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Projeto Café e Conversa oferece espaço de troca entre egressos e estudantes do ensino médio para o fortalecimento do vínculo entre escola e estudante
Enquanto há escolas que focam o preparo exclusivamente para o vestibular, outras também priorizam a formação humana. No Colégio Jean Piaget Franca, em São Paulo, mais do que a prova, a proposta é oferecer uma educação com significado. Nisso, o acolhimento está como característica que conduz ao processo de aprendizagem.
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“Há 10 anos, recebemos um aluno para o ensino médio que estava em depressão profunda. Havia dias em que não conseguia sair de casa, outros que a mãe o trazia até o portão e ele não entrava. Começamos a ir até à casa do aluno e insistimos em um tratamento psicológico. Indicamos psicólogo e aos poucos começou a voltar, melhorou, se formou, e hoje é psicólogo”, conta Angélica Kaluf, diretora administrativa, há 21 anos no colégio.
O Colégio Piaget tem 35 anos e atua do berçário ao ensino médio. Em 2021, com intuito de ampliar o espaço para os estudantes do ensino médio, inaugurou um prédio que oferece salas de aula com estrutura sustentável, utilizando contêineres.
Outra novidade foi a criação do Café e Conversa, que promove um espaço de diálogo, troca e partilha entre os estudantes do ensino médio. A coordenadora pedagógica Fabiana Stelin, no colégio há 18 anos, explica que o projeto possui duas etapas. A primeira é promover para os estudantes que estão se formando uma despedida, encontro que acontece fora da escola. “O projeto foi lançado na passagem de 2022 para 2023, em que tivemos 100% de aprovação dos nossos alunos do 3º ano do ensino médio no vestibular. Então pensamos em proporcionar para eles um momento de descontração, agradecimento e parabéns por conquistarem o que almejaram”, explica Fabiana.
Já a segunda etapa diz respeito a um espaço de troca de experiências entre os egressos e os estudantes. Também são promovidas rodas de conversa em que especialistas são convidados para abordar temas que reforçam o acolhimento, como inteligência artificial e socioemocional. Além disso, a instituição pensa em expandir e incluir os jovens do 9º ano no projeto.
“Tenho a lembrança de um aluno que tinha bolsa de estudos aqui no colégio, porém, para pagar os materiais ou até mesmo a roupa adequada, tinha que trabalhar. Quando terminou o ensino médio, ele teve um orgulho muito grande, porque passou em engenharia química na Faculdade de Lorena da USP, mas não tinha dinheiro para ir à cidade. Então, o que se viu foi algo que confirmou a importância de a gente trabalhar empatia com os alunos. Os estudantes fizeram um pedágio para bancar a passagem para ele ir”, conta Fabiana.
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Compromisso social como base para a formação
O colégio possui em média 82 funcionários, 43 professores, 350 estudantes e uma mensalidade em torno de 900 a 1.000 reais, trabalhando também com um sistema de bolsas.
Há aproximadamente seis anos, o colégio faz uso de um sistema que divide a avaliação dos estudantes em duas etapas: quantitativa, que contempla as provas bimestrais e atividades semanais dadas para cada estudante; e a qualitativa, que acompanha todo o processo de aprendizagem do estudante por meio de uma programação elaborada pelos professores. Nesse ambiente eles conseguem observar se os jovens estão realizando as atividades que lhes foram passadas e os ajudar nas dificuldades.
Outro ponto destacado pelas educadoras em relação ao sistema de avaliação são as atividades realizadas no dia a dia. Segundo a diretora Angélica, os estudantes passam por verificações de aprendizagem. “O aluno sabe que tem que estudar todo dia porque pode ter uma verificação de aprendizagem [a qualquer momento]. Aquela mania que tínhamos de: ‘nossa, amanhã tem prova, tem isso de coisas para estudar’, não existe mais. Hoje eles estão tranquilos porque estudam dia a dia, aí na hora da prova bimestral fica mais fácil e conseguem atingir os objetivos”, conta Angélica.
Para Angélica, atualmente também é preciso pensar para além do vestibular, porque muitos estudantes têm outros objetivos após se formarem: “Estamos reparando que alguns alunos não querem ir para a faculdade, às vezes eles querem ser empreendedores. Então hoje somos muito abertos às novidades. Com o currículo que temos, preparamos os alunos para estarem aptos se quiserem ir para a faculdade. Mas também podem ser empreendedores; temos aulas de empreendedorismo, educação financeira e filosofia”, ressalta.
A criação de um vínculo com os estudantes fez com que o colégio se tornasse um espaço de acolhimento e partilha. Segundo as educadoras, os desafios da educação ainda são grandes, mas é preciso pensar em uma formação humana e cidadã. “Se pudermos contribuir, nem que seja um pouco, para a formação desse novo ser humano, eu já vou estar muito feliz”, acredita Angélica Kaluf, diretora administrativa.
“A educação tem que ser pensada com mais carinho, porque é o nosso futuro, não fazemos nada sem a educação. Temos que proporcionar um estudo sólido, eficiente, que estimule os alunos a serem grandes profissionais e cidadãos”, conclui a coordenadora pedagógica Fabiana Stelin.