NOTÍCIA
No momento em que classe C busca a rede particular, Prova ABC aponta que desempenho de escolas privadas não é uniforme no país
Publicado em 28/09/2011
Alunos do primeiro ciclo do ensino fundamental foram avaliados pelo exame |
A ascensão social da chamada nova classe média é responsável pelo incipiente movimento de migração de matrículas da rede pública para a particular. A mudança se justifica, entre outros motivos, pelo desejo de melhor qualidade de ensino por parte dessas famílias. Discutido na edição 173 de Educação, o fenômeno encontra eco em uma pesquisa recente do Data Popular que aponta: a chamada “classe C emergente” enxerga na educação o melhor meio para alcançar um bom futuro. Entretanto, a Prova ABC, avaliação instituída neste ano por uma parceria entre Todos pela Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Fundação Cesgranrio e Instituto Paulo Montenegro/Ibope, trouxe um questionamento incômodo: e se a qualidade de ensino das escolas particulares espalhadas pelo país não for tão boa quanto se pensa?
Criada com o objetivo de medir os níveis de aprendizagem em português e matemática no ciclo inicial do ensino fundamental, a Prova ABC foi aplicada no primeiro semestre em cerca de seis mil alunos que concluíram o 3º ano em escolas municipais, estaduais e particulares de todas as capitais do país. A avaliação mostra que a discrepância nas notas de escolas privadas entre regiões do país é significativa e começa já nos anos iniciais do ensino fundamental. A mesma situação foi apontada pelas edições mais recentes do Sistema de Avaliação Brasileiro (Saeb), exame aplicado de forma amostral nos 5ºs e 9ºs anos pelo Ministério da Educação.
Enquanto a média de matemática das particulares no Nordeste é de 186,92, na região Sul o valor sobe para 224,87. É importante lembrar que o Todos pela Educação definiu a pontuação de 175 na escala como esperada para os 3ºs anos. A diferença de pontos entre as regiões é da ordem de 37,95 – em outras palavras, há um atraso de mais de dois anos escolares entre elas. Isso porque, a partir da interpretação da série histórica da escala Saeb, é possível afirmar que, no ensino fundamental, cada ano escolar agrega 15 pontos por ano na escala. Em termos percentuais, se 55% dos estudantes do Sul matriculados em particulares alcançaram pontuação igual ou superior a 175, somente 32% dos nordestinos estavam no mesmo patamar.
Os resultados de leitura apontam para o mesmo quadro. O Sul obteve média 228,35, e o Nordeste, 191,08. Se 64% dos alunos apresentaram média igual ou superior a 175 no Sul, o percentual cai para 42% no Nordeste. Em coletiva de lançamento da Prova ABC, Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação, afirmou que os dados são importantes face ao contexto de migração das crianças da classe C para a rede particular. “Os números mostram que a escola particular, em si, não é melhor do que a pública. Um pai que coloca seu filho na escola privada não tem garantia de que terá uma qualidade de ensino melhor”, ressalta.
Para a professora Nilma Fontanive, coordenadora do centro de avaliação da Fundação Cesgranrio, a discrepância entre regiões se explica pelo fator socioeconômico. “Esse quadro é resultado das diferenças regionais. O PIB per capita do Nordeste revela uma região menos desenvolvida”, explica. A fala de Nilma indica que mesmo a rede particular, que supostamente conta com mais recursos para alcançar a boa qualidade de ensino, não consegue inibir totalmente o fator socioeconômico. Para a pesquisadora, o envolvimento dos pais, assim como sua própria escolaridade e interesse por bens culturais, é um dos principais fatores que explicam os bons resultados.
O que diz o ponto 175 na escala Saeb
Em leitura, os alunos, entre outras tarefas, conseguem identificar temas de uma narrativa, localizar informações explícitas, identificar características de personagens em textos como lendas, contos, fábulas, histórias em quadrinhos e perceber relações de causa e efeito contidas nestas narrativas.
Em matemática, os estudantes têm, por exemplo, domínio da adição e da subtração e conseguem resolver problemas envolvendo notas e moedas.