NOTÍCIA
Nem tudo é responsabilidade do educador. Entenda as influências do sono e alimentação no dia a dia dos estudantes
Publicado em 30/04/2024
Antes da sala de aula
Quando se trata de incluir conhecimentos sobre o cérebro na educação, a maior parte tem ficado sob responsabilidade do professor. Contudo, há diversos fatores externos que influenciam no cérebro e sua capacidade de aprender, como sono, alimentação, e ambiente seguro. São pontos que dependem muito mais de políticas públicas amplas do que escolhas pessoais dos docentes em sala.
“Não é papel do professor tratar uma depressão, nem alimentar fisicamente o aluno. Mas uma criança que não comeu bem tem menos capacidade de manter a atenção. E a desnutrição na infância vai ter consequências no desenvolvimento; não há plasticidade que dê conta de mudar isso depois”, alerta Adriana Fóz.
Entram ainda na conta das políticas públicas mais amplas a necessidade de promover atividades físicas ao longo de toda a vida escolar. Embora a relação mais óbvia seja com a saúde física, pesquisas em todo o mundo já comprovaram que os exercícios ajudam no desenvolvimento cerebral.
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Questões relacionadas à hora de dormir e acordar também afetam a capacidade de aprender. De forma geral, a privação traz problemas de consolidação das memórias, mas especialmente na adolescência o horário para acordar muito cedo é prejudicial. “Hoje é difícil um educador falar que dormir é perda de tempo, algo que se ouvia com frequência 30 anos atrás. A informação chegou, mas mudar os horários da escola é complexo”, afirma Fernando Louzada.
O pesquisador acredita que é uma pena que, depois de toda a flexibilidade oferecida durante a pandemia, as escolas tenham voltado exatamente para a rotina de antes, sem fazer concessões para quem tem mais dificuldade de estar atento logo cedo. Apesar de ser complexa, as mudanças de horário são possíveis. “Nos EUA eles foram muito pragmáticos. Os economistas calcularam o prejuízo da privação de sono, quantificaram o gasto com as faltas e o mau desempenho. Levando para esse lado, atrasar o início da aulas deixou de ser gasto”, relata.
Os esforços dos docentes em aprender sobre o funcionamento do cérebro só terão significado se as crianças chegarem para estudar já alimentadas, com o sono em dia, tendo praticado exercícios físicos e vivendo um ambiente que garanta a estabilidade emocional. “Se você consegue garantir esse patamar, outras questões vêm depois”, conclui Louzada.
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