Diretor da EMEF Profa. Maria Aparecida Rodrigues Cintra, SP, mestre em educação. Professor do 'Uma jornada pela diáspora africana' (prêmio Educação em Direitos Humanos, SMDHC - SP) e professor de pedagogia do Instituto Vera Cruz.
Publicado em 04/06/2025
Política pública para eliminar a falta e tornar a escola território vivo de descoberta
A escola tece as tramas para que os sonhos se tornem reais, mas são as políticas públicas que garantem as condições para ampliar esses horizontes. A educação transformadora nasce dessa aliança entre o cotidiano escolar e as estruturas do Estado. De acordo com o último censo escolar 2024, ao ingressarem numa escola pública ou privada, nossos estudantes encontraram a seguinte realidade: 52,3% têm acessibilidade, 42,9% quadras de esportes, 11,3% laboratório de ciências, 54,5% sala de leitura/biblioteca, 5,1% sala de artes, 29,5% laboratório de informática e 88,9% acesso à internet.
Esses números revelam um paradoxo no Brasil — se só sonhamos com o que nos aparece como possibilidade, a gestão democrática e a relevância da escola não são suficientes.
Como falar em equidade quando faltam espaços que proporcionem contato com novas ideias, culturas, formas de pensar e agir? Como despertar paixões científicas sem experimentação? Como fruir das artes com aulas reduzidas e pouquíssimos espaços? Ou como apreender as linguagens corporais se não pelas vivências na escola? É preciso transformar esses espaços em territórios vivos de descoberta.
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Você só sonha com aquilo que aparece como possibilidade
Brincar, sonhar e contar histórias com Mia Couto, Jeferson Tenório e Joaquim Falcão
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Dirigindo-me ao trabalho e refletindo sobre os dados, ouvia o grupo O Rappa e um trecho que dizia: “O nascimento de uma alma é coisa demorada, não é partido ou jazz em que se improvise. Não é casa moldada, laje que suba fácil.” Os sonhos dependem de repertório, e a escola, quando equipada, pode ser o lugar de encontros improváveis. Um laboratório que cheire a reagentes. Uma sala de leitura que dê acesso a bibliodiversidade e quadras que vibrem aos sons de danças, jogos de basquete, skate, capoeira, entre outros.
Ainda no mesmo trecho da música, “a natureza da gente não tem disse me disse”: não há atalhos para se construir repertórios, afinal, uma escola democrática só se concretiza quando as políticas educacionais garantem não apenas o acesso, mas a densidade das experiências que alimentam os sonhos. Sonhar, no fim, é um verbo que se conjuga no plural e exige salas de aula que sejam, elas mesmas, terrenos férteis para o impossível virar semente, pois nas tramas da educação alguns fios se rompem, outros se amarram em nós difíceis, mas o avesso do pano também tem beleza.
Apenas 11,3% das escolas têm laboratório de ciências, revela o censo escolar 2024 (Foto: Shutterstock)
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