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Ensino Fundamental

Novos interlocutores

Relacionamento com pais e questões pedagógicas requerem considerações diferentes por parte de administradores de escolas privadas

Publicado em 10/09/2011

por Redação revista Educação


Escola Almanaque, em São Paulo: 80% dos alunos estão com bolsas de estudo

A chegada da nova classe média às escolas particulares coloca desafios aos gestores no que se refere ao relacionamento com os pais. Trata-se, na prática, de uma via de mão dupla, na qual tanto a direção escolar assume novas formas de atrair e manter novos alunos e de relacionar-se com os pais, quanto as famílias passam a pagar por um serviço que não se dobra facilmente à tradicional relação de consumo direto, conhecida pelo “comprou, levou”.

O presidente do Sindicato de Escolas Particulares do Paraná (Sinepe/PR), Ademar Batista Pereira, tem a percepção de que a classe emergente tende a estabelecer esta relação direta com o consumo, exigindo qualidade da mesma forma que quando se compra um produto. “É preciso envolver a família no processo pedagógico, levá-la a participar da educação escolar dos filhos. Vemos muito esse comportamento de querer que a escola funcione de determinada maneira, só porque estão pagando”, afirma. Para ele, é uma situação que se torna mais clara neste grupo, mas não exclusiva. “É administrável, dá um pouco de trabalho, mas não chega a ser um grande problema.”

O que mostra que o problema não é uma novidade da classe C, estando dentro da alçada de questões administrativas com as quais os donos de escolas lidam no dia a dia.

Negociar
Para Marcelo Sinelli, consultor do Sebrae-SP, o gerenciamento da nova relação que se estabelece com os pais de alunos da nova classe média envolve uma negociação entre as partes, não apenas no sentido financeiro, para que o resultado da educação escolar seja positivo. “Cabe até fazer um ação educativa com os pais. Mas é uma aprendizado mútuo”, comenta.

Negociação é palavra bem conhecida por Andrea Maria Siqueira e Maysa Malvezzi, donas da escola Almanaque, de São Paulo. Segundo elas, 80% dos alunos estão com bolsas de estudo, com descontos na faixa de 25% do valor da mensalidade, de R$ 540. O abatimento acaba sendo concedido em função de pedidos dos pais. “Temos casos de pessoas que ficam desempregadas. Analiso documentos que comprovem renda e a situação em que se encontra. Então, ajustamos um valor”, conta Maysa.

Ela calcula que a renda familiar média de sua clientela gira em torno de R$ 4 mil. “A maioria é de pessoas que estão adquirindo seus bens agora, com financiamento de carro e apartamento. Eles têm um comprometimento de renda bastante alto, então analisamos o que cabe no orçamento, para chegar a um acordo”, explica Maysa.

Questões diferentes
O campo pedagógico também é ponto de atenção para gestores de escolas particulares que recebem a nova classe média. “Os pais são muito parceiros, temos uma relação excelente. Procuramos fazer com que saibam tudo o que acontece dentro da escola. Em questões pedagógicas, muitos são leigos, então fazemos questão de que entendam os processos”, afirma Andrea.

Em assuntos curriculares, o nível de escolaridade dos pais da nova classe média pode resultar em dificuldades. “As dúvidas podem ser um pouco diferentes, sobre como ensinar alguns conteúdos e ajudar nas lições”, comenta a diretora Gislaine, da Escola Gislaine Rosati. Em 2011, ela teve um aumento no número de alunos que considerou acima do normal, muitos deles vindos da escola pública.

Nos casos em que os pais se mostram muito inseguros, ela dá a orientação de deixar por conta da professora. Entre os novos alunos vindos de escolas públicas, Gislaine identificou casos de aprendizagem defasada. “Algumas mães se empenharam e conseguiram reforçar os estudos da criança. Como algumas trabalham ou não podem prestar essa assistência por falta de preparo, a escola entra com aulas de reforço.”

Andrea, da Almanaque, assume que o relacionamento com os pais não deve depender da classe social que ocupam. “É o profissional que direciona.” Como já teve experiências em escolas de classe alta, acredita que o nível de exigência está presente em ambos os casos. “A classe média pode ser até mais exigente, porque luta para manter o filho na escola”, diz.

A questão cultural pode ter influência. “Por exemplo, a mãe não quer saber se a criança visitou a biblioteca, mas sim se tomou o lanche”, comenta Andrea.  Mas ela sente um acesso mais rápido e fácil às famílias deste grupo. “Se você chama para falar que a criança tem algum problema, que precisa de fonoaudiólogo, a resposta é rápida. Ou não vai porque não tem dinheiro, ou já sai da escola ligando para marcar a consulta com o profissional.”

Questão de valor
O valor que a educação passa a ter para os pais da classe C compõe os critérios não só de escolha da escola, como da relação que os pais estabelecem com a instituição. “Ao mesmo tempo que os pais de classe C têm grandes expectativas quanto à educação dos filhos, existe um pouco do pensamento ‘estou pagando’, ‘quero resultados'”, afirma o consultor Maurício Berbel, da Alabama.

Segundo ele, esse tipo de argumento acaba complicando a relação entre as famílias e os administradores das escolas. “Lidar com esse público requer jogo de cintura por parte da escola”, aponta, no qual é importante compreender as demandas dos pais em função de sua dinâmica familiar e ao mesmo tempo intervir, não ceder a todas as exigências a ponto de descaracterizar o negócio, de acordo com o consultor.

O que a escola deve ter em vista
negociar normas de funcionamento da escola em relação à dinâmica familiar
envolvimento dos pais no processo pedagógico
negociação financeira e de aspectos comportamentais
comunicação dos procedimentos e rotina escolar
Os critérios dos pais na escolha da escola
custo-benefício
conveniência (localização, horários, integração à dinâmica familiar)
apresentação do projeto pedagógico convincente – qualidade de ensino
infraestrutura física
segurança física das crianças

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Autor

Redação revista Educação


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