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Edição 241

Tempos de Belíndia

Publicado em 09/10/2017

por Redacao

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As mortes em escolas ocorridas recentemente no Rio de Janeiro, somadas à violência indiscriminada e ao estado de anomia que tomou conta da antiga capital da República, cidade que, para o bem e para o mal, carrega a força de símbolo identitário brasileiro, obriga a pensar sobre a aviltante desigualdade social a que assistimos e promovemos.
O senso comum nos faz ouvir – e às vezes também declarar – que não há caminho positivo para o Brasil que não passe pelo investimento maciço em educação. Mas, obviamente, esse investimento, por si só, não será o bastante.
Em primeiro lugar, porque não bastará investir o dinheiro que não temos. É preciso que o investimento seja de tempo, dedicação, comprometimento e adesão verdadeira, com a valorização da educação em nosso imaginário. É preciso que apareçam, por exemplo, mais representações positivas de professores, cientistas, estudiosos. Que o conhecimento seja reconhecido, como o são aqueles que ascendem nos negócios, nos esportes, no mundo da beleza, para ficar em alguns exemplos.
E não bastará investir apenas em educação, ainda que nesse sentido mais amplo. Será preciso investir em tudo que esteja ligado ao mundo público: na saúde, na segurança, no saneamento básico, no trâmite mais célere e equilibrado da justiça.
Não é possível que continuemos a aceitar a convivência (nada pacífica) entre tudo o que há de mais moderno e conectado, o mundo de fantasia a que as elites têm acesso, e as degradantes situações a que a maioria absoluta da população está submetida no seu dia a dia. No caso da educação, o contraste é entre o mundo das tecnologias de ponta e a precariedade física e humana mais absoluta.
Do Brasil grande que acreditava ser seu destino irreversível virar potência ao país do caos e da depressão de hoje, passamos por um processo contínuo de crença em soluções acessíveis a uns poucos. Foi assim com a educação, a saúde, a segurança, a moradia e o transporte – ao lado da cultura –, os temas mais relevantes da agenda pública.
A situação crítica da educação pública, por exemplo, parece só ter ficado clara quando, numa onda positiva da economia, o mundo produtivo descobriu que não poderia intensificar o ciclo de alta em função da falta de mão de obra qualificada. Obviamente, há exceções nesse descompasso de percepção.
Mas é importante que mudemos agora o jeito de pensar e olhar o que deve ser feito, para que, no próximo ciclo econômico ascendente, não nos deparemos com o mesmo problema. Sob pena de não mais entendermos o sentido da expressão cunhada nos anos 70 pelo economista Edmar Bacha, que batizou o Brasil de Belíndia, metade Bélgica, metade Índia. É possível que, até lá, a Índia já tenha em grande parte transformado sua realidade.

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