NOTÍCIA

Ensino Superior

Capital para investir

Após fechar o ano contabilizando resultados positivos, análise do mercado financeiro prevê que o setor educacional continuará crescendo em 2013. O segredo é apostar na boa governança administrativa por Udo Simons O ano de 2012 foi muito bom para as quatro empresas de educação listadas […]

Publicado em 25/02/2013

por Redação Ensino Superior

Após fechar o ano contabilizando resultados positivos, análise do mercado financeiro prevê que o setor educacional continuará crescendo em 2013. O segredo é apostar na boa governança administrativa
por Udo Simons
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O ano de 2012 foi muito bom para as quatro empresas de educação listadas na Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros (BM&F Bovespa): Anhanguera Educacional Participações S.A., Estácio Participações S.A., Kroton Educacional S.A. e Abril Educacional (essa última também no setor de mídia). Juntas, as ações do setor estiveram entre as mais rentáveis dentre todas as 452 empresas da bolsa. O volume negociado entre elas superou R$ 13 bilhões. E mais, o setor de educação teve participação de 0,75% do total do volume negociado no ano passado, isso num contexto em que a Bovespa atingiu recordes históricos no seu volume financeiro (R$ 1,78 trilhão), assim como no número de negócios realizados (191.973.773).
A boa ventura das instituições presentes na bolsa, porém, não é gratuita. É preciso ter disposição e adotar uma governança administrativa eficiente para galgar um
desempenho positivo.
Com 2.099 instituições privadas e mais de seis milhões de alunos os números do setor de ensino superior, aliados ao potencial desenvolvimento do país, dão margem para análises positivas de crescimento e aumento do interesse de investidores nesse mercado. Isso é o que aponta o estudo de mercado Análise de Mercado e Perspectivas para 2013, elaborado pela corretora Coinvalores, que prevê um aumento significativo na base de alunos das instituições educacionais particulares listadas na bolsa e, consequentemente, no faturamento dessas empresas.
Captação acumulada
Mas a boa maré das instituições educacionais com capital aberto não é um fato recente. A captação total dessas empresas acumulada desde 2007, quando o setor inaugurou as operações na bolsa, em ofertas iniciais e secundárias de ações, é de mais de R$ 4 bilhões.
“O Brasil mantém um dos maiores polos educacionais do mundo. Há uma importante discussão sobre a necessidade da ampliação dos investimentos em educação para chegarmos ao nível equivalente ao dos paí­ses desenvolvidos”, reflete Adriana Sanches dos Santos, Gerente de Produtos e Serviços para Empresas da BM&F Bovespa. “Do lado do setor privado, esperamos que, cada vez mais, as empresas utilizem o mercado de capitais para financiar a expansão e fortalecimento no setor”, acrescenta.
Outros números dimensionam a força do mercado financeiro para a consolidação do setor educacional defendida por Adriana. Em dezembro último, de acordo com as estatísticas da BM&F Bovespa, as ações da área de educação negociaram mais de R$ 110 milhões de reais por dia; e o valor das empresas listadas estava próximo aos R$ 18 bilhões. E as perspectivas de crescimento continuam positivas para os próximos anos.
Olhos ao norte
Segundo o estudo Perspectivas para 2013, da corretora Coinvalores, o setor de educação superior vive um momento de expansão, reflexo da “conjuntura de crescimento econômico brasileiro e melhoria de renda da população, em especial nas classes média e baixa”. Ao considerar as instituições educacionais listadas na bolsa, o estudo indica que não deverão ser realizadas aquisições relevantes, mantendo-se a estratégia de geração de caixa operacional positivo. “Ainda assim, o foco será em regiões nas quais as empresas ainda não atuam, mas com perspectivas de forte crescimento”, supõe a análise.
Nesse sentido, na equação “forte crescimento” e “região para investir” a resposta é certeira: Norte e Nordeste. São essas as duas regiões mais visadas no país para expansão dos grupos educacionais. Interesse que se justifica ao considerar, entre outros motivos, o número populacional – são mais de 70 milhões de moradores nos 16 estados dessas regiões; aumento do consumo em relação às décadas passadas; e aumento do investimento particular e público em infraestrutura.
Nesse último caso, são vários os exemplos. Para citar dois dos mais relevantes, com impacto nacional, podem-se lembrar a ampliação do Porto de Suape, no litoral sul de Pernambuco; e a construção da usina de Belo Monte, no Pará. A partir dessas obras, a condição socioeconômica e ambiental dos municípios que as abrigam, bem como o entorno geográfico dessas localidades, passaram por modificações radicais.
Em contrapartida, falta mão de obra qualificada em todos os níveis educacionais para atender à demanda das empresas que ali se instalam, e dar vazão à necessidade de prestação de serviço em suas mais variadas ofertas. Questão esta, aliás, predominante no Brasil nos últimos anos.
“Olhamos com carinho e interesse para as regiões Norte e Nordeste, que apresentam crescimento acima do mercado”, comenta Carlos Lazar, diretor de Relações Institucionais da Kroton Educacional. “Temos posição de capital que nos permitirá realizar várias aquisições [no futuro próximo]”, acrescenta.
De acordo com Lazar, a expansão da instituição acontecerá de forma “orgânica e inorgânica”. “Em alguns momentos compraremos instituições, faremos fusões; em outros construiremos novos campi. Será um movimento híbrido, alternado, que deve acontecer nos próximos anos”, acrescenta.
A Kroton abriu capital em julho de 2007 e em dezembro passado migrou para o chamado Novo Mercado, setor da Bovespa que reúne empresas de elevado padrão de governança corporativa. A instituição vem sendo considerada uma das “meninas dos olhos” da bolsa de valores pelo seu desempenho acionário.
A receita líquida da empresa, no terceiro trimestre de 2012 foi de R$ 385,5 milhões, 114% acima do valor arrecadado no mesmo período de 2011. O Ebitda ajustado (indicador financeiro que representa quanto uma empresa gera de recursos por suas atividades operacionais, sem contar impostos e outros efeitos financeiros) alcançou R$ 115,9 milhões com uma margem de 30,1%, representando elevação de 13,6 pontos percentuais. O lucro líquido ajustado atingiu R$ 82,1 milhões, quase quatro vezes superior ao montante do terceiro trimestre de 2011. E mais, a atuação operacional e financeira da empresa, durante o terceiro trimestre de 2012, superou R$ 1 bilhão de receita líquida, atingindo um Ebitda ajustado de R$ 315,5 milhões (margem de 30,3%) no acumulado do ano, mais de três vezes o montante verificado no mesmo período de 2011.
Na prática, essa profusão de siglas, números e períodos representa que a instituição está em pleno crescimento financeiro, consequentemente, gerando lucro para os investidores e mais recursos para investimento no produto final. “Quando a empresa tomou a decisão de entrar na bolsa, pensava em alcançar um futuro promissor por meio da parceria com o mercado de capitais”, relembra Lazar.
Passados cinco anos de participação na bolsa, é possível avaliar que a empreitada foi acertada, permitindo ao grupo educacional um grande salto, principalmente no ensino superior. “Tínhamos, em 2007, cerca de 20 mil alunos. Hoje, são mais de 400 mil”, comenta o diretor.
Com isto, a Kroton coloca-se entre as maiores organizações privadas do país com fins lucrativos. A atuação educacional vai do ensino fundamental ao superior, tanto em educação a distância quanto em presencial. Fundada em 1966, em Belo Horizonte, com a rede de cursinhos pré-vestibulares Pitágoras, a empresa passou a atender pelo atual nome em 2009 e hoje conta com o aporte financeiro do fundo Advent International, que divide o controle de administração com os fundadores do negócio. Atualmente, a rede possui 411 mil alunos de ensino superior e pós-graduação espalhados nos 53 campi de educação presencial e polos de EAD, em todas as regiões do país. Conta, também, com escolas de educação básica associadas no Brasil, no Japão e Canadá.
Todo esse crescimento apresentado pela Kroton indica que a entrada no mercado de capitais só fez bem à instituição. Os resultados positivos também são frutos da boa administração que a Kroton precisou implantar. “A governança corporativa de uma empresa melhora muito quando se tem o capital aberto”, reforça Lazar.
Caminho aberto
Pioneira nesse movimento, a Anhanguera Educacional, que passou a fazer parte da bolsa em maio de 2007, e também desde dezembro passado compõe o Novo Mercado da BM&F, foi quem abriu caminho para o crescimento do setor com o aporte de investidores da bolsa. No perío­do que antecedeu a sua entrada no mercado de capital, o grupo controlador da instituição chegou a enfrentar alguma resistência, pois se debatiam questões como a garantia do Estado à educação e o retrocesso ou limite pedagógico que poderia ser imposto ao ensino ofertado.
Com uma proposta inovadora de inclusão e atendimento às classes economicamente mais pobres, a Anhanguera conseguiu superar o revés e hoje está consolidada no mercado educacional e financeiro com atuação em todos os estados brasileiros, 71 campi, 500 polos de EAD e mais de 440 mil alunos espalhados em 45 cidades e nove estados. Cinco anos após os primeiros passos no mercado de capitais o grupo Anhanguera é, dentre as empresas educacionais, a que mais captou recursos em ofertas iniciais e secundárias de ações, totalizando mais de R$ 2 bilhões.
E o volume da movimentação financeira da empresa não deve parar por aí. De acordo com a equipe de analistas da Coinvalores, a Anhanguera deve retomar as fusões e aquisições em 2013. Para tanto o estudo da corretora financeira calcula que a base de alunos com acesso ao financiamento estudantil continuará crescendo, refletindo-se em melhora da inadimplência das mensalidades e diminuindo também a evasão, em prol do “contas a receber”.
Outra empresa educacional que atesta os benefícios da onda de capitalização por meio da bolsa de valores é a Estácio Participações. Entre as educacionais, a Estácio teve o segundo maior volume de recursos captados em ofertas iniciais e secundária de ações, um total de mais de R$ 1 bilhão desde a abertura do capital, em julho de 2007. O grupo também está entre as empresas que devem continuar crescendo em 2013 por meio de fusões e aquisições, especialmente por ter sido menos agressiva no passado recente, conforme ainda prevê o relatório da Coinvalores.
Em quiet period (período em que as empresas listadas na bolsa não podem dar declaração para não influenciar o valor das ações no mercado), a Estácio não pôde comentar as previsões, mas os resultados do terceiro trimestre de 2012, publicados no relatório de resultados destinado aos investidores da empresa, dimensionam sua atuação.
A receita operacional líquida, no terceiro trimestre de 2012, totalizou R$ 349,6 milhões, um aumento de 21,3% em relação ao mesmo período de 2011. Um dos motivos do bom resultado foi o crescimento da base de alunos – 14,8% acima do terceiro trimestre de 2011, totalizando 284,4 mil estudantes espalhados em 20 estados do Brasil, sendo 231,1 mil matriculados em cursos presenciais e 53,3 mil em EAD.
O Ebitda consolidado atingiu R$ 67,8 milhões, crescimento de 43,3% em relação ao mesmo período em 2011. O lucro líquido somou R$ 39,8 milhões, com lucro líquido por ação de R$ 0,48. Já o fluxo de caixa operacional, no período, foi positivo em R$ 67,6 milhões. Ao final do terceiro trimestre do ano passado, a Estácio contava com uma posição de caixa, depósitos bancários e aplicações financeiras de R$ 183,8 milhões.
Decisão pensada
Em 2008, o grupo Ser Educacional, detentor de uma das maiores redes de ensino do Norte e Nordeste, adiou seus planos de abrir o capital da empresa. “À época, ocorreu a crise financeira mundial. Então, decidimos aumentar nossa musculatura antes de partirmos para o mercado de ações”, comenta Jânyo Diniz, CEO do Grupo Ser Educacional e reitor da Uninassau.
A decisão não afetou a expansão do Grupo, apesar de Diniz reconhecer que se estivessem na bolsa poderiam ser ainda maiores. “Possivelmente, seríamos um pouco maiores. Na bolsa, fomenta-se um crescimento mais rápido, pois a captação de recursos é mais ágil”, avalia. Como não está com seu capital aberto, o grupo reinveste no negócio, na geração de caixa, além de procurar linhas de financiamentos.
Com dez anos de existência, que se completam este ano, a aposta do Ser Educacional demonstra bons resultados. Hoje, eles estão presentes em 16 cidades de 11 estados, no Norte e Nordeste. Mais de 65 mil alunos estudam em um dos cursos de nível superior ou básico, pós-graduação, técnico e tecnológico.
“Nosso foco é comprar instituições menores e crescermos de forma orgânica, seguindo todos os padrões regulatórios e garantindo o padrão de qualidade”, revela Diniz. Apesar desse planejamento de expansão, o CEO do Grupo não descarta a possibilidade de abrir o capital da empresa a partir de 2015. “Vamos tomar essa decisão única e exclusivamente olhando para nossa empresa. Vai depender também do momento do mercado. Mas estamos preparados para essa decisão. Temos, desde 2008, a governança corporativa implementada com bons resultados”, reforça Diniz.
Boa governança
Ter uma boa administração, aliás, é requisito prioritário para aventar a entrada na bolsa de valores, o que requer investimento e organização para comprovar a capacidade de gerir o negócio, seja ele qual for (veja quadro acima). A exigência de provar uma gestão eficiente é uma forma de garantia aos investidores que vão aplicar seu dinheiro em determinadas ações, contanto que tenham um retorno adequado dos dividendos, que são a divisão do lucro da empresa entre seus acionistas, descontados imposto de renda e contribuição social.
Em menos de seis anos no mercado de capitais, as instituições de ensino superior que aderiram ao movimento provaram a eficiência dessa linha de financiamento. Esta é, inclusive, a motivação mais comum para abrir o capital da empresa: ter acesso a recursos para financiar projetos e investimentos. Na prática, isso acaba fazendo com que as empresas listadas na bolsa tenham vantagens administrativas em relação àquelas que não estão.

Captação 
As empresas de capital aberto utilizam-se da bolsa de valores para captar recursos dos investidores com o objetivo de financiar seus projetos de investimento e se tornarem mais competitivas. Nos cinco anos de atuação na BM&F Bovespa, as instituições listadas captaram um total de: R$ 4.484.865.356, com ofertas públicas. Respectivamente:
• Anhaguera Educacional:
R$ 2.106.800.000 (4 ofertas)
• Estácio Participações:
R$ 1.132.527.716 (2 ofertas)
• Kroton Educacional:
R$ 874.403.600 (2 ofertas)
• Abril Educacional:
R$ 371.134.040 (1 oferta)

 

Como abrir o capital na bolsa de valores
 O primeiro procedimento é protocolar um pedido de registro de companhia na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o órgão regulador e fiscalizador do mercado de capitais brasileiro. Simultaneamente a esse pedido, a empresa pode solicitar a listagem na BM&F Bovespa. Somente as empresas que obtêm esse registro podem ter suas ações e debêntures negociadas.Passo a Passo
• Contratação de auditoria externa independente;
• Contratação de intermediário financeiro para coordenar o processo;
• Contratação de escritório de advocacia para adaptação de estatutos e outros documentos legais;
• Convocação de Assembleia Geral Extraordinária (AGE), publicação da Ata da AGE e do Aviso ao Mercado;
• Obtenção de registro de companhia aberta na CVM para negociação dos valores mobiliários de sua emissão em bolsa de valores ou em mercado de balcão organizado;
• Obtenção de registro da companhia em bolsa de valores ou em mercado de balcão organizado;
• Obtenção do registro de emissão pública de ações na CVM;
• Elaboração do prospecto de emissão;
• Apresentações aos potenciais investidores, o chamado Road Show;
• Recebimento de pedidos de reserva de ações pelos investidores;
• Publicação de anúncio de início de distribuição, que formaliza a efetiva colocação de ações junto aos investidores;
• Colocação dos títulos junto aos investidores e posterior liquidação financeira;
• Publicação de anúncio de encerramento de distribuição.

 

Nível de governança das instituições
Governança corporativa é o sistema pelo qual as sociedades são dirigidas e monitoradas, envolvendo acionistas, cotistas, conselho de administração, diretoria, auditoria independente e conselho fiscal. Em 2000, a BM&F Bovespa criou o Novo Mercado e os Níveis 1 e 2 de governança corporativa, com o objetivo de reforçar os mecanismos de proteção aos acionistas minoritários e valorizar os papéis das empresas. As instituições de ensino estão listadas na bolsa nos seguintes níveis:
• Anhaguera Educacional: Novo Mercado, desde 6 de dezembro de 2010;
• Estácio Participações: Novo Mercado, desde 11 de julho de 2008;
• Kroton Educacional S.A: Novo Mercado, desde 5 de dezembro de 2012;
• Abril Educacional: Nível 2.

 

Autor

Redação Ensino Superior


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