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Arte e Cultura

Pais e filhos

Produção recente do cinema brasileiro ainda guarda certa distância do que acontece entre quatro paredes, embora haja algumas boas exceções. Como nossos pais, de Laís Bodanzky, é uma delas

Publicado em 16/10/2017

por Gabriel Jareta

como nossos pais 2 Crédito: Divulgação

Como nossos pais

Crédito: Divulgação

Ao retratar questões familiares, o bom cinema de ficção costuma despertar no espectador uma identificação – ou empatia – com a narrativa que se desenrola na tela. E quanto mais a história se aproxima de maneira natural do cotidiano vivido aqui e agora, mais verdadeira tende a se tornar essa relação. A produção recente do cinema brasileiro ainda guarda certa distância do que acontece entre quatro paredes, embora haja algumas boas exceções. Como nossos pais, de Laís Bodanzky, é uma delas.
O filme aborda um recorte bastante específico de brasileiro: a família de classe média alta, urbana, moradora de bairro tradicional, com gosto pela arte e por questões sociais. A figura central do filme é Rosa (Maria Ribeiro), quase 40 anos, que escreve catálogos de peças para banheiro, mas gostaria de viver da dramaturgia. Casada com um antropólogo um tanto avesso a questões domésticas, se desdobra para cuidar das duas filhas ainda crianças e manter a casa abastecida. Logo no início do filme, em um almoço de família, Rosa é informada sem muitos rodeios pela mãe de que foi concebida em uma aventura extraconjugal durante um congresso em Cuba. A partir daí, problemas familiares que estavam em banho-maria começam a levantar fervura.
Como nossos pais se baseia em um bom roteiro, em personagens que crescem durante a história e em ótimas interpretações (a atuação da dupla Clarisse Abujamra e Maria Ribeiro, mãe e filha, é memorável, além da participação inspirada de Jorge Mautner). Há também marcas muito particulares do paulistano contemporâneo (o trabalho em home office, a bicicleta como meio de transporte, a galerista de Higienópolis), mas a caricatura consegue ser evitada na maior parte do tempo. Ainda assim, resta a pergunta: a quem se destina um filme sobre os dramas de uma mulher como Rosa? Para Laís Bodanzky, seu filme busca um caminho do meio entre o filme experimental e o blockbuster. A diretora também parece mirar na coluna do meio ao não fazer um filme ostensivamente para mulheres. A narrativa é conduzida sob um ponto de vista feminino, mas também é capaz de dialogar com pais, filhos e maridos. A diretora faz uma opção interessante, e até corajosa, ao tentar mostrar mais pontos de contato do que diferenças – embora estas estejam todas ali.
➤ Produção recente
Outro desses filmes brasileiros que se debruçam sobre relações familiares é Aquarius, dirigido por Kleber Mendonça Filho. O filme concorreu à Palma de Ouro no Festival de Cannes e teve boa recepção da crítica no Brasil. Na produção, Sonia Braga vive uma mulher de 65 anos que resiste a vender seu apartamento na orla de Recife para a construção de um grande empreendimento. A difícil relação com os filhos é um dos pontos explorados pela história.
➤ Laís Bodanzky
A diretora tornou-se conhecida por seu premiado filme Bicho de sete cabeças (2001), com Rodrigo Santoro, que conta a história de um jovem internado à força pelo pai em um hospício por consumir maconha. Mais recentemente, ela abordou os dilemas da adolescência – a descoberta do sexo, o diálogo com os pais – em As melhores coisas do mundo (2010).


Filmoteca: parente é serpente…

Mudam as culturas, mas algumas coisas permanecem iguais. A lista de filmes abaixo traz uma abordagem variada sobre as relações em família.

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Era uma vez em Tóquio (Japão, 1953)
Casal de idosos do interior vai visitar a família em Tóquio, mas os filhos estão ocupados demais e os netos não parecem muito interessados em fazer companhia a eles. O filme, ambientado em um Japão em transformação, se desenrola entre subentendidos e tons melancólicos. Obra-prima de Yasujiro Ozu, um dos maiores diretores japoneses do século 20.
 
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O filho da noiva (Argentina, 2001)
A vida do dono de um restaurante (Ricardo Darín) está uma bagunça. O negócio vai mal, a saúde está em frangalhos e ele não tem tempo para a namorada, para a filha que vive com a ex-mulher ou para a mãe, internada com Alzheimer em um asilo. Um dos grandes filmes do cinema argentino contemporâneo, com drama e leveza em boa medida.
 
 
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O quarto do filho (Itália, 2001)
Nanni Moretti, também diretor do filme, vive um psicanalista que precisa enfrentar um evento trágico e inesperado: a morte do filho adolescente em um acidente de mergulho. Ele passa a questionar sua “culpa” na morte e a própria relação com os pacientes, enquanto tenta manter a unidade da família e entender um pouco mais sobre a vida do filho.
 
 
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Minhas mães e meu pai (Estados Unidos, 2010)
Um casal homossexual (as mães do título) e seus dois filhos adolescentes, gerados por inseminação artificial, vivem uma rotina familiar relativamente tranquila. O filho mais novo, porém, quer conhecer o pai biológico, que doou o sêmen para o nascimento dele e da irmã. Essa nova presença na configuração familiar vai levar a mudanças na vida de todos.
 
 
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O garoto da bicicleta (Bélgica, 2011)
Cyril tem 11 anos e quer encontrar o pai, que o deixou em um orfanato para seguir a vida em outro lugar, e reaver sua bicicleta. O menino é ajudado por uma cabeleireira, que passa a cuidar dele nos fins de semana. Como em outras produções dos diretores belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, o filme tem um registro bastante realista para abordar temas como abandono e rejeição.

Autor

Gabriel Jareta


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