NOTÍCIA

Gestão

Autor

Redação revista Educação

Publicado em 19/11/2025

Educação, sustentabilidade e antirracismo

Que lugar a educação e o antirracismo ocupam nas agendas nacionais e internacionais para um mundo mais sustentável?, questiona ex-ministra da Igualdade Racial

Por Nilma Lino Gomes* | É simbólico para o Brasil que a COP 30, em Belém (PA), ocorra em pleno mês da Consciência Negra. Um simbolismo que nos convida a refletir sobre a interseccionalidade entre educação, antirracismo e sustentabilidade. Essas não são agendas meramente paralelas. São dimensões que se entrelaçam quando pensamos em um desenvolvimento justo, inclusivo e transformador para um país historicamente marcado pela exclusão social e racial que também se faz presente na pauta ambiental e suas consequências.

Sem uma educação efetivamente democrática, de qualidade e antirracista, jamais construiremos o país sustentável e plural que desejamos. É pela educação que começa o merecido reconhecimento de povos quilombolas, indígenas e periféricos como os protagonistas de nossa construção enquanto sociedade e detentores de saberes que também produzem conhecimento transformador, cultura e soluções para os desafios ambientais e sociais do nosso tempo.

-=-=-=-=-=-=–=-=-=-=

Leia também

Nilma Lino Gomes: descolonizar o conhecimento para incluir saberes indígenas e negros

Mudanças climáticas: agir na comunidade, entrando pela escola

-=-=-=-=-=-=–=-=-=-=

É incorreto vincular a sustentabilidade exclusivamente à preservação ambiental. Na verdade, ela nos convida a compreender a teia complexa que envolve seres humanos e não humanos, natureza e cultura, território e memória.

Tornar nosso mundo sustentável para nós e para as futuras gerações é construir ações práticas e efetivas para promover a equidade, o bem-estar e a qualidade de vida para todas as pessoas, especialmente para os grupos mais vulnerabilizados.

Falar em sustentabilidade sem falar em justiça racial é reproduzir antigas desigualdades sob novas roupagens. A transição ecológica precisa ser também uma transição ética, capaz de enfrentar o racismo ambiental que atinge povos e comunidades tradicionais, frequentemente expostos à exploração econômica e à degradação de seus territórios.

Face às desigualdades que permeiam a nossa história, é o antirracismo o elo que articula educação e sustentabilidade. Ele nos mostra que não há sociedade desenvolvida sem transformação das relações sociais e raciais desiguais. Combater o racismo é condição para qualquer ideia de justiça climática, pois esse fenômeno perverso é destrutivo para a humanidade e reduz possibilidades de futuro.

educação e antirracismo

“Falar em sustentabilidade sem falar em justiça racial é reproduzir antigas desigualdades sob novas roupagens” (foto: Shutterstock)

=-=-=-=-=-=–=-=-=-=

Leia também

Coluna Cristine Takuá: Tempo, mestre do saber

Ensinar é participar do processo de neuroplasticidade do outro, afirma Adriana Fóz

=-=-=-=-=-=–=-=-=-=

É fundamental fomentarmos a consciência crítica sobre quem mais sofre com os impactos da crise climática. Precisamos de mais escolas, universidades e fóruns sociais diversos como espaços de escuta e valorização das experiências das comunidades tradicionais, dos jovens negros e das mulheres negras que cuidam da terra e da vida em contextos de vulnerabilidade.

É na sala de aula, na formação docente e nas práticas pedagógicas que podemos romper com a lógica de invisibilização e negação da diversidade e ajudar a construir um novo pacto civilizatório, em que o conhecimento crítico contribua para formar subjetividades comprometidas com equidade, proteção e transformação.

Tarefa coletiva

Às voltas com a COP 30 e de todas as discussões sobre emergência climática, cabe perguntar: que lugar a educação e o antirracismo ocupam nas agendas nacionais e internacionais para um mundo mais sustentável?

Quando falamos de sustentabilidade, consideramos os saberes dos povos quilombolas e demais comunidades tradicionais? Reconhecemos que enfrentar o racismo ambiental é fundamental para alcançar a justiça climática?

Responder a essas perguntas é tarefa coletiva. Uma educação antirracista e sustentável é aquela que acolhe a diversidade, promove solidariedade e forma sujeitos críticos, conscientes de que a luta contra o racismo é também uma luta pela vida no planeta.

Que a COP em Belém seja um marco para afirmar essa agenda necessária, urgente e profundamente humana.

*Nilma Lino Gomes é ex-ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial e consultora de Políticas Antirracistas da Fundação Santillana

——

Revista Educação: referência há 30 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica

——

Escute nosso podcast


Leia Gestão

Earth,Day,Diversity,And,Cultural,Celebration,As,Diverse,Global,Cultures

Educação, sustentabilidade e antirracismo

+ Mais Informações

Escola que se abre para o entorno tanto aprende quanto ensina

+ Mais Informações

Temos algo a aprender com a experiência de formação de diretores...

+ Mais Informações

Bett Brasil 2026 convida à reflexão sobre o diálogo entre...

+ Mais Informações

Mapa do Site