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Ensino Superior

“Onda jovem”

Brasil tem o maior contingente de jovens de todos os tempos. Prioridade deles é a educação de qualidade

Publicado em 22/08/2013

por Ensino Superior

Estudo aponta que juventude brasileira atual é a maior de todos os tempos e deve seguir neste posto até 2022. Na prioridade deles está a educação de qualidade
por Patrícia Pereira
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O Brasil vive o ápice de sua juventude: o número de jovens de 15 a 29 anos, cerca de 50 milhões, nunca foi, e nunca será, tão grande quanto hoje. Esta “onda jovem” começou em 2003 e vai persistir até 2022. Depois deste período, haverá um declínio de 15 milhões na população nesta faixa etária até 2050. Os dados foram apontados na pesquisa sobre o perfil da juventude brasileira, divulgada em julho pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O estudo também mostrou que uma educação de qualidade é a prioridade número um dos jovens, o que, segundo os consultores educacionais ouvidos pela revista Ensino Superior, deve balizar as ações do setor no próximo período.
O ápice do número de jovens no Brasil, de acordo com o presidente do Ipea, Marcelo Neri, que apresentou os dados para a imprensa na sede do instituto no Rio de Janeiro, ocorreu em 2008, com 51,3 milhões de pessoas na faixa etária de 15 a 29 anos. Esses jovens podem ser divididos em três grupos: o jovem-adolescente (15 a 17 anos), com 10 milhões de pessoas, o que corresponde a 20% do total deste grupo; o jovem-jovem (18 a 24 anos), 23,1 milhões ou 45% do total; e o jovem-adulto (25 a 29 anos), totalizando 17,5 milhões ou 35% dos jovens.
Esta “onda jovem” foi ocasionada por dois picos de nascimentos: um em 1984 e outro no ano 2000. Os nascidos no primeiro pico já chegaram ao ensino superior, mas a segunda grande leva deve chegar aos bancos das faculdades em cerca de cinco anos.
Para Maurício Berbel, consultor educacional da Alabama Consultoria, deve haver um aumento na procura por vagas no ensino superior, mas ele ressalta que o fator demográfico é só um dos critérios que interferem nesta demanda. Ele explica que o crescimento econômico, com consequente aumento de renda da população, tem um impacto muito maior na elevação da taxa de ocupação dos cursos superiores. “As instituições têm uma ociosidade de vagas suficiente para acolher este aumento”, afirma Berbel.
É o que também acredita Romário Davel, consultor educacional associado Hoper. Segundo ele, 52% das vagas ofertadas pelas instituições privadas de ensino superior não são preenchidas por falta de alunos. “Não faltam jovens e sim alunos com renda para arcar com as mensalidades”, diz Davel.
De acordo com dados do Censo da Educação Superior (2012), realizado pelo Inep, as instituições têm matriculado pouco mais de 6 milhões de estudantes, menos de 15% dos jovens na faixa etária de 18 a 24 anos. “É uma faixa de atendimento muito diminuta se comparada ao número da população de interesse”, explica Ana Cristina Canettieri, especialista em Educação e diretora da Cadec e do Centro Educacional Paulo Nathanael.
Para Ana Cristina, as instituições já estão preparadas para absorver, de imediato, um número bem maior de alunos de que se tem hoje. “Há ainda outros aspectos que facilitam a absorção de mais alunos. Cursos na modalidade a distância e a diversificação dos tecnológicos, que ainda carecem de mais divulgação e valorização para o público jovem”, complementa Ana Cristina.
Se as instituições não precisam aumentar o número de vagas ofertadas, elas também não precisam temer a retração da juventude prevista para 2022. Para Davel, o país ainda tem uma longa jornada de crescimento de alunos via ampliação da taxa de escolarização. Ele explica que cerca de 86% da população em idade para cursar faculdades não tem acesso. “Mesmo que a população jovem caia, as instituições têm condições de elevar seu número de alunos caso a taxa de escolarização aumente”, diz.
Ana Cristina lembra, porém, a necessidade de melhorar o atendimento do ensino fundamental e médio. “O número de crianças e adolescentes que fica no meio do caminho é imenso, é uma cruel realidade que se arrasta há mais de duas décadas. E para reverter este quadro há que se ter ‘padrão Fifa’ não somente no ensino fundamental, mas também nos cursos de pedagogia, pois são umbilicalmente unidos”, diz a consultora.
Já Berbel vê alternativas na prospecção de alunos para cursos livres, de extensão, de pós-graduação ou para uma segunda graduação. “Pode haver menos ingressantes na faixa etária esperada, mas há outros públicos a serem explorados. As instituições não devem se empolgar demais com o pico e nem se desesperar com o vale”, diz.

Em busca de um padrão
A pesquisa divulgada pelo Ipea também investigou quais são as prioridades desta juventude. Para cada jovem foram apresentados 16 tópicos para que escolhessem seis como sendo prioritários. Uma educação de qualidade foi o item escolhido por 85,2% dos brasileiros de 15 a 29 anos. Em segundo apareceu a melhoria dos serviços de saúde (82,7%) e, em terceiro, acesso a alimentos de  qualidade (70,1%). Ricardo Paes de Barros, subsecretário de Ações Estratégicas que coordenou a pesquisa do Ipea, ressalta que a qualidade que os jovens buscam hoje no ensino não segue necessariamente os mesmos paradigmas que eram relevantes para a geração anterior. Segundo ele, é preciso descobrir como os jovens atuais agem e interagem e o que significa uma educação de qualidade para eles hoje em dia, tema que estará presente numa outra etapa do estudo realizado pelo Ipea. (Confira a análise dos consultores no site www.revistaensinosuperior.com.br)

 

Análise dos consultores
Para Maurício Berbel, consultor educacional da Alabama Consultoria, há uma dissonância entre o que o jovem procura e o que as instituições ofertam em suas graduações. “As faculdades vêm tentando responder às demandas de qualificação exigidas pelo mercado de trabalho, mas esta geração tem isto como valor secundário. O que o jovem procura tem mais a ver com a qualidade de vida dele. Ele faz turismo pensando em viajar mais, por exemplo. Ele quer viver bem, ganhando razoavelmente, e matar suas curiosidades”, diz Berbel.Segundo Berbel, as instituições terão que remodelar seus cursos para se adequar às expectativas dos estudantes. “Se antes elas olhavam para o mercado e buscavam o que ele precisava, agora precisam olhar para o jovem e para suas expectativas sobre a vida. Quando o jovem fala em qualidade, não pensa na capacidade que um certo currículo terá em empregá-lo no futuro e sim na qualidade de vida que irá proporcionar. Neste sentido, cursos mais práticos, com vivências fora do campus e que envolvam questões reais atraem os alunos.”, diz.Romário Davel, consultor educacional associado Hoper, também acredita que os atuais cursos ofertados estão obsoletos. Mas, segundo ele, as lacunas estão entre o que o meio acadêmico oferece e o que o mercado busca – e os jovens estariam interessados em uma formação voltada para o mercado de trabalho. “As engenharias, por exemplo, são muito técnicas, focadas na matemática, e as empresas buscam engenheiros com o perfil de gestor. Querem profissionais que saibam gerenciar uma equipe ou redigir um relatório”, explica.
Davel reconhece que as instituições estão entre a cruz e a espada porque, se por um lado os jovens exigem um outro currículo, o setor educacional é altamente regulado e precisa seguir as diretrizes nacionais de Educação. “É um grande impasse. Muitas instituições têm resolvido isso com a educação continuada, que preenche as lacunas que a graduação não contempla. Na extensão e na pós-graduação a instituição tem mais autonomia”, explica Davel.

 

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