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Bill Aulet, diretor-gerente do Martin Trust Center do MIT, defende o ensino de empreendedorismo mais fundamentado em teoria e conhecimento por Camila Viegas-Lee, de Nova York Antes de começar a discutir o ensino do empreendedorismo na educação superior é necessário ponderar se é possível ensiná-lo. […]

Publicado em 02/04/2014

por Ensino Superior

Bill Aulet, diretor-gerente do Martin Trust Center do MIT, defende o ensino de empreendedorismo mais fundamentado em teoria e conhecimento
por Camila Viegas-Lee, de Nova York
Antes de começar a discutir o ensino do empreendedorismo na educação superior é necessário ponderar se é possível ensiná-lo. Essa é a opinião de Bill Aulet, diretor-gerente do Martin Trust Center for MIT Entrepreneurship, um programa de pesquisa e ensino do Massachusetts Institute of Technology (MIT). De acordo com o diretor-gerente, grande parte da população e até mesmo dos professores da disciplina ainda acreditam que o empreendedorismo é um dom inato. “Há muita gente achando que empreendedorismo é genético. Ou você nasce com ele, ou não”, comenta.
Aulet trabalhou por mais de uma década na International Business Machines Corp. antes de fundar diversas empresas de tecnologia, incluindo uma companhia de imagem 3-D, a SensAble Technologies. Ele também é autor de Disciplined Entrepreneurship: 24 Steps to a Successful Startup, lançado pela Editora Wiley, em setembro último e ainda sem versão em português. O professor, que também leciona na Escola de Administração Sloan, do MIT, diz que não resta dúvida de que o interesse pelo empreendedorismo cresceu na América Latina, principalmente no Brasil, Chile e México.
De acordo com Bill Aulet, há casos extremos de talentos do empreendedorismo, como Richard Branson e Steve Jobs, que se tornariam empreendedores de qualquer maneira. E há, do outro lado, aqueles que não têm o menor pendor ou interesse em tomar riscos. Entre esses dois extremos existe uma grande quantidade de pessoas que podem aprender a empreender.
O ensino de empreendedorismo foi por muito tempo baseado em histórias e anedotas sobre cases de sucesso ou fracasso, deixando de lado o que de fato precisa ser ensinado aos alunos: fundamentos que possam ser aplicados no mundo atual. O currículo das faculdades de administração e tecnologia está repleto de exemplos do passado. A questão é que iniciativas que deram certo outrora não necessariamente funcionariam hoje.
É com esse intento que no MIT as primeiras aulas são dedicadas a definir conceitos, como os tipos de empreendedorismo, por exemplo: o empreendedorismo para pequenas e médias empresas (ou SME, small and medium sized enterprises, em inglês) que requer políticas governamentais e uma prática de ensino completamente diferentes do empreendedorismo voltado à inovação (ou IDE, innovation-driven entrepreneurship, em inglês). “Essa diferença é muito útil. É como ensinar a disciplina esporte para jogadores de basquete e de beisebol. Os dois são esportes, mas são também completamente diferentes”, explica.
Um dos fatos apontados ultimamente é que um número recorde de recém-formados no colegial está procurando carreiras em empreendedorismo. Na Universidade Yale, por exemplo, mais de 20% dos estudantes dizem que estão interessados em virar empreendedores quando se formarem. “Compare isso com 1980, o ano em que me formei em Harvard. Eu não sabia o que a palavra “empreendedor” significava – nem nenhum de meus amigos”, afirma Aulet.
Segundo Aulet, há uma boa razão para essa tendência. Carreiras tradicionais não oferecem mais segurança enquanto as start–ups prometem independência aos jovens e a possibilidade de ganhar muito dinheiro. Ensinar empreendedorismo é difícil, pois se trata de um assunto idiossincrático, contextual e experimental. “Diferentemente de química, matemática ou programação de computadores, não há respostas definitivas no mundo das start–ups. Por definição, empreendedores estão fazendo o novo e o desconhecido, portanto não há algoritmos para o sucesso”, justifica.
No passado, o MIT prezava trabalhar o ensino de empreendedorismo mais na pós-graduação e com grande sucesso, pois percebia que era melhor que os alunos obtivessem uma forte base em exatas (ou Stem, na sigla em inglês: ciências, tecnologia, engenharia e matemática) para depois se tornarem empresários. Mas hoje a instituição considera ser possível ensinar o empreendedorismo tanto no nível de graduação quanto no nível de pós-graduação.
Instituições de ensino superior precisam começar a pensar em empreendedorismo como uma disciplina que demanda um rigor acadêmico como em direito, medicina e contabilidade. No MIT, o segredo é combinar empreendedores reais, para explicar aos alunos como montar uma folha de pagamento, e acadêmicos, para ter certeza de que as lições estão estatisticamente validadas.
Segundo a Ewing Marion Kauffman Foundation, a maior parte dos empregos criados hoje nos Estados Unidos vem de start-ups. Essas novatas se tornaram a fonte de rejuvenescimento da economia americana e muitas vezes fecham lacunas em setores como o ambiental, o educacional e de saúde. E é por isso que Aulet insiste que professores acadêmicos devem ensinar habilidades operacionais, além de encorajar o espírito de aventura dos estudantes e focar na escala para poder saciar uma possível demanda explosiva. Se os estudantes saírem rumo ao mercado sem as habilidades necessárias, as pessoas vão desacreditar no empreendedorismo como disciplina educacional e até como estilo de vida.

Tipos de empreendedorismo
Empreendedorismo para pequenas e médias empresas (SME)
• O foco está apenas em mercados locais;
• A inovação não é fundamental para o crescimento do negócio e não necessariamente praticada;
• São negócios familiares, na maior parte das vezes, e possuem pouco ou nenhum capital externo;
• O crescimento da empresa geralmente acontece de forma linear.Empreendedorismo direcionado por inovação (IDE)
• A start-ups estão incluídas nesse grupo;
• Possui foco em mercados globais e também regionais;
• A inovação é a base da empresa e sua maior vantagem;
• Pode ter uma variedade de investimentos externos;
• Geralmente começa perdendo dinheiro, mas, se tiver sucesso, o crescimento é exponencial.
 
Disciplina no empreendedorismo
O livro Disciplined Entrepreneurship: 24 Steps to a Successful Startup detalha 24 passos para a criação de uma nova empresa de sucesso, desde selecionar um mercado até calcular o custo para a aquisição de clientes. Bill Aulet admite que muitos dos passos individuais não são revolucionários, mas que ao estabelecê-los ao redor de temas como a distribuição do produto e como ganhar dinheiro com ele, novos empreendedores podem obter um mapa.

 

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