NOTÍCIA
Publicado em 10/08/2021
Por Vinicius Nobre*: A avaliação é um elemento necessário em qualquer processo de aprendizagem, e tem impactos significativos na vida tanto de estudantes quanto de professores. No ensino de idiomas não é diferente.
O assunto, no entanto, não entra muito em discussão – mesmo em tempos como o atual, em que migramos para o ensino remoto e híbrido. Está aí o desafio: como fica a avaliação hoje, quando temos tantas novas soluções digitais à nossa disposição?
A forma como o professor dá suas aulas e a percepção de aprendizagem do aluno são dois fatores impactados diretamente pelas avaliações – o que mostra a importância do assunto. Ainda assim, os modelos muitas vezes utilizados para avaliar os estudantes são os mesmos de décadas atrás, quando o mundo era completamente diferente. Há uma dificuldade em mudar crenças consolidadas em relação aos processos de avaliação.
Essas crenças, no entanto, precisam entrar em pauta para serem discutidas e modificadas, adaptadas ao atual cenário. Quando falamos em métodos tradicionais de avaliação, podemos citar os testes que checam as habilidades dos alunos de retomar e reproduzir o conteúdo visto durante o curso, muitas vezes avaliando a simples memória dos estudantes. Normalmente, são testes padronizados, aplicados a todos os alunos da mesma forma. Também entram na lista de modelos tradicionais os exames finais, que deixam para avaliar o aprendizado apenas ao fim de um curso ou módulo.
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Focar no produto final, no entanto, e esperar respostas padronizadas ignora as habilidades individuais e os conhecimentos que podem emergir nas interações recorrentes com os alunos, além de enfatizar o caráter punitivo e classificatório dos processos de avaliação. Abordagens mais modernas de avaliação conseguem averiguar o aprendizado em uma integração mais natural, que se assemelha ao uso do idioma na vida real, e consideram o aluno de uma forma mais holística.
O ensino remoto e as aulas híbridas levantaram questões muito válidas em relação ao modelo tradicional de testes. Afinal, fica muito difícil aplicar uma prova formal, sem consulta, em um horário específico para todos os alunos quando eles estão nas suas casas. Outra consequência da digitalização do ensino foi a necessidade de encontrar maneiras de acompanhar com maior frequência e precisão o desempenho dos alunos, para que ações corretivas pudessem ser propostas a tempo diante de um cenário tão novo e incerto.
A tecnologia tem nos ajudado a implementar um modelo mais contínuo de avaliação que, por sua vez, foca no que os alunos são capazes de produzir e criar, ao invés de testar o que eles memorizaram. Por meio de ferramentas para a criação de portfólios digitais, por exemplo, educadores conseguem propor inúmeras atividades durante o período letivo e organizá-las de uma maneira engajadora. Os portfólios digitais permitem um foco maior no desempenho e na aplicação do conhecimento, suavizam o peso que é dado ao “dia da prova” por serem usados em várias ocasiões e ainda permitem aos alunos e professores que façam ajustes nas suas habilidades e conhecimento antes dos projetos seguintes.
Ferramentas de gravação de vídeo e voz também podem ser usadas dentro do processo avaliativo. Ao promover projetos e tarefas comunicativas e pedir que os alunos façam um registro audiovisual dos resultados, os educadores engajam suas turmas, trazem maior propósito ao aprendizado e ainda desenvolvem habilidades críticas e técnicas. Os estudantes podem ser encorajados a decidir o que será filmado, como o roteiro deve ser escrito, o que precisa ser editado, entre outras importantes decisões que vão muito além do conteúdo programático.
Outras ferramentas tecnológicas de maior ou menor complexidade, como learning management systems, jogos digitais e plataformas com inteligência artificial, já fazem parte dos processos de avaliação de diferentes organizações.
No entanto, o maior obstáculo para abraçarmos soluções digitais que podem enriquecer o processo de avaliação dos nossos alunos ainda é a resistência à mudança. Precisamos estar dispostos a questionar modelos mais tradicionais de acompanhamento de desempenho e olhar para a avaliação como um pilar fundamental do processo de aprendizagem, e não como uma ferramenta separada de auditoria.
Vinicius Nobre é diretor de Educação do CNA, uma das maiores redes de escolas de idiomas do país.
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