Professora de São Paulo, outra do Distrito Federal e um de Manaus compartilham o seu dia a dia visando o combate a violência escolar
Publicado em 19/09/2023
O bullying, discursos de ódio provocados e ampliados por meio das redes sociais, além de ataques voltados aos ambientes escolares, são atos de violência que estão a cada momento se tornando um desafio maior na educação. Como as escolas podem lidar com essas situações e as maneiras de se tornar o ambiente escolar acolhedor foram pontos discutidos durante o painel Para além dos ataques: como professores lidam com tensões frequentes e violência na escola, durante evento da Jeduca, que ocorreu ontem, 18, na Fecap, em São Paulo.
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Cinthia Barbosa, professora de educação física responsável por imobilizar e conter o estudante que atacou a Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro Vila Sônia, SP, em março deste ano, participou do painel e compartilhou como foi vivenciar esse momento e a necessidade das escolas e sociedade falarem sobre o assunto.
“A questão do bullying, das brincadeiras de mau gosto que acontecem dentro da escola; como professora, tento fazer toda a intermediação porque tenho suporte para isso e uso o esporte como uma ferramenta. Mas não são todas as crianças e adolescentes que se identificam com o esporte, por isso, é preciso falar e destacar que as famílias, os professores, psicólogos devem estar presentes. Eu acredito que com todo um suporte para auxiliar a educação a gente vai conseguir minimizar esse cenário”, apontou.
Segundo a professora, o esporte não precisa necessariamente ser pensado para a escola, uma vez que ao realizar uma atividade de dança ou natação, o estudante consegue um caminho para trabalhar e lidar com suas emoções. Tal prática, inclusive, pode ser direcionada aos educadores, que assim como os estudantes devem saber lidar com as situações e pressões que surgem no ambiente escolar.
Quem também ressaltou esse ponto foi Celiana Moroso, que está há 22 anos na rede pública do Distrito Federal, professora de uma escola em Ceilândia, região periférica. Assim como Cinthia viu no esporte uma oportunidade, Celiana vê que o ser humano precisa ter válvulas de escape, um espaço em que se sinta livre para falar de suas emoções, e destacou a importância de conhecer o perfil da comunidade escolar para a criação desses espaços.
“Uma escola rica em projetos que incentivem o talento de cada um é uma escola que precisa ser vista com carinho. Se tenho alunos que gostam de esporte, tem que ter esporte na escola. Se há estudantes que gostam de escrever poesia, tem que ter poesia na escola. Escute o que o estudante gosta e o que aquela comunidade está precisando para que a gente consiga articular”, apontou.
Celiana ainda compartilhou a experiência que teve com uma estudante que encontrou na poesia o momento de escrever suas dores. “Perguntei o que a incentivou a escrever poesias. Ela respondeu: ‘Meus pensamentos. Eu tô numa luta muito grande contra a automutilação, entre outras coisas. Então ao invés de fazer isso, eu escrevo’”, contou.
Ambiente escolar acolhedor
Erison Lima, professor da rede estadual de Manaus e de uma escola localizada no bairro periférico Cidade de Deus, participou do painel juntamente com Cinthia Barbosa e Celiana Moroso. Segundo ele, “é preciso pensar: qual é o papel da educação? Qual é o papel dos professores? Porque a gente recebe essa carga de toda essa problemática”.
Como ação para ter na escola um espaço de escuta para os estudantes, ele criou o projeto ‘Clube do silêncio’, um grupo feito para ouvir os estudantes e entender seus problemas e emoções. “A escola não deve ser o local em que a gente vai resolver todos os problemas da sociedade, ela não está ali para isso. Mas acredito que o professor, que tem o olhar para entender de onde vem o seu aluno, que sabe o seu perfil e se interessa pela sua vivência e experiências, vai tentar montar estratégias para abordar essas questões”, ressaltou.
“Acho que a escola precisa ser uma escola acolhedora. Agora mais do que nunca é uma necessidade. Tanto as escolas públicas quanto as particulares precisam ser acolhedoras”, concluiu.