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Jovens de diferentes regiões do país apresentam essa semana seus projetos na maior feira internacional de ciências

Publicado em 15/05/2012

por Deborah Ouchana

Divulgação
Finalistas brasileiros na Intel ISEF 2012

Na última semana, o movimento no escritório da Intel, em São Paulo, estava diferente do habitual.  Era impossível não notar a agitação que tomava conta de uma grande sala logo na entrada da empresa; lá estavam 30 estudantes de escolas públicas e particulares de diferentes regiões do Brasil conversando, em inglês, com funcionários da Intel que circulavam entre os jovens.  O motivo para isso não era a visita de alguém de outro país ou algo do gênero, mas sim a chegada de um evento esperado há meses por esses alunos: a Intel International Science and Engineering Fair (Intel ISEF), a maior feira pré-universitária de ciências, que acontece entre os dias 13 e 19 de maio, em Pittsburgh, nos Estados Unidos.

O Brasil é um dos 65 países que envia seus alunos para participar da feira. Esse ano, 18 projetos finalistas das duas principais feiras nacionais, a Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace) e a Mostra de Ciência e Tecnologia (Mostratec), representarão o país na competição.  Além do grupo patrocinado pela Intel, a Escola Americana de Campinas também selecionou três trabalhos de seus alunos para participar do evento, que funciona como uma vitrine para empresas e universidades a procura de novos talentos. Na edição de 2011, a delegação brasileira teve o maior número de premiados de toda a América Latina, com 11 projetos vencedores.

Apesar dos bons resultados dos últimos anos, o gerente de educação da Intel, Rubem Saldanha, afirma que não cria expectativas em relação aos prêmios. “Nós costumamos falar para os jovens que ir com o objetivo de ganhar acaba nos deixando cegos. Se vamos com a expectativa de dar o nosso melhor, o prêmio é conseqüência”, ressalta. No entanto, a confiança é grande devido ao crescimento das feiras de ciências no Brasil que incentivam os jovens a pensar em projetos cada vez melhores. Rubem lembra que há três anos o edital do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) reserva uma verba para o fomento das feiras de ciências. Ano passado foram promovidas 45 feiras municipais, 21 de caráter estadual ou regional e quatro nacionais.

Ganhar pode até ser conseqüência entre as diversas experiências que esses jovens adquirem durante a semana da Intel ISEF, mas nem por isso eles deixam de treinar para fazer uma apresentação de qualidade aos avaliadores americanos. “A maior pressão é em relação ao inglês. Por mais que você saiba tudo sobre o seu projeto, em algum momento pode ser que você não consiga explicar, porque é em outro idioma”, conta Antonia Araújo, estudante de Bela Cruz, no Ceará, que pesquisou, junto com a amiga Magarete Oliveira, o uso de fibras naturais, como a da bananeira, na produção do papel. Para superar esse obstáculo, os estudantes participam de um workshop, onde funcionários da Intel treinam com eles a apresentação em inglês, dão dicas e corrigem a postura.

Em seu terceiro ano de feira, Leonardo Bodo destaca que essa é uma oportunidade única para conhecer pessoas de outros países e fazer contatos. Aos 14 anos, quando decidiu que seguiria carreira na área de biológicas, o estudante iniciou uma pesquisa com o objetivo de encontrar em teias de aranhas novas drogas capazes de tratar doenças causadas por viroses ou cânceres. Em 2010, ele ganhou o terceiro lugar na categoria bioquímica, o que, em sua opinião, foi uma grande vantagem na hora de tentar uma vaga em alguma universidade americana. Leonardo foi aceito em quatro universidades, mas por questões financeiras teve de permanecer no Brasil. Agora, resta a esperança de conseguir como prêmio uma bolsa de estudos nos Estados Unidos.

Para Roseli de Deus Lopes, coordenadora da Feira Brasileira de Ciências e Engenharias (Febrace), é importante os alunos terem em mente que a feira não é um fim, mas sim o começo de uma trajetória. Ela lembra a história de um aluno de escola pública que teve um ótimo desempenho durante toda a feira. “Na última cerimônia de apresentação, ele entrou em pânico. Não parava de chorar e dizia que não conseguia mais se comunicar”, conta. Conversando com o estudante, a coordenadora descobriu que ele tinha a sensação de que seu sonho tinha acabado, já que aquele era o último dia do evento e ele voltaria para sua realidade no Brasil. Por isso, Roseli destaca a importância de ouvir e orientar os professores que acompanham seus alunos na viagem e afirma que faz uma espécie de formação continuada com os docentes.

Amadurecer o talento
A Universidade de São Paulo (USP) está desenvolvendo um programa para essa fase pós identificação de talentos. Já foi realizada em pequena escala uma parceria com o Instituto Votorantim, na qual a coordenação da Febrace indicou duas estudantes para um programa do instituto chamado Geração de Atitude. Um dos eixos do programa se destina a jovens empreendedores e duas participantes da feira haviam feito um protótipo que poderia facilmente virar um produto. Além de concluírem o ensino superior, as estudantes conseguiram montar sua própria empresa com o incentivo técnico e financeiro da instituição. O objetivo da universidade agora é ampliar essa rede de parceiros, mas Roseli considera que mais importante do que a conquista individual de cada um é a oportunidade de difundir a pesquisa científica nas escolas por meio do exemplo desses alunos.

Foi com esse objetivo que os ex-finalistas da Intel ISEF, Ana Claudia Cassanti, Ana Clara Cassanti, Bruno Fernando Buzo, Victor Paolillo Neto, Heitor Geraldo dos Santos, Karoline Elis Lopes e William Lopes criaram a Associação Brasileira de Incentivo à Ciência (ABRIC). Em 2009, alguns deles estavam no último ano do ensino médio e não poderiam mais participar das feiras. Mesmo assim eles queriam usar de alguma forma as experiências e os contatos que acumularam nos anos anteriores. Foi aí que surgiu a ideia de criar uma associação que cobrisse alguns gaps que ainda existem em relação à iniciação científica na educação básica. Apesar do suporte que as feiras de ciências dão aos jovens e professores, o grupo percebeu que elas não dão conta de abranger todo o país, já que se concentram nas regiões sul e sudeste. A ideia central é estimular o pensamento científico nas escolas e auxiliar aqueles que querem fazer ciência, mas não sabem como. 

Desde 2010, a ABRIC dá alguns prêmios na Febrace a jovens cientistas com potencial, mas que ainda precisam desenvolver melhor seu trabalho. “Nós queríamos pelo menos reconhecer o trabalho daquelas pessoas que vieram e se esforçaram, nem que fosse para tirar o dinheiro do nosso bolso. Cada um deu R$ 50 ou R$ 100 e nós conseguimos premiar três projetos”, conta Ana Claudia Cassanti, uma das idealizadoras da associação. O que começou como uma ideia despretensiosa entre amigos está aos poucos ganhando forma. No ano passado, o grupo enviou seu projeto para o British Council e conseguiu uma verba de 1.500 libras para poder se estruturar oficialmente como uma associação.

Foi com esse dinheiro que eles puderam criar no começo do ano o Programa de Coordenadores Regionais. Podem se voluntariar jovens de 16 a 25 anos que tenham participado como finalistas da Intel ISEF e estejam dispostos a ministrar uma palestra na sua região pelo menos uma vez por semestre, em escola pública ou particular, a respeito de feiras de ciência e metodologia científica. Por enquanto a associação conta com 14 coordenadores. O responsável pela organização do programa Heitor Santos comemora o fato de, em quatro meses, eles terem conseguido alcançar pelo menos 400 pessoas. “O mais interessante é que nós estamos conseguindo atingir um número maior de jovens e professores no nordeste. Ou seja, estamos tendo uma maior receptividade justamente nas áreas que mais precisam de incentivo”, conta.

Outro eixo do projeto é a criação de um periódico específico para a publicação de artigos científicos de alunos do ensino médio, já que é ínfimo o espaço para esses trabalhos em revistas acadêmicas. Além de fazer a divulgação, os Coordenadores Regionais entram em cena como tutores dos alunos premiados com o objetivo de auxiliá-los na elaboração dos artigos e possíveis ajustes em seus projetos. A longo prazo, a ABRIC pretende dar apoio aos jovens em todas as etapas do processo: desde a elaboração da pesquisa até o momento pós-feira. Para Ana Claudia, a iniciativa nada mais é do que uma forma de retribuição. “Depois de tudo o que aprendemos nesses anos de feira, é o mínimo que podemos fazer”, diz.

Autor

Deborah Ouchana


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