NOTÍCIA

Olhar pedagógico

Autor

Juliana Fontoura

Publicado em 10/02/2025

Mulheres na ciência: a importância do incentivo na educação básica

Professoras falam sobre projetos que mostram às meninas a possibilidade de seguir nas chamadas carreiras STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática); atividades ‘mão na massa’, formação docente e debates sobre questões de gênero são caminhos

A presença das mulheres na ciência é cercada por uma série de desafios, que vão do incentivo a ingressar em áreas que costumam, de forma equivocada, ser associadas aos homens — como, por exemplo, as exatas — à permanência e progressão na carreira. 

O tema tem sido objeto de debate mais intenso nos últimos anos, e há projetos que buscam estimular meninas da educação básica a vislumbrar que cursos ligados às áreas conhecidas como STEM (ciência, tecnologia, engenharia e matemática) também são um lugar para elas.

Estimular a participação de meninas em ‘atividades mão na massa’ relacionadas a essas áreas, formar professores e discutir questões de gênero (seja com os próprios estudantes, seja com docentes) são caminhos para que, na educação básica — quando jovens farão a escolha profissional —, sejam plantadas sementes em busca da equidade.

Ações de incentivo: parceria entre universidade e escola

O projeto de extensão Meninas na Ciência, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é uma das iniciativas nesse sentido. Criado há mais de uma década, entre 2013 e 2014, oferece desde oficinas para estudantes até formação docente.

Segundo Daniela Pavani, uma das criadoras e coordenadoras do projeto, as questões de gênero são um dos tópicos trabalhados com professores e professoras, para que eles(as) percebam como a fala e a maneira de apresentar o conteúdo podem reafirmar estereótipos — por exemplo, de que existem profissões voltadas para homens e outras para mulheres. 

“A gente procura sempre disponibilizar formação para professores nas questões de gênero, para que eles façam uma reflexão sobre a ação didática deles e delas. Pensando em como podem ser agentes, na escola, da promoção da equidade”, explica Daniela, que também é pró-reitora de extensão da universidade.

Além do debate sobre gênero, há também formações voltadas a oficinas que podem ser trabalhadas com os(as) alunos(as), com atividades relacionadas a áreas como matemática, astronomia e física.

 

mulheres na ciência

Atividade no ‘Encontrão das Cientistas do Futuro’, promovido pelo projeto Meninas na Ciência, da UFRGS, em dezembro de 2024 (Foto: equipe Meninas na Ciência)

————————————————

Leia também

Como implementar a BNCC da Computação no currículo escolar

Sonya Douglass fala da luta pela equidade racial nas escolas

————————————————

Já para as estudantes, há diferentes ações. Uma delas é denominada “Gurias, partiu, UFRGS!”, que leva meninas para conhecer a universidade. São contempladas de 20 a 40 alunas de educação básica, que participam de pelo menos seis encontros ao longo do ano. Nessas ocasiões, elas conhecem os cursos e participam de atividades mão na massa — por exemplo, um experimento no Museu de Paleontologia.

“Elas interagem com professoras, pesquisadoras, pós-graduandas e estudantes dos cursos. E nós fazemos também debate sobre porque a gente tem uma baixa representatividade [nas áreas de ciências], a gente procura tratar sobre violência de gênero, para alertar quais são os caminhos de proteção”, conta a docente.

Daniela também destaca que, tão importante quanto apresentar esses cursos de ciência e tecnologia às meninas, é proporcionar uma vivência que mostre que a universidade pública e gratuita também é um lugar em que elas podem estar. Isso porque as ações do projeto são voltadas prioritariamente a alunas de escolas públicas e localizadas em regiões de vulnerabilidade. Portanto, é possível mostrar o ensino superior como um caminho.

 

mulheres na ciência

Atividade no ‘Encontrão das Cientistas do Futuro’, promovido pelo projeto Meninas na Ciência, da UFRGS, em dezembro de 2024 (Foto: equipe Meninas na Ciência)

————————————————

Leia também

Desafios e oportunidades da lei que proíbe o uso de celulares nas escolas

Charles Fadel, da OCDE: países devem apoiar docentes em um redesenho curricular que dê espaço à adaptabilidade

————————————————

Além disso, também são oferecidas ações de longa duração em escolas. Um deles, chamado ‘Gurias nas exatas: das estações meteorológicas à iniciação científica’ foi realizado por dois anos em duas escolas municipais e duas estaduais do Rio Grande do Sul, com recursos do CNPq, do British Council e da Fundação Carlos Chagas.

“A partir de uma demanda dessas escolas, nós fizemos uma formação para professores e para estudantes para a construção de estações meteorológicas, com a ideia dessas estações serem um foco de formação de clubes de ciência, com as meninas sendo a liderança. As nossas atividades priorizam a presença de meninas, mas não são somente para meninas. A gente quer colocá-las como líderes”, explica a coordenadora. 

Segundo Daniela, 10 escolas já colaboraram ou ainda colaboram com o projeto nessa modalidade mais longa. Já em atividades abertas, mais de 50 já participaram. Ao todo, foram cerca de 3.000 professores atendidos e 10.000 meninas impactadas.

 

mulheres na ciência

Daniela Pavani é professora do Departamento de Astronomia do Instituto de Física da UFRGS, pró-reitora de extensão e coordenadora do projeto Meninas na Ciência (Foto: arquivo pessoal)

Ações de impacto

Outra iniciativa de estímulo à participação feminina nas áreas STEM foi desenvolvida pela educadora Eveliyn Tiemi Takamori quando atuava como professora de física e matemática na Escola Estadual Vitor Meireles, em Campinas, SP. A ação foi realizada em parceria com o professor André Luís Malavazzi, responsável pelas aulas de arte na instituição.

Desde 2017, a instituição, que faz parte do programa de ensino integral, já contava com um projeto de pré-iniciação científica em sua matriz curricular. Em 2022, com recursos da Fundação Carlos Chagas (FCC), do British Council e do CNPq (via edital 2ª Chamada Garotas STEM), foi realizado um projeto nessa linha com foco nas meninas — embora também tivesse participação de meninos, mas em menor número.

Alunas do projeto de pré-iniciação científica na E.E Vitor Meireles (Foto: arquivo pessoal)

A iniciativa se estendeu também para outras escolas, atingindo outras estudantes do 9º ano ao ensino médio. Funcionava assim: as estudantes da E. E Vitor Meireles recebiam orientação presencial para oficinas de atividades diversas, que incluíam, por exemplo, construção de pontes com palitos  de sorvete, criação de animações com bonecos feitos a partir de massa de modelar e manipulação de Arduino — esta última, com auxílio de professores da Unicamp. Depois, elas mesmas repassavam as atividades para as colegas de outras instituições, por meio de encontros online.

————————————————

Leia também

Alunos pretos, pardos e brancos: desigualdade educacional que se mede em anos

Darcy Ribeiro: muito se teorizava e quase nada se praticava

————————————————

“A maior reclamação dessas meninas era a seguinte: elas só eram escolhidas para os projetos de redação, da área de humanas. E nunca eram escolhidas para a área de exatas. Por exemplo: para engenharia, para disputar feira de ciências, mostra de ciências etc. Então, quando elas foram escolhidas para fazer esse projeto, foi um ganho tremendo”, afirma a professora.

Eveliyn conta que, das meninas que participaram do projeto, há uma que seguiu para o curso de matemática e outra para a área de engenharia. 

Hoje, o projeto já foi finalizado e, em razão desta e outras iniciativas, a educadora foi convidada para integrar a diretoria de ensino da região Campinas Leste, em que é professora de desenvolvimento curricular em matemática. 

Eveliyn afirma que a posição atual permite que ela atinja mais escolas, estudantes e professores(as), levando o ideal de empoderamento das meninas na ciência para a diretoria de ensino.

 

Professor André Luís Malavazzi e professora Eveliyn Takamori com grupo de alunas do projeto que conquistou o 3º lugar na Mostra de Ciências do Instituto 3M (Foto: arquivo pessoal)

Dia das Mulheres e Meninas na Ciência

Em 2015, a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu 11 de fevereiro como o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Assim, a data passou a ser celebrada a partir de 2016, com o objetivo de fomentar a participação feminina na área.

——

Revista Educação: referência há 30 anos em reportagens jornalísticas e artigos exclusivos para profissionais da educação básica

——

Escute nosso podcast

 


Leia Olhar pedagógico

Learning,,Smiling,And,Creative,Young,Girl,Drawing,With,A,Colorful

Entre traços e tecnologias, o poder da escrita manual

+ Mais Informações
ONANO medalhistas

Medalhistas da 1ª Olimpíada Nacional de Nanotecnologia são premiados

+ Mais Informações
De bubuia com vovó Anica

Nove livros infantis de autores do Norte que valorizam a diversidade...

+ Mais Informações
Bahia,,Brazil.,September,18,,2020.,Translation:,Brazilian,National,High,School

Redação Enem: pandemia pode ser a causa do menor número de notas...

+ Mais Informações

Mapa do Site