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A transformação digital da educação básica, com o uso da tecnologia a favor da aprendizagem, é um processo que ganhou força nos últimos anos — principalmente após a pandemia da covid-19, que obrigou as escolas a se adaptarem ao uso das ferramentas tecnológicas digitais. Leia […]
A transformação digital da educação básica, com o uso da tecnologia a favor da aprendizagem, é um processo que ganhou força nos últimos anos — principalmente após a pandemia da covid-19, que obrigou as escolas a se adaptarem ao uso das ferramentas tecnológicas digitais.
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Contudo, incluir a tecnologia dentro da sala de aula não é simples e exige muito mais do que o oferecimento dessas ferramentas a alunos e professores — é preciso garantir uma série de condições para que esse uso seja, de fato, um potencializador da aprendizagem. Infraestrutura, formação docente e olhar crítico, por exemplo, são alguns dos fatores que exigem atenção especial.
Transformação digital – planejamento, execução e aprendizados é o título de um painel da Bett Brasil* que acontece hoje, 10, às 10h. Conversamos com os três especialistas que estarão juntos discutindo o tema: um do Colégio Pentágono, outro do Colégio Bandeirantes e outra do Colégio Visconde de Porto Seguro, todos de SP e particulares.
Segundo Emerson Bento, diretor de tecnologia educacional do Colégio Bandeirantes, a infraestrutura é um fator importante. Sem uma rede Wi-Fi de qualidade ou computadores com bom funcionamento, por exemplo, é possível que os docentes se sintam desanimados e que o projeto de transformação digital enfrente mais dificuldades para ser colocado em prática. “Se um professor tem uma aula de 50 minutos e o computador trava por 10, ele perdeu 20% da aula dele. Se ele perder esse tempo em duas aulas seguidas, desiste de usar tecnologia”, afirma.
Outro desafio é a mudança de cultura. No Colégio Bandeirantes, o processo de transformação digital foi iniciado há 10 anos. O começo, conta Emerson, não foi fácil. “Os primeiros anos foram duros porque a gente estava fazendo uma mudança de cultura na escola e, quando você mexe com cultura, você tira as pessoas da zona de conforto”, explica.
À época da implementação, os professores receberam tablets durante as férias para se acostumarem à nova tecnologia. A ferramenta também passou a ser material didático obrigatório para os alunos dos anos finais do ensino fundamental — primeiro para os do 6º ano e, gradativamente, para os anos subsequentes.
De lá para cá, o uso da tecnologia na escola aumentou. E, após a pandemia, houve um salto: segundo Emerson Bento, o colégio realizou 200 mil provas online em 2019; no ano passado, foram 1,2 milhão. “O que aconteceu na pandemia foi que os professores que já faziam prova online ensinaram os colegas que não faziam a fazer. A gente apoiava isso, mas teve muito uma troca de professor para professor.” As provas digitais, segundo o diretor, permitem correções feitas pela máquina e, por isso, um processo avaliativo mais intenso.
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Impacto semelhante da pandemia também foi observado por Joice Leite, diretora de educação digital do Colégio Visconde de Porto Seguro. Ela conta que identificou um aumento da fluência digital dos professores que não tinham esse aspecto tão bem desenvolvido — referindo-se ao uso de diferentes aplicativos e recursos em sala de aula, além de metodologias ativas com o uso da tecnologia.
“Quando veio a pandemia, esse professor [que não tinha tanta fluência digital] passou por um processo de formação intenso para uso dessas tecnologias digitais nas aulas online”, explica. “[O professor] Teve de aprender rapidamente a acessar uma plataforma, que no nosso caso foi o Teams, preparar todo o seu conteúdo para aulas digitais, transformar todo o seu conteúdo em material digital, elaborar provas online, aprender a usar um aplicativo, simuladores online… Teve de passar por todo um processo de transformação do seu conteúdo para um conteúdo digital. E, mais do que digital, conteúdo interativo.”
A tecnologia também abre novas possibilidades para a educação. Um exemplo é a coleta de dados. Bruno Alvarez, vice-diretor de inovações pedagógicas do Colégio Pentágono destaca que é possível ter um conhecimento mais personalizado do estudante, como possíveis defasagens ou facilidades (a partir da resolução de exercícios com resultados posteriormente coletados pela máquina, por exemplo), e realizar o cruzamento de dados sobre diferentes aspectos de cada um, como habilidades socioemocionais e desempenho cognitivo.
“A gente pode ir atrás de minúcias da trajetória escolar do aluno, que dizem respeito a muito mais do que notas. Dizem respeito à participação desse aluno, a como ele responde a determinados questionários, como se engaja em determinadas atividades. Isso traz uma visão não só panorâmica do aluno, como também uma visão mais específica”, esclarece.
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Apesar dos benefícios e das novas possibilidades da transformação digital, não há solução mágica. Joice Leite destaca que é fundamental ter em mente que a tecnologia, por si só, não vai resolver os problemas da educação.
“Não é só o computador ou só a plataforma. Junto com o computador e a plataforma tem de vir a formação do professor, o senso crítico do por que usar aquela plataforma, como usar o computador. Essas coisas sobre os porquês precisam vir junto. Para fazer sentido, para ter intencionalidade no aprendizado”, alerta Joice Leite.
A educadora defende que é importante que o trabalho com as tecnologias possa potencializar o processo de aquisição de conhecimento, mas com senso crítico, para que “estudantes, de maneira geral, não sejam apenas consumidores de tecnologia, mas que sejam capazes de elaborar, reelaborar, criticar e desenvolver novas tecnologias”.
*A Bett Brasil é o maior evento de educação e tecnologia na América Latina. Acontece de 9 a 12 de maio, no Transamerica Expo Center, São Paulo. E nós, da Educação, estamos fazendo uma cobertura especial. Clique aqui para ficar por dentro de tudo.
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