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Ensino Superior

Como as diferentes gerações aprendem

Diretor do Centro de Ensino e Aprendizagem da Universidade do Chile aposta no chamado “aprendizado sem costuras” como melhor forma de ensinar os jovens da geração Z

Publicado em 01/12/2016

por Mariana Ezenwabasili

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Se antigamente uma nova geração era formada a cada 25 anos, hoje os saltos geracionais acontecem a cada década. Enquanto a geração X é composta por pessoas que nasceram entre 1960 e 1980, após o chamado baby boom das décadas de 1920 e 1940 nos Estados Unidos, e a geração Y compreende aqueles que nasceram entre o fim dos anos 1970 e o início dos anos 1990, a geração Z abarca os jovens nascidos entre 1992 e 2010. Esse tipo de contagem tornou-se importante desde que se passou a aceitar que o momento socioeconômico e histórico influencia diretamente o comportamento dos indivíduos. Ou seja, diferentes períodos da história têm impacto sobre a forma como jovens e adultos consomem, trabalham e aprendem.
“Os jovens de hoje, da chamada geração Z, usam muito bem as tecnologias e podem prescindir da educação formal. Para eles, empreender alguma coisa não está relacionado a estudar; eles constroem carreiras flexíveis, podendo entrar e sair do mercado de trabalho a qualquer momento.” A análise de Oscar Jerez Yañez, diretor do Centro de Ensino e Aprendizagem da Universidade do Chile, retrata bem a constatação de que diferentes gerações de jovens aprendem de formas distintas, e de que para acompanhar as mudanças geracionais o ensino também deve ser mais maleável.
Sob essa perspectiva, o diretor é responsável por antecipar e executar tendências inovadoras com relação às formas de ensino em sua instituição. Yañez aposta no modelo do seamless learning (“aprendizagem sem costuras”), que tem entre suas principais características: a consideração da aprendizagem formal e informal por meio de dispositivos analógicos e digitais; o ensino em espaços físicos diferentes e a transparência na forma de ensinar por meio de múltiplas tarefas.
O diretor da Universidade do Chile conversou sobre esses temas com a Ensino Superior em sua recente passagem pelo Brasil para participar como palestrante do 18º Fórum Nacional do Ensino Superior Particular Brasileiro (Fnesp), realizado em São Paulo.
Por que se diz que jovens de diferentes gerações aprendem de formas distintas?
A cultura influencia na maneira como as pessoas aprendem. Assim, temos de compreender muito bem quem são nossos estudantes para entender como eles aprendem. Se não compreendemos quem eles são, ficamos eventualmente cegos com relação ao que, de fato, os alunos conseguirão aprender. O estudante pode estar sentado na sala de aula, mas não aprende. Portanto, temos de investigar as formas diferentes como as atuais gerações aprendem. Não podemos aplicar a mesma formação contínua oferecida às pessoas que hoje têm 30, 40 anos aos jovens de 20 anos, que têm outra forma de estar no mundo. Se isso não é compreendido, não há êxito no impacto do ensino ofertado.
Como são caracterizados os aprendizados de cada uma das diferentes gerações?
Os jovens da geração Z aprendem de maneiras múltiplas; uma variedade de fontes articuladas pode integrar seus materiais de aprendizado. Esses jovens são multifocais e convergentes, ou seja, convergem conteúdos por meio de plataformas diferentes.
A relação entre eles não é sistemática, não necessitam sentar-se nas salas de aula e aprender os pontos um, dois e três de um determinado conteúdo. Já o profissional da geração Z é contextual e convergente, enquanto o profissional da geração X, que é anterior à geração Z, se preocupa com fundamentos e com a seguridade do emprego. E ainda temos de falar da geração alfa [dos nascidos depois de 2010], porque neste momento estamos na transição entre a geração Z e a geração alfa.
A geração Z tem a ver com a geração alfa?
São distintas. Com relação à alfa, ainda estamos em um processo de investigação, porque é uma geração totalmente nova. A geração alfa é a geração dos movimentos sociais de todos os tipos, movimentos oriundos das transformações mundiais ocorridas nos últimos anos. Os pertencentes a essa geração se importam com o ecossistema, com a sustentabilidade e com os recursos naturais.
As características de cada geração mudam conforme o país ou realidade social de um continente?
Eu já trabalhei em mais de 30 países e em todos eles os sistemas educacionais têm problemas para acompanhar as mudanças geracionais. Esses países têm todos os mesmos elementos geracionais. A cultura, sim, é um componente de diferenciação, mas hoje em dia estamos hiperconectados. Portanto, o jovem que está na África conhece e consome a música que toca nos Estados Unidos ou no Brasil; eles estão conectados pela tecnologia e pela própria geração.
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Como as IES devem acompanhar essas rápidas mudanças geracionais?
Uma colega de uma universidade na Espanha me disse algo interessante: ‘hoje, na nossa universidade, os jovens não vêm estudar. Eles vêm trabalhar, ter uma experiência em fazer e construir coisas. A aprendizagem e a reflexão são consequências disso’. Ou seja, a universidade tem de oferecer outras formas de ensino para que esses alunos possam aprender mais e melhor.
Você aposta no modelo do seamless learning (aprendizados em costuras) para isso? Pode explicá-lo melhor?
Partindo da ideia de que as costuras são barreiras, que segmentam partes de um todo, o que o seamless learning propõe é romper com as ‘costuras’ entre os aprendizados formal e informal, o ensino presencial e a distância, o ensino sistemático e o convergente. A chave é observar todas essas possibilidades como formas de uma melhor aprendizagem. O aprendizado sem culturas é articulador de muitos tipos de espaços de aprendizagem, não delimita tempo e nem lugar para acontecer; é um aprendizado ‘multilugar’, que integra atividades feitas no dia a dia e ocupa todos os focos de aprendizagem.
Como é possível replicar esse tipo de metodologia?
Primeiro, é preciso fazer pequenas mudanças. Não dá para mudar toda a forma de ensino de uma só vez. Se um curso tem 20 disciplinas, primeiro é possível mudar a forma de ministrar e ofertar uma delas, depois duas, pouco a pouco. O que importa é que a instituição tenha facilidade para fazer o seu processo. E esse é um processo de mudança a longo prazo. Não se pode mudar nada de um dia para o outro.
É preciso investir em infraestrutura para tais mudanças?
Mais do que pensar em infraestrutura, isso tem a ver com a disponibilidade. Na América do Sul e na África, vi universidades muito pobres, com pouca infraestrutura do nosso ponto de vista, mas propondo um ensino de forma diferente, fazendo coisas impressionantes. Isso tem a ver com atitude, tem a ver com os gestores apoiarem os seus docentes para fazer mudanças.
Quais os exemplos de mudanças no Chile?
Na Universidade do Chile, estamos trabalhando com praticamente 60% do currículo com a metodologia sem costuras, temos muita inovação acadêmica e muita inovação nas aulas. Além disso, nos últimos 15 anos o governo do país tem investido financeiramente em concursos para a inovação acadêmica. Ou seja, no Chile já se percebeu que a inovação deve ser constante para impactar a aprendizagem.

Autor

Mariana Ezenwabasili


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