ARTIGO
Ainda que avanços tecnológicos sejam incorporados ao ensino, recursos físicos têm função importante e não devem ser deixados de lado
A sala de aula não pode ficar alheia aos avanços tecnológicos – e os recursos digitais devem, sim, ser usados em favor da aprendizagem. Por outro lado, a escrita à mão, a leitura de livros físicos e o contato com o impresso trazem benefícios para os alunos, e não devem perder espaço.
Por isso, é preciso buscar o equilíbrio: e o professor tem papel fundamental nesse processo, como agente de tomada de decisão. É o que defendem as educadoras Sandra Scapin, cofundadora do Núcleo de Formação de Educadores Educatuar, e Tathyana Gouvêa, coordenadora da Faculdade de Pedagogia do Instituto Singularidades e do laboratório Maker de formação de professores.
Para Sandra Scapin, o segredo está em ver o impresso e o digital como complementares. “O recurso digital tem algumas limitações. Por exemplo, [gera] uma leitura mais rápida e superficial, que, muitas vezes, não ativa todos os circuitos cerebrais para desenvolver habilidades importantes e significativas do aluno”, explica. Isso ocorre devido à distração com notificações de outros aplicativos, por exemplo.
Segundo a educadora, o recurso impresso traz maior possibilidade de aprofundamento naquilo que se lê. “A principal diferença é que no recurso impresso a gente tem uma compreensão mais profunda dos conceitos e das entrelinhas da mensagem que o texto nos traz. Isso acaba gerando maior potência para o aluno no sentido da fixação, da memorização, da reflexão e de uma leitura mais crítica.”
O mesmo vale para o processo de escrever à mão. “O registro escrito garante fixação do conteúdo, organização do pensamento, reflexão em cima daquilo que a pessoa está escrevendo. Isso ajuda muito no processo de desenvolvimento da aprendizagem”, explica Scapin.
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Por outro lado, recursos digitais também possuem aspectos positivos. A educadora cita, por exemplo, a agilidade de pesquisa: caso o aluno não conheça uma palavra, pode facilmente pesquisar seu significado numa leitura em plataforma digital.
Outro ponto positivo é a personalização do ensino, segundo Tathyana Gouvea, coordenadora da Faculdade de Pedagogia do Instituto Singularidades e do laboratório Maker de formação de professores. “A gente consegue desenvolver uma maior quantidade de atividades, com feedbacks automáticos. A própria inteligência artificial permite um grande acompanhamento personalizado de cada estudante. Os estudantes ganham autonomia também para pesquisar, para aprender”, avalia.
Segundo Gouvêa, é importante que os educadores compreendam que as tecnologias sempre trazem novidades e modificam o fazer docente – e que isso aconteceu, inclusive, com o próprio papel, que foi uma inovação.
Nesse cenário, a formação docente se faz fundamental. “O mais importante nesse momento que estamos vivendo é que o professor entenda o que é essa tecnologia, o que ela tem de positivo e o que tem de negativo, para que ele possa entender qual o melhor momento para aplicar cada uma dessas tecnologias, seja digital, seja analógica”, afirma. “É esse professor, munido de informação, que vai conseguir tomar essas decisões. Então, neste momento, [precisamos de] formação de professor e trazer esse tema para o debate, para que, de fato, as formações inicial e continuada de professores olhem para isso e tragam como uma competência necessária para o professor do século 21.”
As questões que permeiam o debate sobre estudar no digital ou no papel foram discutidas em webinar internacional gratuito no dia 10 de outubro. Clique aqui para assistir.
Segundo Fabio Mortara, presidente da Two Sides Brasil, as tecnologias digitais vieram para ficar na educação, mas possuem impactos ambientais nem sempre considerados. “Além disso, vários estudos científicos de que dispomos demonstram que a materialidade da mídia impressa leva a melhores resultados na aprendizagem do que o uso exclusivo dos meios digitais”, afirma.
A educadora Sandra Scapin ministrarou a palestra Do impresso ao digital: o equilíbrio em prol da aprendizagem; já Tathyana Gouvêa foi responsável pelo tema Inteligência humana: entre o orgânico e o artificial.
O evento foi organizado pela revista Educação, Two Sides e Abrelivros, com o patrocínio da Editora FTD e da Suzano Papel e Celulose.
*Matéria editada em 11 de outubro, após a realização do webinar
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