NOTÍCIA
Como representante de uma categoria majoritariamente feminina, o Sindicato dos Professores de São Paulo reafirma seu compromisso no enfrentamento da violência contra as mulheres — fenômeno que se manifesta em todos os aspectos da vida, inclusive dentro das escolas e lares
Por Sandra Caballero* | Ninguém nega que o Brasil é um país machista e as raízes estão na nossa história colonial. A maioria dos colonos portugueses que aqui chegaram era do sexo masculino. Com poucas mulheres brancas à disposição, se relacionavam com indígenas e africanas que, na condição de escravizadas, não tinham escolha nem autonomia sobre os próprios corpos. Sendo assim, a miscigenação brasileira é fruto da violência sexual.
No século 19, com a chegada de imigrantes que trouxeram consigo as ideias anarquista e socialistas, surgem os primeiros grupos de defesa dos direitos das brasileiras. Assim, as operárias passam a introduzir suas pautas de reivindicações no bojo da organização da luta operária. Mas o machismo está presente, também, na classe trabalhadora — vários operários concordavam com o fato de mulheres receberem salários menores que os homens.
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No início do século 20, há uma divisão do movimento feminista: uma corrente mais conservadora, formada por mulheres das camadas médias que buscavam direitos políticos sem questionar a sociedade capitalista e, de outro lado, um feminismo mais radical que buscava inspiração nas ideias revolucionárias de esquerda e de crítica ao sistema.
Os diferentes feminismos são perceptíveis ainda hoje, com as denominações de liberal, identitário ou revolucionário. Essa situação provoca algumas incoerências, como a de mulheres elitizadas que reivindicam igualdade de direitos, mas exploram a mão de obra de empregadas domésticas ou de trabalhadores em suas empresas.
Traçando um pequeno histórico das conquistas das mulheres brasileiras, em 1827 meninas ganham a permissão de frequentar escolas; em 1879, mulheres passam a frequentar universidades; em 1920 nasce o primeiro partido de mulheres, o Partido Republicano Feminino, que representava o movimento sufragista que se espalhava pelo mundo. O direito ao voto, em todo o Brasil, viria apenas em 1932.
Em 1827 meninas ganham a permissão de frequentar escolas (foto: Shutterstock)
Mais recentemente, em 1962, foi criado o Estatuto da Mulher Casada, que deu às mulheres o direito à herança e a pleitear a guarda dos filhos em caso de separação. Além disso, não era mais necessária a autorização masculina para a mulher obter um emprego. Em 1974, a mulher ganha o direito de portar um cartão de crédito. Finalmente, a Constituição de 1988 passa a reconhecer a igualdade de direitos entre homens e mulheres — mas sabemos que entre o que diz a lei e a realidade ainda há um abismo.
Entre tantas outras questões, talvez a mais urgente seja, de fato, o enfrentamento à violência contra a mulher no Brasil — uma epidemia que precisa ser revertida com a ajuda de todas, de todos.
Pesquisas recentes apontam que uma a cada três mulheres brasileiras (33,4%), com mais de 16 anos, já sofreu violência física e/ou sexual de parceiros ou ex-parceiros. Este índice supera a média global, que é de 27%. E, o pior, o Brasil é o quinto país do mundo em feminicídio, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
A maioria da categoria docente brasileira é formada por mulheres de todas as cores, classes e amores. Nossa participação nos diferentes segmentos da educação acontece da seguinte maneira: 94,4% no ensino infantil, 78,09% no ensino fundamental, 57,77% no ensino médio e 48,16% no ensino superior.
Como representante de uma categoria majoritariamente feminina e atento a este fenômeno da violência contra as mulheres que se manifesta em todos os aspectos da vida, inclusive dentro das escolas e dos próprios lares, o SinproSP disponibiliza para toda a sociedade a cartilha Violência contra a mulher – conhecer para combater.
Trata-se de material que contém muita informação, dicas sobre como identificar um relacionamento abusivo e como ajudar uma vítima, além de contatos de órgãos públicos e organizações não governamentais que podem auxiliar toda a sociedade no combate à violência contra a mulher.
– Artigo O 8 de março e a luta das mulheres brasileiras, de Sandra Caballero, de 6 de março de 2024. Disponível em: https://www.sinprosp.org.br/noticias/5303
– Cartilha Violência contra a mulher: conhecer para combater ( SinproSP, 2023). Disponível em: https://www.sinprosp.org.br/upl/arq/cartilha%20violencia%20contra%20mulher_SINPROSP.pdf
*Por Sandra Caballero, professora de história e sociologia e diretora do SinproSP