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Ensino Superior

A reinvenção do líder

Nova dinâmica global pede líderes mais empáticos e flexíveis; a oferta de disciplinas específicas e a realização de atividades extracurriculares são alguns dos possíveis caminhos para formá-los

Publicado em 28/03/2017

por Redação Ensino Superior

Destaque

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“O mais humano que há no humano”, essa é a aposta que o professor Anderson Sant’Anna, da Fundação Dom Cabral, faz sobre o perfil das lideranças do mercado produtivo em um futuro próximo. Para Sant’Anna, a liderança deixou de ser uma espécie de commodity e passou a ter uma estrutura sustentada por dois pilares: nas relações entre as pessoas e nas atuações profissionais em momentos de crise.
Fazem coro à aposta de Sant’Anna outros profissionais de educação consultados pela Ensino Superior sobre o tema. O líder de um futuro que chega cada vez mais rápido deve ter habilidades mais subjetivas. Gerenciar e organizar deixaram de ser a tônica do perfil e tampouco um diferencial.
A figura do líder-chefe, como um comandante tradicional, centralizador e autoritário, há um tempo que vem se desfazendo. Mas, mais que ser um motivador, como se tem pregado, precisará ser cada vez mais aquele que trabalhar de forma colaborativa. A própria estrutura organizacional, que passou a ser menos verticalizada e hierarquizada, forçou essa mudança.
Os avanços na área da tecnologia, que mexeram profundamente na forma de se comunicar e de se informar, também influenciaram a transformação da figura do líder. “No passado, talvez não tivesse a importância que tem hoje a flexibilidade para lidar com mudanças”, exemplifica Miriam Rodrigues, coordenadora de cursos de educação continuada do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Mackenzie.
Despontará como líder, então, aquele que souber agir quando a dinâmica fugir ao normal ou a um padrão já estabelecido; será aquele que melhor lidar com a diversidade, que alcançar o engajamento e o estímulo de pessoas ao seu redor e que tenha criatividade, seja inovador e atue com competência em um contexto de alta complexidade em que vivemos no mercado de trabalho de hoje. “Atualmente, a gestão é em cima do capital emocional, intelectual ou até espiritual”, afirma Edmarson Bacelar, professor da Fundação Getulio Vargas (FGV).
“Essa mentalidade arraigada de liderança relacionada ao cargo continua existindo de certa forma, mas ao mesmo tempo, vemos outras formas de liderança. Pode ser um líder de projetos ou ações pontuais, um líder de empoderamento e de relacionamento com indivíduos” diz Miriam.
De dentro para fora
O ritmo frenético das transformações do mercado pode, por vezes, estar em descompasso com as mudanças do mundo acadêmico e esse desafio se dá também na hora da formação de novos profissionais. “Infelizmente, a academia ainda é um pouco lenta, mas é preciso descobrir maneiras de agilizar essas mudanças. Acredito que as instituições de ensino estão começando a se adequar mais ao mundo fora da academia”, afirma Bacelar. A coordenadora dos cursos de educação continuada do Mackenzie concorda: “Algumas delas ainda são muito burocráticas, mas a agilidade é extremamente importante, no sentido de se olhar para fora do mundo da escola”, diz.
Segundo Miriam, todo curso de graduação tem uma preocupação com a formação de liderança, mas a interdisciplinaridade é fundamental. Outra maneira de trabalhar a formação de líderes, além de disciplinas específicas e cursos, é continuar se debruçando sobre o tema, explorando em teses de mestrado e doutorado, se atualizando e pesquisando. Adotar abordagens mais vanguardistas sobre o assunto, como a neuroliderança, indica.
A orientação do coordenador do Insper Guy Cliquet é identificar como definir o programa acadêmico para que as disciplinas tenham mais flexibilidade, especificando o que é crítico, essencial e obrigatório em uma atividade sem muitos detalhamentos para alcançar a agilidade necessária na hora da atualização.
Mas Bacelar ressalta que é preciso levar em consideração também que formar líderes com perfis mais humanistas, que entendam melhor as pessoas, requer tempo. “Tem de praticar e estudar para aprender a lidar com as emoções.”
Líder só
Um perfil de líder não está limitado àqueles que coordenam ou comandam outras pessoas, mas também aos que sabem se autogerenciar. Desde que a palavra líder foi dissociada do significado de cargo, a autoliderança passou a ser ainda mais valorizada.
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Especialmente para o profissional que decidiu empreender. A habilidade de se autoliderar, isto é, saber gerir a própria vida, tomar decisões rápidas, pode ser um diferencial para sobreviver no mercado que mais reprova que aprova projetos.
“Empreendedorismo é pensar e agir em cima de uma oportunidade, ter atitude”, reforça Marina Sierra de Camargo, coordenadora da área de empreendedorismo do Senac São Paulo. “A inovação é um recurso de valor para liderar”, conclui.
No Senac, o tema é trabalhado com muitas atividades práticas e extracurriculares e ajuda o aluno a identificar as próprias dificuldades, se autoconhecer. Mas Marina observa: fala-se pouco sobre fracasso na academia, e o profissional precisa manter a liderança nesses momentos. Depoimentos de ex-alunos podem auxiliar nessa discussão em sala de aula.
Antigos valores
Até mesmo a cena política recente no Brasil mexeu com o perfil do que se espera dos novos líderes. Disciplinas de formação de valores como caráter, integridade e ética, apesar de terem sido sempre importantes quando se fala em liderança, ganharam um peso maior em tempos em que a sociedade acompanha dia a dia os desdobramentos de casos de corrupção espalhados pelo país.
“Estamos vivendo um período de contestação de credibilidade”, lembra Amílcar Gröschel Jr., coordenador geral de pós-graduação do Complexo Educacional FMU. E a instituição, como um organismo vivo, tem de atender às novas demandas sociais. Ela pode exercer essa função também, ser referência em construção ética e de dever social de um profissional.

Autor

Redação Ensino Superior


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