Por Meire Nocito*, diretora do Colégio Visconde de Porto Seguro | Educar, em nosso tempo, é um ato de humanidade. Diante das constantes mudanças vivenciadas na contemporaneidade, intensificadas pelo impacto das redes sociais no cotidiano das relações e das questões de saúde mental pós-pandemia, a escola é convidada a redefinir seu papel. Hoje, não basta apenas transmitir conhecimento; é imperativo acolher, escutar e, acima de tudo, cuidar.

Acredito que a educação socioemocional é um dos importantes pilares que sustenta o projeto pedagógico de uma escola comprometida com a formação integral das novas gerações. A implementação de uma cultura institucional pautada no cuidado, na promoção do bem-estar e no fortalecimento de uma rede de apoio à infância e adolescência predispõe o engajamento de todos os atores da comunidade escolar: educadores, pais e alunos. 

Criar espaços representativos de diálogo, de escuta ativa e participação coletiva nos revelou que a fortaleza desse processo está na integração da comunidade escolar.

Foi essa a reflexão central trazida no painel Cultura institucional pautada no cuidado e gestão de dados: a importância do diálogo e de olhar para cada aluno, durante o evento presencial Em tempos turbulentos, como manter a escola firme, realizado em São Paulo, em outubro, pela revista Educação [Meire participou do painel].

Iniciativas

Em busca da consolidação dessa cultura institucional, no Porto Seguro investimos nos últimos oito anos na criação de espaços de diálogo, escuta ativa e de interação com alunos e famílias, representados por comitês de pais, de alunos e fórum de professores.

Outro projeto criado em 2019, motivado pela preocupação do uso excessivo de celulares nos intervalos, foi o Porto Disconnect, que surgiu como uma proposta de ‘detox’ digital às sextas-feiras, tendo como propósito devolver ao estudante o prazer da convivência e o valor do tempo compartilhado no ambiente escolar.

Com o amadurecimento da iniciativa, em 2024, o projeto evoluiu para um formato centrado no protagonismo estudantil. Os próprios alunos tornaram-se coautores do processo, participando ativamente das propostas de entretenimento e das decisões sobre as atividades recreativas nos intervalos. 

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Não houve a proibição do uso dos celulares, mas a construção de um processo educativo com os alunos em relação ao autocuidado e aos benefícios de estar offline. O resultado é nítido: promovemos um ambiente dinâmico e descontraído, onde o sentimento de pertencimento e de responsabilidade coletiva foram compartilhados.

Os efeitos dessa mudança são mensuráveis: uma pesquisa realizada em setembro de 2024 revelou que 72,5% dos alunos permaneciam offline nos intervalos. Este dado confirma o poder transformador do engajamento genuíno, conquistado quando o diálogo e o protagonismo se tornam uma prática cotidiana.

O colégio também implementou políticas institucionais em prol do fortalecimento da rede de apoio aos nossos alunos, pois entendemos que o cuidado é um compromisso que se estende a todos os colaboradores. Elas são a garantia de ambientes seguros, justos e inclusivos para o pleno desenvolvimento dos estudantes. Destacamos, entre outras: a Política Antirracista, a Política de Educação Inclusiva, a Política Antibullying e a Política de Restrição do Uso do Celular no Ambiente Escolar.

Academia da Família

Além dessas diretrizes, reforçamos a parceria essencial com as famílias, pois educar é um ato coletivo. E assim, surgiu no início desse ano letivo, a Academia da Família, para cuidar de quem cuida, dando suporte às frequentes dúvidas e preocupações trazidas pelos pais de como educar os filhos na atualidade, tendo como os maiores desafios o uso excessivo de telas, a promoção da saúde mental no ambiente familiar e a qualidade da comunicação entre pais e filhos.

A Academia da Família promove encontros dialógicos, workshops e palestras com especialistas, no intuito de dar subsídios para que os responsáveis compreendam as etapas de desenvolvimento da infância e adolescência e reflitam sobre as diversas possibilidades de interação e condução familiar no processo educativo dos filhos.

Educação socioemocional

Paralelamente, o Canal Socioemocional, também criado em 2025, apoia nossos educadores, oferecendo formações e conteúdos específicos sobre temáticas socioemocionais, promoção de bem-estar e gestão de sala de aula.

Essas diversas ações foram pensadas estrategicamente, culminando na consolidação de um Programa de Educação Socioemocional que pretende cuidar para educar e educar para cuidar.

O importante é termos a convicção de que a aprendizagem socioemocional ocorre no cotidiano das relações e que as habilidades para a vida em comunidade são aprendidas por meio do compromisso coletivo, tendo como alicerce a coerência e a constância nas ações educativas. 

Precisamos unir esforços para manter a escola firme em tempos turbulentos; e, quando a comunidade escolar se sente ouvida, o pertencimento floresce. Quando o professor é acolhido, o ensino ganha potência. Quando o cuidado se transforma em cultura, o aprendizado acontece de forma plena. É no cuidado, no diálogo, no respeito e na escuta ativa que a educação encontra seu propósito mais profundo: o de transformar vidas e humanizar as relações. 

*Meire Nocito é psicóloga, pedagoga, mestre em Psicologia da Educação e diretora institucional educacional do Colégio Visconde de Porto Seguro

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