conceitos e problemas tão distantes da vida prática, teve repercussão vigorosa, ou mesmo passional, por tanto tempo”, ponderou, certa vez, Albert Einstein. O fato é que, sem a Física Quântica e sem a Relatividade de Einstein, nunca teria ocorrido o entendimento das propriedades dos semicondutores, material vital para o desenvolvimento da eletrônica, por exemplo. Nosso mundo não teria os processadores que temos hoje. Não haveria internet, assim como muitas das conquistas tecnológicas modernas. E há ainda a energia nuclear.
Resíduos da relatividade | ||||
Um século depois, ideias de Einstein continuam a permitir novos experimentos Com o artigo que propunha a Teoria da Relatividade Restrita, Albert Einstein publicou outros quatro artigos no ano de 1905, todos absolutamente marcantes a tal ponto que, na comunidade científica, diz-se que foi um ano milagroso, só comparado com o intervalo entre 1665 e 1666, o annus mirabilis original, quando Isaac Newton começou a estabelecer as bases do cálculo, da lei da gravitação e da teoria das cores. Cientistas de várias áreas da física e da engenharia passaram o século 20 testando, compreendendo e aplicando as muitas ideias de Einstein. Como, por exemplo, sua fórmula E=mc 2 (que determina a transformação da massa de um objeto em energia, e vice-versa), essencial para o desenvolvimento da bomba atômica. A explicação de Einstein para o efeito fotoelétrico permitiu tecnologias que vão dos fotodiodos aos tubos de televisão. Cem anos depois, os pesquisadores ainda encontram novos modos de criar invenções originais a partir das teorias do físico alemão. Uma das marcas da genialidade de Einstein é o tempo necessário para explorar totalmente, por meio de experimentos, as implicações de suas teorias.
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