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Realidades opostas

Os depoimentos de duas professoras sobre a valorização docente por meio da remuneração

Publicado em 06/03/2013

por Redação revista Educação

Sandra Mila da Silva Pereira tem 39 anos, dois filhos e ganha R$ 1.281 por uma jornada de 40 horas semanais. Professora da rede estadual do Amapá, ela é graduada em artes visuais e ainda cursa uma pós-graduação em docência da Educação Básica e Educação de Jovens e Adultos. Apesar de investir em sua formação, a professora acredita que não recebe um retorno por isso.

Já para Maria Uranie Sanchez, diretora do ensino fundamental 2 de uma tradicional escola particular em São Paulo, seu talento é valorizado e reconhecido pela escola onde trabalha. “Acredito que o salário na escola está, sim, condizente com meu trabalho”, afirma.

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Confira abaixo o depoimento das duas professoras que vivem realidades tão opostas:

“Meu sentimento é de revolta. Não sou reconhecida e não há incentivo para continuar estudando”, Sandra Mila da Silva Pereira, 39 anos, professora da rede do estado do Amapá

Sou graduada, licenciada em artes visuais na Universidade Federal do Amapá, e estou fazendo uma pós-graduação em docência da educação básica e Educação de Jovens e Adultos (EJA). Entrei na rede em 2007, por um concurso para professor do Ensino Fundamental 1. Antes disso, desde 2003, já trabalhava como temporária. Recebo hoje R$ 1.281,03 para uma jornada de 40 horas.

Dei entrada no pedido de promoção na carreira em 2012 [por ter graduação], mas até agora não recebi. O diretor da minha escola queria me colocar como professora de ensino fundamental 2 e também de ensino médio, porque há muita carência no estado para professor de arte, mas não houve permissão do governo. No ano passado, atuei como professora de artes no ensino fundamental 2 em desvio de função.

Meu sentimento é de revolta. É como se a gente tivesse jogado dinheiro fora, por investir na formação, que não foi patrocinada pelo governo. Não sou reconhecida por isso e não há incentivo para continuar estudando.

Sou separada e tenho dois filhos – um rapaz de 20 anos e uma menina de nove. Consigo meu sustento com muita dificuldade e minha saúde está ficando prejudicada por causa do trabalho: desenvolvi uma inflamação na coluna por carregar material; problemas de circulação, devido ao tempo de pé na sala de aula; e de visão. Fazer óculos não é barato, ainda mais multifocal. A rede não dá convênio nem parceria com nenhuma instituição.

Até pensei em trocar de profissão, mas estudei toda a minha vida para ser professora, e isso é o que gosto de fazer. Penso em terminar a pós-graduação para ver se consigo dar aulas em alguma faculdade, independentemente da carreira do estado. O custo de vida no Amapá é alto para o que recebo e trabalhar com arte é caro, por conta do material. Tenho de me desdobrar.

“Vejo que a escola aproveita muito o talento dos profissionais e me sinto bastante valorizada”, Maria Uranie Sanchez, 57 anos, diretora do ensino fundamental 2 do Colégio Visconde de Porto Seguro, unidade Morumbi, São Paulo

Este é meu 34º ano de educação. Trabalhei sem parar desde os 22 anos e pretendo continuar, pois a educação me traz perspectivas de um mundo melhor, capaz de salvar a humanidade, inclusive os males da alma.

Trabalhei em outras três escolas antes do Porto Seguro, e também na escola pública, com estágio, quando comecei a carreira. Depois prestei assessoria para escola pública em alguns momentos. Cheguei ao Porto Seguro como professora de ciências. Na sequência, a escola me convidou para coordenar a área e depois para ser diretora do nível. Estou no nono ano de direção. Vejo que a escola aproveita muito o talento dos profissionais e me sinto bastante valorizada.

Quem está numa gestão tem de pensar na liderança como espaço de compor e aproveitar os talentos da equipe. O melhor gestor vai permitindo que todos ocupem espaços e fica como o maestro na orquestra.

Sempre gostei muito de trabalhar com as pessoas. Já tinha desenvolvido trabalhos menores na coordenação de área e tive que aprender muito. Para mim, foi difícil sair da sala de aula, porque sou professora. Não existe ex-professor. O que acontece é que estou em outra posição, mas mantenho a alma de professora e isso faz diferença no cargo de liderança.

A valorização do professor não pode estar centrada só na remuneração. Não se sabe o quanto tem que ser o valor da hora-aula para equiparar com o que o professor faz. Acredito que o salário na escola está, sim, condizente, e sinto ter uma equipe muito feliz, pertencendo ao colégio. A valorização do professor na sociedade é muito importante. Percebo que estamos em um caminho de subida. Durante muito tempo a profissão foi esquecida e desvalorizada. O educador estava sozinho, como uma voz no deserto. Hoje nossa sociedade começa a perceber, a partir de outras referências, que ser professor não é um trabalho voluntário. O professor é um profissional que tem de ter remuneração e vida digna.

Leia mais:
> A história da profissão docente no Brasil sempre esteve atrelada à baixa remuneração

> Quanto vale a valorização docente

Autor

Redação revista Educação


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