NOTÍCIA

Futuro da escola

Em Goiânia, escola incentiva alunos a falar sobre sentimentos

Escola Ethos investe no programa 'Caráter conta': alunos aprendem valores como confiabilidade, respeito e consciência social — que compõem a cultura escolar e ajudam na prevenção ao bullying

Oferecer aos estudantes uma educação socioemocional, com a possibilidade de desenvolver confiabilidade, respeito, responsabilidade, justiça, consciência social e bondade — não apenas com aulas semanais, mas com uma cultura que perpassa toda a comunidade escolar e que ajuda no combate ao bullying. Essa é a proposta do programa Caráter conta (em inglês, Character counts), adotado pela Escola Ethos, em Goiânia.

O programa foi criado pelo Instituto Josephson, nos Estados Unidos. Para conseguir a certificação e adotá-lo, a Ethos enviou uma de suas donas ao país estadunidense para uma formação. Isso ocorreu em 2013 e, desde então, o Caráter conta passou a fazer parte da escola, que possui duas unidades que totalizam 816 alunos.

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“O programa traz a ideia de que a nossa vida é basea­da em nossas escolhas. Então, para fazer boas escolhas, a gente tem de cultivar bons valores”, explica Lílian Maragno, diretora pedagógica da Escola Ethos. “Quando falamos de responsabilidade, por exemplo, falamos de gestão de tempo, postura de aluno; quando falamos de consciência social, falamos do quanto as nossas ações impactam o mundo.”

A Escola Ethos atende da educação infantil ao 5º ano do ensino fundamental, e a proposta de formação de valores começa desde cedo. Segundo Lilian, para os pequenos, o trabalho é mais lúdico. Depois, no ensino fundamental, há conceitos aprofundados, inclusive com a abordagem da cultura antibullying.

Caráter Conta Escola Ethos

Programa Caráter conta vai além das aulas (foto: arquivo pessoal)

Escola Ethos Goiânia

 Alunos participam do início do projeto Responsabilidade (foto: arquivo pessoal)

Política antibullying

Para combater o bullying, cada um dos seis pilares do programa é vinculado à prevenção do problema — sendo respeito o mais diretamente ligado a esse propósito. “A gente vai falar como o outro se sente quando sofre [bullying], como a pessoa se sente quando o pratica, como os envolvidos se sentem e como eles podem ter uma ação respeitosa quando presenciam o bullying”, conta Lílian.

Além disso, a instituição conta com uma psicóloga escolar que entra em sala de aula para fazer reflexões sobre o assunto com os estudantes e circula pelos espaços, o que permite que ela entenda o que ocorre no local e observe relações que possam estar fragilizadas e que precisem de cuidado, por exemplo. De acordo com a diretora pedagógica, trata-se de um trabalho preventivo, para não permitir que uma cultura de bullying se instale.

Cultura escolar

Embora o Caráter conta tenha uma aula semanal — que não possui nota, mas sim uma autoavaliação —, Lílian ressalta que o projeto vai muito além disso. “O Caráter conta é tão expressivo na escola e na comunidade não por conta das aulas, ele não teria essa força se fossem só as aulas. Tem essa força porque está nas professoras o tempo inteiro”, afirma. Desta forma, se há um conflito entre duas crianças, por exemplo, a questão será trabalhada por meio dos pilares do programa, utilizando seu embasamento e conceitos socioemocionais.

Para que tudo isso seja possível, a escola investe em formação. Não apenas dos professores, mas de toda a comunidade, incluindo porteiros e profissionais responsáveis pela limpeza. “Como precisa ser uma cultura da escola, é preciso que circule por todas as pessoas que estão aqui”, pontua Lílian. A diretora conta que isso chega até mesmo às famílias, que utilizam expressões do programa por ouvirem as crianças falarem.

diretora Lílian Maragno

Lílian Maragno, diretora pedagógica da Ethos: “O programa traz a ideia de que a nossa vida é baseada em nossas escolhas. Então, para fazer boas escolhas, a gente tem de cultivar bons valores” (foto: arquivo pessoal)

Atualização constante

Mesmo os docentes que já fazem parte da equipe passam por formações anuais, para que haja uma reciclagem. “A gente tem professores que estão conosco aqui desde o primeiro ano de Caráter conta. Teoricamente, poderíamos pensar que eles não precisariam mais de formação. Mas sim, precisam. Porque as crianças vão mudando ao longo dos anos e as ideias também vão mudando. Vão surgindo outras propostas de como fazer isso em sala de aula. Então, anualmente, obrigatoriamente, existe uma formação para professores, em janeiro, antes do início das aulas, com toda a equipe. E uma imersão maior, de mais tempo, para as profissionais que estão entrando na escola”, explica Lílian.

Outro ponto importante é que o programa inclui coleta de dados, o que permite ter ações direcionadas em cada turma, de forma mais específica. “Existem coletas, métricas para identificar a melhoria dos grupos. Por exemplo, se num grupo há muitos conflitos, esses são quantificados. De acordo com a ação do Caráter conta que fazemos, verificamos se esse número diminui ou aumenta”, conta a diretora.

Educação socioemocional na Escola Ethos

A diretora pedagógica reconhece que os novos tempos têm exigido o investimento em educação socioemo­cional. “É crescente a necessidade que a gente vem encontrando de oferecer ferramentas socioemocionais para os alunos, não só ferramentas acadêmicas — português, história, geografia e ciências. A pandemia também intensificou essa demanda de instrumentalizar as crianças nas relações sociais delas”, avalia.

Para os pequenos, por exemplo, ela conta que existe um trabalho de falar sobre sentimentos. “Reconhecer, nomear, identificar os sentimentos, quem é cada um e o que fazer conforme eles vão crescendo. Como agir, como reagir. Tudo isso está relacionado com o Caráter conta. Porque se a gente está falando que minhas ações impactam o meio em que eu vivo, então aquilo que eu faço com o meu sentimento também impacta positiva ou negativamente.”

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