NOTÍCIA
A turma que prestou o exame em 2024 é a primeira formada após a covid, destaca a professora Maitê Ferreira. Outro fator pode estar na influência das tecnologias digitais
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), principal acesso às universidades públicas no Brasil, registrou na edição de 2024 o menor número de notas máximas na redação em uma década. Segundo o Ministério da Educação (MEC), apenas 12 dos quase 3,2 milhões de candidatos alcançaram a pontuação máxima.
Para Maitê Ferreira dos Santos, professora de literatura e interpretação de texto e auxiliar de coordenação do Colégio Progresso Bilíngue de Santos, SP, esse cenário é reflexo de uma combinação de fatores.
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“É preciso levar em consideração que esta é a primeira turma de ensino médio formada após a pandemia, ou seja, uma geração de alunos que finalizou a formação básica no modelo remoto. Outro aspecto é a influência da linguagem digital, a qual possibilita e permite marcas de oralidade e desvios da norma padrão, bem como de todas as ferramentas que facilitam o ato de pensar e o plano da expressão”, ressalta Maitê Ferreira.
Ela analisa que a redação é um dos mecanismos avaliativos, uma vez que avalia as capacidades de leitura, reflexão a aplicabilidade de conceitos, síntese e expressão verbal. “Outras áreas do conhecimento até possuem peso 2 ou 3 para o acesso a instituições superiores, mas a redação, por ser o único instrumento discursivo do exame, concentra e demonstra o percurso de estudos, criticidade e capacidade de expressão do aluno”, completa.
A professora de literatura alerta para novos desafios com a implementação dos itinerários formativos no ensino médio — embora ainda não sejam cobrados no Enem de 2025, já estão em vigor nas escolas —: a novidade pode impactar a prova, a depender do engajamento de instituições, alunos e professores, especialmente nas turmas do 3° ano, que estão concluindo o ciclo de formação.
Para um bom desempenho na redação do Enem, é essencial compreender o modelo da prova e desenvolver uma postura crítico-reflexiva, orienta a professora Maitê Ferreira dos Santos (Foto: Shutterstock)
“Se nada for pensado e feito, por escolas, pais ou responsáveis, inclusive, alunos, há a possibilidade deste número se manter estabilizado ou menor. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) já havia orientado corretores quanto ao uso dos famosos modelos prontos para redação, os quais não seriam validados na edição de 2025. Isso deve ser bem conversado e trabalhado com os alunos o 3° ano”, enfatiza.
Maitê orienta que, para um bom desempenho na redação, é essencial compreender o modelo da prova e desenvolver uma postura crítico-reflexiva. Ela ressalta que, embora cada banca tenha sua estrutura específica, todas exigem leitura e interpretação, requisito ainda mais determinante no Enem.
“Criar o hábito da leitura — obras literárias, jornais e revistas, textos acadêmicos —, além da resolução de exercícios e produção de resumos e mapas mentais/conceituais auxiliam na retenção de conteúdos, análise crítica e interdisciplinaridade, o que possibilita, na hora da prova, construir um projeto de texto dissertativo de modo lógico e estruturado”, aconselha.
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Leitura: não apenas verbal, mas visual e audiovisual também são essenciais para um bom conhecimento de mundo.
Manter-se atualizado: apropriar-se dos acontecimentos mais importantes no Brasil e no mundo, uma vez que os temas das questões e da redação, normalmente, abordam assuntos sociais, políticos e ambientais.
Relações interdisciplinares: saber fazer relações entre as disciplinas e áreas do conhecimento demonstra uma formação mais global do indivíduo, inclusive do seu papel social.
Momento para o estudo: incentivar o estudante a não estudar apenas as disciplinas que têm facilidade ou gosta, mas todas, afinal, vestibulares exigem tudo.
Buscar ajuda sempre que precisar: seja com grupos de estudos, entre amigos, plantões, professores, pais ou aulas online, tudo contribui para a formação do indivíduo no mundo acadêmico e para a vida.
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