NOTÍCIA

Ensino Superior

Autor

Redação Ensino Superior

Publicado em 24/03/2015

Agora é que são elas

ESPECIAL MULHERES: PERFIL | Edição 196 Sensibilidade e organização caracterizam o perfil profissional das mulheres que ocupam cargos de gestão em instituições de ensino superior por Juliana Duarte A letra daquela música famosa cantada por Roberto Carlos não poderia ser melhor para exemplificar o contexto […]

ESPECIAL MULHERES: PERFIL | Edição 196
Sensibilidade e organização caracterizam o perfil profissional das mulheres que ocupam cargos de gestão em instituições de ensino superior
por Juliana Duarte

Carreira na educação: Patrícia Gomes Cardim, diretora do Belas Artes, que trabalha na instituição desde a adolescência, está sempre em busca do aperfeiçoamento profissional

A letra daquela música famosa cantada por Roberto Carlos não poderia ser melhor para exemplificar o contexto da participação feminina no mercado de trabalho: é uma mentira absurda dizer que a mulher é um sexo frágil.
Firmes, decididas e organizadas, as profissionais ganham cada vez mais espaço – e destaque – em diferentes áreas. Elas são maioria, por exemplo, em funções técnico-administrativas em instituições de ensino superior particulares. De acordo com levantamento do Sindata (Sistema de Informações do Ensino Superior Particular do Semesp, em 2013 havia 117 mil colaboradoras diante de pouco mais de 90 mil homens.
O caminho, porém, para que as mulheres passem a liderar também em cargos de gestão, especialmente nas faculdades, ainda é longo para a educadora Gisela Wajskop, fundadora do Instituto Singularidades. De acordo com ela, existe uma predominância da figura masculina no ensino superior e, por outro lado, da feminina na educação básica. “Percebo que fomos reservadas para ensinar e coordenar instituições voltadas às crianças por se tratar de universo familiar. Quando diz respeito a uma universidade, que tem uma racionalidade mais empresarial do que escolar, ainda se prioriza o homem como gestor”, pontua.
Um dos motivos que impulsionam tal configuração, segundo Gisela, ainda é o preconceito – julgamento que também passou por mudanças ao longo dos anos. “Felizmente, hoje isso ocorre de uma forma muito mais pontual do que generalizada, mas ainda é preciso vencer barreiras”, comenta. Para superar esse tipo de problema, a gestora recomenda manter uma postura firme, saber ouvir o próximo e agir de acordo com os princípios estabelecidos nos valores institucionais.
Embora não seja dominante, a curva de crescimento da participação feminina em cargos de liderança é uma situação real no Brasil. De 2012 para 2013, a proporção de mulheres em postos mais altos em todo o mercado de trabalho (não apenas em instituições de educação) saltou de 3% para 14%, segundo a pesquisa International Business Report, realizada pela consultoria Grant Thornton. “Aos poucos vamos quebrando obstáculos com o intuito de alcançar, além de postos semelhantes, faixas salariais equivalentes às praticadas junto aos profissionais do sexo masculino. Faz parte do processo de mudança”, ressalta Josiane Tonelotto, pró-reitora acadêmica da Universidade Anhembi Morumbi.
Questão de postura
De acordo com Gisela, isso se deve, em grande parte, à postura adotada pelas profissionais. Na visão da educadora, um bom gestor, independentemente do gênero, deve ter as mesmas características: saber delegar funções, escutar, agir com firmeza e compreender a instituição como um todo. No entanto, ela diz que as mulheres apresentam particularidades que podem incrementar esse bom desempenho, como ter um olhar mais humano das situações que costumam acontecer dentro de uma escola.
“Em algumas ocasiões, isso pode ser uma vantagem no sentido de uma gestão voltada ao âmbito pessoal, com mais sensibilidade. Em outros casos, esse fator atrapalha quando comparado à objetividade inerente ao homem, capaz de resolver determinadas questões de uma maneira mais direta”, explica. Ela acredita que desenvolver essas habilidades socioemocionais pode ser uma forma de fazer um contraponto em ambientes escolares que demandam escuta, jogo de cintura e a capacidade de se colocar no lugar do outro.
Na opinião de Carla, o desempenho de professoras, coordenadoras e reitoras à frente de suas respectivas equipes demonstra a capacidade de saber unir habilidades conquistadas na esfera profissional e também na pessoal, o que tem relação direta com a organização da rotina familiar. “Conseguimos, dentro da carga horária de trabalho, realizar todas as funções que nos são atribuídas e ainda sabemos dividir as atividades da forma mais igualitária possível”, ressalta.
Para Cristina Nogueira Barelli, coordenadora do curso de pedagogia do Instituto Singularidades, o diferencial do perfil feminino está justamente na capacidade de administrar diversas tarefas e situações concomitantemente. Faz parte do universo da mulher ter de lidar com diferentes demandas do cotidiano, como casa, filhos e família, experiência que contribui efetivamente para o dia a dia de trabalho.
Com 30 anos de carreira, Cristina integra o quadro de funcionários do Instituto Singularidades há quase uma década, onde, atualmente é coordenadora do curso de pedagogia. Sua trajetória, porém, percorre várias instituições, tendo participado de diferentes cargos antes de desenvolver atividades ligadas à gestão. “Me sinto bastante confortável em minha posição atual. Na educação, sempre temos de trabalhar com planejamento e organização, bagagem muito valiosa quando passamos a exercer uma função de liderança”, explica.
Talento à flor da pele
Por sofrer influências hormonais mensais, é comum a mulher apresentar uma sensibilidade maior em determinados períodos. A característica, no entanto, não é necessariamente prejudicial, na opinião de Josiane Tonelotto. Segundo ela, esse fator não é de todo negativo. Pelo contrário: deve ser usado a favor do desempenho feminino em cargos de liderança. “É uma maneira de compreender, de uma forma mais profunda, tanto o nosso trabalho quanto o dos outros que estão ao redor”, comenta.
Essa característica, se bem aproveitada pelas mulheres, garante ainda maior sucesso nas ações a que se propõem, como no caso de Gisela, que, quando decidiu fundar o Instituto Singularidades, em 2001, lançou mão, entre outras coisas, de sua sensibilidade para conquistar a confiança de sua equipe. “Ser sensível fez toda a diferença, já que um gestor não deve ser responsável apenas pela administração da escola, mas sim pelas relações, conflitos, projeto acadêmico e valores institucionais, que devem estar em harmonia com as expectativas dos docentes e dos discentes”, afirma. Nesse momento, estabelecer metas que vão muito além de objetivos revela-se fundamental para garantir a dimensão humana das relações que constituem uma escola.
Na opinião de Cristina, os cargos de gestão têm características similares independentemente da empresa em questão. Contudo, exercê-los em instituições de ensino em geral envolve a aptidão para se relacionar com as pessoas, tanto profissionais renomados como aprendizes. Nesse sentido, sendo homem ou mulher, é fundamental apreciar esse tipo de contato para desempenhar o trabalho com prazer e atenção. “Esse gostar contribui para que outros processos internos fluam de maneira positiva”, comenta.
Características da líder
De acordo com Gisela, o perfil da mulher gestora é bastante homogêneo. Geralmente, são profissionais entre 40 e 58 anos que já passaram por diferentes cargos dentro de instituições de ensino superior, como docência e coordenação de cursos. Outra característica é a participação frequente em cursos de atualização, tanto nacionais quanto internacionais. “Faz parte do universo feminino querer inovar e levar conhecimento às pessoas sempre que há alguma oportunidade”, pontua.
A persistência é mais uma palavra presente na rotina das profissionais que atuam em cargos de liderança. Segundo Patrícia Gomes Cardim, diretora-geral do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, a mulher precisa lutar sempre um pouco mais do que os homens para provar que também tem capacidade para chegar lá, por isso tende a ser mais determinada. “Essa característica pode ser vista já nos cursos de graduação. As meninas se matriculam, permanecem até o fim com maior frequência e acabam virando líderes”, comenta.
Para Patrícia, a capacidade de comunicação também é um diferencial do perfil feminino. Como atualmente as empresas estão mais democráticas, as negociações costumam ocorrer a partir de conversas e contatos com outros profissionais da área. “Sem dúvida, somos mais eficientes nesse quesito”, comenta. Por fim, ela sugere que a insegurança deve estar bem longe de uma mulher que atua (ou almeja atuar) como gestora. Ter medo de manifestar suas opiniões em uma sala repleta de homens, por exemplo, não é um bom indicador. “Não tenha receio de falar aquilo que você deseja”, recomenda às suas colegas.
De acordo com a reitora da Universidade Feevale, Inajara Vargas Ramos, entre as características fundamentais que guiaram sua trajetória profissional de sucesso em direção a um cargo de liderança, estão segurança e determinação. Com 27 anos de carreira na área de educação, ela começou como professora de classes de educação infantil, passando mais tarde por turmas de ensino médio, graduação e pós-graduação até chegar à reitoria da Feevale. “Serenidade, confiança e sabedoria também se revelam imprescindíveis para a construção de uma história sólida e respeitada, independentemente do gênero”, ressalta.
Josiane Tonelotto compartilha da mesma opinião – ela confidencia que o fato de ser mulher não influenciou em nada os seus caminhos no universo educacional. Conquistar a confiança dos funcionários e dos gestores tem uma relação maior com a postura de cada profissional, que deverá imprimir segurança, expor as ideias e lutar por diferentes pontos de vista.
Situação semelhante ocorre com Gisela Wajskop. Tendo estado à frente do Instituto Singularidades durante 13 anos, liderou grandes equipes desde a elaboração do projeto acadêmico, até a construção dos valores da escola. “Foi uma experiência muito gratificante, principalmente ao perceber que eu consegui conquistar a confiança dos professores e que não havia comparações em relação ao gênero”, conta. Atualmente, Gisela desenvolve projetos na área de pesquisa e acredita que a mulher já tem o seu espaço em todas as áreas, mas precisa ser segura e determinada para mantê-lo.
 

Todos os papéis em uma
A diretora-geral do Centro Universitário Belas Artes de São Paulo, Patrícia Gomes Cardim (foto acima), começou a trabalhar cedo na esfera educacional: aos 14 anos já integrava o quadro de funcionários da instituição como jovem aprendiz. Ela seguiu carreira no Belas Artes, onde conquistou um estágio e, posteriormente, formou-se em design de moda. Ao notar que tinha um perfil para assumir cargos de liderança, optou por estudar administração fora do país e, assim, aliar seus conhecimentos educacionais a conceitos ligados à gestão. Hoje, como diretora-geral da instituição, Patrícia se desdobra para dar conta do recado: chefiar uma grande equipe, reciclar-se constantemente como profissional e ainda ser mãe de dois filhos, sendo um deles recém-nascido. “Faz parte da mulher querer abraçar o mundo, estar à frente das relações familiares ao mesmo tempo em que pensa em maneiras de buscar inovações ao seu dia a dia de trabalho. Somos assim”, comenta. No Belas Artes, a presença feminina é grande: elas representam 55% do corpo administrativo e 50% do quadro de professores.

 


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