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João Jonas Veiga Sobral

É professor de Língua Portuguesa e orientador educacional

Publicado em 13/11/2023

A ilusão da transparência e do conhecimento

A avaliação do estudante ainda é voltada aos resultados obtidos. Nisso, trabalha-se pouco para reverter processos que não caminham bem e para avançar os satisfatórios e os excelentes

As escolas vêm conduzindo melhor os processos de avaliação. Práticas antigas que tomavam como medições apenas provas dissertativas, testes, simulados e um ou outro ‘trabalhinho’ estão sendo abandonadas. O cuidado aparece na diversificação dos instrumentos, dos sistemas de menções e dos pesos diversificados para as variações das possibilidades de mensuração. 


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Alguns colégios encaminham projetos interdisciplinares, transdisciplinares, com transversalidade que exigem dos alunos alguma autonomia na construção do conhecimento. Há também recursos avaliativos que mostram robustez como portfólios e autoavaliações. Os alunos são convidados a avaliar a si e às suas etapas de trabalho, sem a subjetividade escancarada de quem ‘dá uma nota para si mesmo’ com pitadas e nacos de narcisismo. Isso se configura como um avanço considerável.

Há instituições que dispõem de recurso financeiro para investir em plataformas que formulam, como avaliadores externos, simulados interessantes voltados para o Enem e para universidades públicas e privadas concorridas. Esses exames somados aos aplicados pelas escolas oferecem dados suficientes para que se avaliem em que estágio de aprendizagem os estudantes se encontram. Comparados a si mesmos, à classe, aos outros postulantes às vagas disputadas e às escolas concorrentes.

São ações muito louváveis e levadas, na maior parte das vezes, com seriedade pelas instituições de ensino. É possível afirmar que nunca se coletou tantos dados sobre o desempenho dos alunos nas avaliações propostas. No entanto, nesse emaranhado de dados nem sempre há protocolos claros de análise de observação. Como tempo de apuro e de depuração das informações e dos resultados coletados, ainda que haja, nos colégios, muitas reuniões pedagógicas, de pais, por séries e conselhos de classe. 

Paradoxalmente, avalia-se e se trabalha muito para que dados e informações sejam coletados e para que se discutam os resultados obtidos. Mas trabalha-se pouco para reverter processos que não caminham bem e para avançar os satisfatórios e os excelentes. E o mais estranho é que alguns colégios oferecem plantões de dúvidas, recuperações paralelas, ‘aulões’ e aulas avançadas. Porém, tudo muito pautado no achismo, nas impressões colhidas dos dados e na boa vontade.

Onde estão os problemas, nesse processo de coletas de dados e de informações, uma vez que boa parte das instituições lança mão de uma gama considerável e sortida de instrumentos e de verificação de processos? Veja o que propõe Regina Célia Cazaux no livro Curso de didática geral Haydt (1997). Ela sinaliza as distinções entre medir, testar e avaliar. Testar é “verificar um desempenho através de situações previamente organizadas, chamadas testes”. Medir é “descrever um fenômeno do ponto de vista quantitativo”. Avaliar é “interpretar dados quantitativos e qualitativos para obter um parecer ou julgamento de valor, tendo por base padrões ou critérios”.

As definições da educadora denunciam que muitas escolas ainda engatinham no processo zeloso de interpretação dos dados quantitativos e qualitativos para contribuir efetivamente para uma aprendizagem visível, transparente e transformadora. Coletam muita informação, mas as deixam espalhadas em reuniões e nas planilhas de notas ou sintetizadas em boletins. Há muito o que melhorar nas devoluções de aprendizagem, mesmo quando são adotados critérios claros nas grades de correção. O empecilho está na apuração desses dados e no compartilhamento adequado das informações.

Planejamentos de aula e de cursos, explicitação dos objetivos e dos processos, comandos progressivos e alinhados, rubricas pertinentes e devoluções claras das e nas aulas e das e nas atividades avaliativas garantem um bom caminho se houver tempo e disposição para trabalhar com as dificuldades e os avanços. 

Por isso, a informação dos resultados deve ser compartilhada para que o corpo docente em conjunto busque estratégias uniformes e coesas para desenvolver os conteúdos e as habilidades propostas de forma sistematizada e intencional. Para que os professores de plantão e corretores informem a todos os envolvidos os ajustes feitos em busca de resolução rápida dos problemas observados. E para que coordenadores pedagógicos e de áreas, munidos dessas informações, possam discutir estratégias eficientes de correção de rota de curso e de acréscimo de processos se necessário. E, finalmente, para que os orientadores educacionais, em seus atendimentos, possam ser mais assertivos e seguros nas orientações de estudos adequadas para os estudantes.

Na família, para que os alunos encontrem sistemas de monitoramento da própria aprendizagem com base nas devoluções claras apresentadas. Para que os pais acompanhem com clareza as evoluções e possíveis estagnações dos filhos em suas aprendizagens. Para que a direção escolar saiba quais plataformas de avaliações externas possam ser contatadas para que todo o processo seja vigoroso e com resultados convincentes e duradouros. E, para que a unidade de trabalho se dê plenamente. Caso contrário, continuaremos a coletar dados sem consequência. E, pior, teremos ao longo de todo o processo resultados ilusórios de aprendizagens das crianças e jovens.

 Ocorrerá sucesso acadêmico, com aprovações externas em diversos concursos públicos e privados por conta de suas próprias aptidões cognitivas e de seus bons procedimentos de estudos, independentemente dos colégios e dos cursos. E uma massa grande com aprendizagens pouco assimiladas e esquecidas um tempo depois das aplicações dos instrumentos. O que pode ser, no passar dos anos, o que de mais transparente observamos.



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