NOTÍCIA

Futuro da escola

“A leitura abre mundos”

Em Sabará, MG, instituição de ensino aposta em projetos de literatura que fomentam a formação de leitores; a diretora escolar, que também é escritora, conta como a paixão pelos livros faz parte da sua trajetória pessoal e profissional

Apaixonada por literatura e autora de um livro de memórias publicado ano passado, a diretora Ana Paula Cruz leva para o dia a dia do Colégio Villa Real — instituição de 29 anos da qual também é dona — um olhar especial para projetos que incentivem os estudantes a seguir o mesmo caminho. “A gente vive num mundo em que, hoje, os alunos até leem, mas estão muito voltados para as questões das redes sociais. Isso faz com que muitos se afastem da leitura de livros”, analisa.

Para mudar esse cenário, é preciso incentivo. E, no colégio localizado em Sabará, Minas Gerais, isso acontece desde cedo: na educação infantil, há o projeto Era uma vez, em que as crianças levam um livro para casa e, depois, fazem uma apresentação para a turma, com cenários e figurinos confeccionados por suas famílias. 

No ensino fundamental, além do projeto Cultivando leitores, em que os estudantes trabalham diferentes obras a cada bimestre, há também um grupo no WhatsApp chamado Eu amo ler, aberto para alunos do 6º ao 9º ano, que conta também com a presença de professores de língua portuguesa e da diretora. Nesse espaço, é possível enviar sugestões de livros, dar opiniões e debater obras. Há ainda rodas de conversa presenciais, que acontecem quinzenalmente.

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A lista de ações conta também com a Feira Literária, da qual participam todos os estudantes, da educação infantil ao ensino médio, e suas famílias. Neste ano, o evento teve como tema A literatura faz travessia pela Estrada Real, e celebrou a cultura, os autores e personagens que fizeram e fazem parte da história das cidades que compõem a rota que liga Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. A Feira também homenageou Milton Nascimento.

No ano passado, o colégio fez um projeto de resgate do autor Aníbal Machado (1894-1964). “Aníbal Machado é um escritor sabarense que muitas pessoas não conhecem, mas que teve uma grande importância no cenário brasileiro. Inclusive, foi amigo de grandes escritores. Só que a literatura dele ficou um pouco mais escondida”, explica Ana Paula.

O projeto contou com a participação de alunos do ensino médio e dos integrantes do grupo Eu amo ler. “Fizemos cartilha, cartazes, participamos de vários debates. Recebemos na escola o professor e escritor Marcos Vinicius Teixeira, autor do livro Aníbal Machado – um escritor em preparativos, e fomos assessorados por Isabella Menezes, do Museu do Ouro/Ibram”, conta a diretora.

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Ana Paula Cruz, diretora do Colégio Villa Real, publicou o livro ‘Memórias em prosa e verso’ em 2024 (Arquivo/Colégio V.R.)

Leitura: incentivo e benefícios

Toda essa efervescência literária ajuda a cultivar, nos alunos, a paixão pela leitura. “O que eu vejo é que projetos assim dão a oportunidade ao aluno de perceber que nós temos uma literatura muito rica, que temos autores maravilhosos. E mesmo que a gente esteja em um mundo tecnológico, ainda vale muito a pena comprar um livro, tê-lo em mãos. Para mim, nada substitui um livro físico, sentir aquele cheiro”, analisa Ana Paula, a respeito da importância de trabalhar a literatura na escola.

Outro ponto destacado pela diretora é que, com a leitura, é possível formar cidadãos mais conscientes. “A leitura te faz pensar, te dá um norte”, avalia. “Quando você pega um livro, estuda e entende o que está lendo, você fica mais crítico e tem condição de exercer melhor seu papel como cidadão, porque você passa a pensar de uma forma diferente”, complementa. “A leitura abre mundos, abre caminhos.”

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Feira Literária conta com participação de todas as turmas do colégio (Foto: arquivo/Colégio V.R.)

Diferentes papéis

A literatura sempre fez parte da vida de Ana Paula: tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Inclusive quando ainda atuava como professora. Ela trabalhou na educação infantil, nos anos iniciais do ensino fundamental, na educação inclusiva e na educação de jovens e adultos (EJA). Nesta última modalidade, aliás, a literatura exerceu papel importante também na alfabetização. “Na época, muitos dos alunos foram alfabetizados através de leituras de livros também. Eu sempre tive cantinhos de leitura dentro da sala”, lembra.

Segundo Ana Paula, a literatura também a orienta em sua função atual, de gestão. “Como diretora, a literatura me oferece um repertório afetivo e simbólico que me ajuda a lidar com os desafios diários da educação com empatia e criatividade. Cada aluno, cada professor, cada família tem uma história, e a literatura me ensinou a respeitar essas narrativas e a promovê-las dentro da escola”, avalia.

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Já como escritora, ela descreve a literatura como “abrigo e expressão”. “Escrever é, para mim, um ato de resistência, de memória e de transformação”, completa. No final de 2024, ela publicou o livro Memórias em prosa e verso, em que traz recordações da vida. Além disso, Ana Paula também escreve poesias infantis — que por vezes são trabalhadas pelos professores com as crianças que estudam no Villa Real.

Com a literatura presente em tantas esferas da vida, Ana Paula é certeira quando descreve que essa arte “sempre foi o fio condutor” da própria trajetória. E, quem sabe, por meio do trabalho exercido ao lado da equipe do colégio — que, como ela pontua, também tem esse olhar para a importância da literatura —, isso pode se multiplicar, formando muitos outros apreciadores da leitura e da escrita. “A literatura me moldou como alguém que acredita no poder das palavras para transformar vidas… dentro e fora da escola.”

Feira Literária teve como tema ‘A literatura faz travessia pela Estrada Real’ (Foto: arquivo/Colégio V.R.)

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