NOTÍCIA
Programa do livro didático avança rumo à transformação digital, mas faltam equipamentos nas escolas
Publicado em 11/04/2022
Livros interativos, videoaulas, audiobooks e podcasts são recursos educacionais que estarão disponíveis para professores e alunos das 178 mil escolas das redes de ensino público em todo o país. É o que preconizam os editais lançados nos últimos anos pelo Programa Nacional do Livro e Material Didático (PNLD), que vem, de maneira gradativa, atendendo às demandas da transformação digital na educação. Os denominados recursos educacionais digitais (REDs) são componentes nesse processo de transformação em que a etapa final é a chegada e permanência definitiva da tecnologia digital às escolas pública.
O decreto de nº 9.099, de 18 de julho de 2017, terminou com o Programa Nacional de Biblioteca da Escola, marcou a unificação da aquisição e distribuição de livros didáticos e literários e alterou a nomenclatura do programa, introduzindo as palavras “materiais didáticos”. Essas palavras, na verdade, já nomeavam a intenção de inovação tecnológica, segundo Lauri Cericato, especialista em PNLD e políticas públicas educacionais: “foram incluídos livros digitais, arquivos digitalizados e uma série de recursos que extrapolavam o livro físico”. A mudança também propiciou que pequenas editoras entrassem para a concorrência.
Tutoriais e a digitalização de material impresso em arquivos PDF foram os primeiros recursos disponíveis. O arquivo PDF foi bastante utilizado, mesmo que de maneira precária, em meio à pandemia da covid-19, quando professores, alunos e suas famílias foram pegos de surpresa com o fechamento de escolas e a necessidade de aulas remotas. Embora a simples digitalização de material impresso não seja uma inovação propriamente, ela traz a vantagem da flexibilidade de acesso.
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O PNLD 2021, para a aquisição de materiais didáticos para o ensino médio, avançou ao apresentar os REDs em seu Objeto 4. Outra inovação foi o material de formação, para professores e gestores. “A ideia era coincidir com a implantação do novo ensino médio, mas esses materiais ainda não chegaram às escolas, ainda estão em processo”, conta Izabel Castilho, especialista em gestão escolar e na prestação de serviços para editoras relativos ao PNLD. Ela também explica que a partir do PNLD 2021, todos os demais trouxeram materiais digitais, inclusive o PNLD 2022, para a educação infantil.
No PNLD 2023, relativo à aquisição de materiais para os anos iniciais do ensino fundamental, a proposta digital se expandiu ainda mais: “Houve também um objeto inteiro com os REDs, audiovisual, PDFs, HTML 5, além do material impresso”, diz Izabel. O HTML 5 é uma linguagem de programação que permite a inserção de diversos objetos, inclusive recursos de avaliação em livros interativos. Então, “já não é apenas uma conversão de código; criar um material na internet exige o estudo de linguagem instrucional para que o aluno possa interagir”. O PNLD 2024, referente a materiais didáticos do 6º. ao 9º ano, traz o livro interativo, além de todo o material impresso ter seu correspondente em HTML 5. Os editais descrevem o que tem de constar nos recursos digitais: questões de avaliação, sequências didáticas, planos de desenvolvimento, sempre relacionados a uma área de conhecimento ou componente curricular.
Izabel Castilho não tem dúvidas de que o PNLD vem dialogando cada vez mais com a transformação digital, mas opina: o impresso tem que permanecer ainda por muito tempo, porque em muitos lugares ainda será o único recurso de aprendizagem. O Brasil é extremamente diverso na questão de acesso à tecnologia, há famílias em que o acesso à internet se dá por meio de um único celular”.
Cericato confirma: “a política-mãe está prevista, o PNLD evolui rumo à transformação digital”, mas, para ele, falta política pública específica que atenda a dois desafios principais. “É preciso garantir o acesso aos dispositivos, os tablets precisam estar nas mãos dos alunos e a escola precisa ter um equipamento de conectividade de qualidade.” Ele menciona dados da pesquisa TIC 2020, publicada em agosto de 2021, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR – NIC.br. Por exemplo, em 2020, 94% das escolas tinham conexão sem fio, mas apenas 45% liberavam o acesso aos alunos. Além disso, Cericato afirma que os professores precisam de formação para o uso de novas tecnologias, para que possam potencializar o uso desses recursos digitais.
Gerar o engajamento do aluno às telas com os conteúdos didáticos é um desafio. Para Thuinie Daros, especialista em sala de aula digital e metodologias ativas, a simples transposição de um formato para outro não gera aprendizagem. É necessário a modelagem pedagógica: “é um trabalho artesanal, em que o professor estabelece o conteúdo, as estratégias e os recursos que irão criar condições para o estudante aprender”. Para isso, “o professor pode selecionar materiais, atuando como um curador de conteúdos ou mesmo produzi-los em um processo autoral digital”.
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