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Educação Infantil

Quais crianças os quadrinhos representam?

Imaginativas, ingênuas, mas também sábias são alguns dos estereótipos encontrados na linguagem dos quadrinhos sobre representação infantil

Publicado em 02/04/2024

por Revista Educação Infantil

quadrinhos A ‘anormalidade’ usada nos quadrinhos infantis, ressalta que a criança pode também, no campo humorístico, dizer coisas que ao adulto seriam proibidas (Foto: Shutterstock)

Cascão, Mafalda, Calvin, Charlie Brown e sua turma. Personagens infantis dos quadrinhos que perpassaram a infância e se mantêm vivos no imaginário adulto de diversas gerações. Mas, que crianças eles representam? Qual concepção de infância simbolizam? A análise do funcionamento dos estereótipos de criança no discurso humorístico é o objeto de estudo de Márcio Antônio Gatti em sua tese de doutorado, defendida na Universidade Estadual de Campinas.

Em boa parte dos textos, a criança é representada pela imagem de ‘incompletude’, revela o estudo. Isso se dá porque, na construção de estereótipos, a criança é normalmente vista com relação ao adulto. No campo humorístico, ser criança é basicamente estar ‘fora do normal’. “Mas não do normal enquanto criança, mas diferir de um padrão normal do adulto. Constitui-se, assim, como o Outro do adulto, ou, numa ordem inversa, o adulto se constitui como o Outro da criança”, escreve Márcio. 

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Campo humorístico dos quadrinhos

Por outro lado, o que é ‘esperado’ na criança — atitudes em contraposição a ‘coisas que o adulto não faz’ — também é objeto do humor. Ao serem exageradas, se tornam cômicas. Um exemplo usado pelo autor é a imaginação infantil. Analisando três tiras de Calvin e Haroldo, Márcio mostra como elas exploram basicamente dois estereótipos infantis: crianças são ‘imaginativas’ e ‘incansáveis’. “O exagero na representação desses traços estereotípicos contribui, nas tiras, para ressaltá-los como verdades (…)”, descreve. 

Por outro lado, a ‘anormalidade’ é usada para ressaltar que a criança pode também, no campo humorístico, dizer coisas que ao adulto seriam proibidas. “Mesmo que à criança propriamente dita, isto é, à criança verdadeira, não possamos atribuir este papel, dada a sua conhecida imaturidade”, destaca o autor, lembrando que “não estamos querendo defender que as crianças são assim vistas pela ciência. 

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Uma coisa é o modo como a ciência vê os sujeitos e as crianças, outra é o modo como a sociedade os vê, como os discursos os representam. É aqui que podemos defender a ideia e a hipótese geral da ‘incompletude’.

Questões de gênero também ficaram claras no trabalho. Quando se analisam as diferenças entre os estereótipos de meninos e meninas, há uma relação intrínseca com o processo civilizador. Para os meninos, um traço estereotipado é bastante relevante: a incorreção. 

“Mostramos como várias imagens de criança são fruto de nossa própria ‘evolução’ civilizatória. Assim, tanto no caso da diferenciação da representação de meninos e meninas, como também traços como a falta de higiene são tipicamente oriundos do processo civilizador”, escreve Márcio. 

O autor ressalta, entretanto, que a visão estereotipada não é, necessariamente, uma visão negativa ou preconceituosa.

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