Como usar as tecnologias de forma inteligente? Para a neurocientista Suzana Herculano-Houzel, isso acontece quando elas são empregadas como um recurso que nos dá mais tempo e oportunidades. A especialista alerta, por outro lado, que algumas delas podem se tornar “ralo” do nosso tempo — como acontece, por exemplo, com as redes sociais.

Suzana participou do Arco Day, evento da Arco Educação, em 4 de junho, em São Paulo. Durante a palestra, ela elucidou o funcionamento do córtex cerebral e como essa parte do cérebro cria associações e permite ter flexibilidade de comportamento. Isso significa não fazer necessariamente sempre a mesma coisa, ganhar repertório. É possível, portanto, aprender com as experiências vividas e, mais do que isso, antecipar o que pode vir a acontecer — e agir a partir dessa ‘simulação’ de futuro.

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Isso é importante para compreender a forma como a neurocientista define inteligência: “flexibilidade comportamental em prol de estados futuros positivos”. Ela explica que isso diz respeito à capacidade de se manter flexível, manter portas abertas e maximizar futuros possíveis que importam para nós. 

Por que precisamos ir à escola 

Ao longo de sua exposição, Suzana Herculano-Houzel também explicou por que precisamos ir à escola. É na escola, ela conta, que ocorre uma combinação “mágica” de tempo livre e sobreposição de gerações — ou seja, os mais novos convivendo com os mais velhos. Isso oferece oportunidade de transferência de conhecimento para as crianças.

Suzana também alerta que a escola não deve apenas transmitir informação — sobretudo em tempos de internet e Google. “A função da escola é fomentar a transmissão de conhecimento e a construção de conhecimento”, diz. Conhecimento, ela afirma, refere-se à informação aplicada.

Outro ponto é que a escola permite, além de construir competências, descobrir valores. Isso ocorre por meio da oportunidade de experimentar o que não seria experimentado de outra forma. “Ninguém descobre que poderia ser um pianista, um arquiteto extraordinário, um jogador de futebol sensacional, se nunca tiver a oportunidade de botar a mão num piano, numa régua ou numa bola”, explica.

Tecnologias, IA e uso inteligente

A especialista também falou sobre automação — e como “terceirizar” nossa inteligência pode nos tornar menos inteligentes. “Tudo que é processo de automatização pode ser extremamente útil e benéfico para a gente quando traz tempo e oportunidades. Da mesma maneira, a automação é inteligente quando essa automação nos mantém flexíveis. O corolário, é claro, é que terceirizar a sua inteligência, delegando tarefas à automação e às ditas inteligências artificiais, pode tornar você menos inteligente ao roubar a sua flexibilidade e as suas oportunidades de construir conhecimento, habilidades e oportunidades de crescimento.”

Suzana também pontua que, se por um lado as tecnologias não nos tornam mais inteligentes, por outro, facilitam a aplicação da nossa inteligência. “Toda tecnologia que facilita o uso da nossa inteligência abre possibilidades. Isso é o uso inteligente de tecnologias”, afirma. Ela exemplifica com a consulta a um mapa. “O mapa é uma tecnologia, e quando está disponível para a sua consulta, aumenta suas possibilidades, você tem mais possibilidades de fazer as escolhas que interessam a você. Note que isso é completamente diferente de você abrir o Google Maps e simplesmente seguir sem pensar as instruções que o algoritmo te dá.”

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