NOTÍCIA
Os dois compartilharam aprendizagens que receberam de Rubem Alves durante bate-papo em homenagem ao educador que completaria 90 anos
Com seus valores, pensamentos e reflexões ainda presentes na sociedade atual, o educador e psicanalista Rubem Alves (1933-2014) é considerado um dos maiores nomes da educação no Brasil e estaria completando, hoje, 15 de setembro, 90 anos. Sua filha caçula Raquel Alves participou ontem do evento Socioemocional na Escola, promovido pela revista Educação, para um bate-papo em sua homenagem, destacando o quanto os pensamentos e valores de seu pai ainda continuam presentes na sociedade atual.
“Precisamos saber identificar a humanidade que existe dentro dos outros e só conseguimos fazer isso quando a gente tem a humanidade morando dentro de nós. Acho que é por isso que Rubem Alves é contemporâneo, ele nunca vai sair de moda, porque o ser humano não tem para onde fugir. A gente é o que é e sempre vai continuar sendo”, refletiu Raquel.
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Raquel contou que sem saber, ao acompanhar seu pai em palestras e eventos pelo Brasil, estava sendo preparada. “As pessoas me perguntavam como é ser filha de Rubem Alves? [achando que Rubem a ensinava de forma: diferente e especial] E eu falava ‘não sei, eu nunca tive outro pai, como que eu vou comparar?’”, brincou.
“O que tivemos foi o que chamam hoje de momento de qualidade, olho no olho e respeito aos meus medos. Se ele não tivesse trabalhado tanto quanto ele trabalhou para construir a minha identidade, para eu me reconhecer, me valorizar, eu jamais subiria num palco. Então o trabalho de encorajamento, de reconhecimento próprio, do próprio valor, não tem preço, e a escola é o lugar ideal para isso acontecer, para ensinar que nem tudo é tão gostoso, nem tudo dá certo, mas é assim, e a gente tem que aprender a se reconhecer, se valorizar e se amar”, complementou Raquel Alves.
A conversa fez parte do lançamento do e-book Entre o saber e o sabor: o dilema da educação, organizado por Raquel, que conta com as crônicas de seu pai publicadas na revista Educação no período em que Rubem era colunista.
O prefácio foi escrito por José Pacheco, ex-diretor da Escola da Ponte, em Vila das Aves, Portugal, e colunista na revista Educação. Pacheco não segue um sistema baseado em seriação ou ciclos. Durante o bate-papo, contou sobre uma visita que seu amigo Rubem Alves fez à Escola da Ponte. No dia, Pacheco estava conversando por mais de três horas com uma estudante e Rubem se aproximou para ouvir.
“Rubem perguntou: ‘Barbará o que está fazendo?’
Ela respondeu: ‘Estou fazendo um glossário. Sabe por que? Nós estamos estudando a carta do Pedro Vaz de Caminha e lá tem palavras em latim deturpado. Sabe o que é latim deturpado?’
E o Rubem fez gesto de que não e ela começou a explicar.
Aí eu disse: ‘Mas por que está fazendo?’
Ela respondeu: ‘tenho seis anos, já aprendi a ler, mas há amigos meus que ainda não leem muito bem e se eles verem essas palavras não vão entender, então eu coloco estas palavras aqui e na frente a explicação.’
E Rubem: ‘foi uma professora que te mandou?’
‘Não, fui eu que quis ajudar meus amigos.’
Aqui é um exemplo de solidariedade em ação. Desenvolvimento socioemocional”, compartilhou Pacheco.
“Enquanto tivermos sala de aula, o desenvolvimento socioemocional é impossível de se fazer. Não é com mecanismos introduzidos num modelo hierárquico e autoritário que você vai conseguir”, acredita José Pacheco