NOTÍCIA
Instituição que atua diariamente com o universo digital restringe uso de celular no ambiente escolar com o apoio da meditação e escuta sensível
Publicado em 07/03/2024
Diante das transformações sociais e tecnológicas, atrair a atenção dos alunos se tornou grande desafio. As instituições procuram adaptar formas de ensinar e maneiras de se destacar dos outros colégios, a fim de conquistar os estudantes, e também as famílias.
Ana Carolina Carvalho de Melo Blanes, educadora há 33 anos, formadora docente com atuação em diferentes estados do país, e diretora e mantenedora do Colégio Vitória, em Ilhéus, na Bahia, conta que os alunos do ensino médio costumam usar a tecnologia digital diariamente como recurso didático, por meio de ambientes virtuais de aprendizagem, apps e gamificação. Contudo, dentro da escola o uso de smartphones é restrito.
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“A ‘tela privada’ dos estudantes estava trazendo desconexão e perda da possibilidade de interação física. Então, com essa restrição, veio a necessidade da vivência do ócio e do exercício da presença, além do preparo para a verdadeira abstinência ‘smartphônica’ pelos nossos alunos. A prática de yoga e meditação na escola, a conversa franca e a escuta sensível, foram aliadas nesse difícil momento, mas que vamos ultrapassando com louvor e com ganhos visíveis”, conta Ana.
Leandro Santos Faria, professor de química e coordenador da área de ciências da natureza do Colégio Vitória é responsável pela mediação do acesso à tecnologia aos professores menos familiarizados com esse universo. Entre os novos ganhos digitais ele gosta de destacar a visita a um museu virtual e o uso de simuladores que demonstram fenômenos químicos e físicos — atividades que podem estar fora do alcance da realidade presencial dos alunos e da instituição.
O professor ainda ressalta que ao integrar os alunos e a escola aos recursos digitais, é possível aprender em qualquer lugar e momento, mas que é preciso tomar alguns cuidados para garantir um bom aproveitamento pedagógico, dentro e fora da sala de aula.
“É sempre necessário analisar se aquela ferramenta vai cumprir sua função no ensino e aprendizagem ou vai servir apenas de forma ‘alegórica’, pois um uso inadequado da tecnologia pode gerar uma rejeição que irá dificultar a integração do aluno à proposta de ensino. Por isso, toda tecnologia usada precisa estar bem planejada, coerente com a real necessidade pedagógica do professor e do aluno”, orienta o professor.
O Colégio Vitória atende todas as etapas de educação básica e hoje conta com 418 estudantes, 43 educadores e 22 educadores do corpo técnico-pedagógico- administrativo. A diretora Ana Carolina lembra que quando assumiu a direção-geral da instituição, fez questão de mostrar à comunidade a cultura organizacional do colégio, o que no início fez com que a escola perdesse alguns estudantes. Hoje, a instituição faz campanhas de captação personalizadas e caminha com a meta de crescimento de 10% ao ano, além de realizar campanhas de satisfação e opinião com a comunidade externa e interna.
O acolhimento, respeito às diversidades, preocupação com a excelência de professores e colaboradores e o investimento voltado à formação constante também são apontados como alguns dos diferenciais da instituição.
Além de valorizar o ambiente virtual, a diretora Ana Carolina conta que este ano o colégio está inserindo um componente curricular de letramento científico para fazer com que os alunos do ensino fundamental melhorem a aprendizagem em ciências da natureza. A instituição também está ampliando a estratégia de curadoria e mentoria discente, refinando a aprendizagem em pares, e também dialogando e transformando em dados os resultados e o andamento de processos da instituição de ensino.
Para a diretora, o futuro da escola depende da atualização de suas linguagens e a gestão precisa estar mais antenada com o mundo em movimento.
“A estética, a voz, os dialetos e a prática precisam ser pensados intencionalmente. Chega desse desprestígio de uma escola que se repete numa práxis de séculos. O ser humano muda, a escola precisa caminhar junto, caso contrário, o diálogo cessa e a principal missão da educação se extingue. Somos semeadores de conhecimento, de experiências e vivências, precisamos afetar a nossa comunidade e isso não se faz sem atualização e sem a capacidade de a escola se reformular atendendo ao novo mundo”, acredita Ana Carolina Carvalho de Melo Blanes.
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Leandro completa apontando que o futuro é cada vez mais tecnológico, e que os professores necessitam entender que se capacitar para o digital representa uma evolução para a sua práxis docente. “O professor mais ‘antiquado’ precisa superar os desafios da alfabetização digital e abraçar a tecnologia como um aliado ao seu trabalho, pois cada vez mais esse tipo de recurso se tornará presente em seu cotidiano”, finaliza o professor de química.
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